sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Isso não tem preço

Ensaio 16B
baitasar
O siô Barros olhô no redó e fez cumprimento de despedida pras visita e os cativo da casa do Gaspar.
Saiu.
Quando pisô no chão da rua deu um grande suspiro, logo atrás, veio um gemido de vento silencioso, um murmúrio de aclamação do intestino lhe fez esfregá as mão de contentamento, enxergava qui a vila podia crescê com toda aquela data de chão e o erguimento das casa de moradia,  via tudo com as vista da gula, a terra não demorava pra  tê dono, É preciso correr atrás desse dinheiro. O siô misturava nos pensamento os assunto do comércio e o gosto de sê reconhecido, aprovava sê bajulado pelo dinheiro qui carregava no bolso, Isso não tem preço. Lembrô qui tem coisa na vida qui não se compra, por falta de preço. Prometeu, pra ele mesmo, Ainda paro com tudo e faço uma lista com as coisas que não têm preço, mas, antes, preciso...
Parô no meio do nada, queria lembrá onde andava, aonde ia, num breve instante, dormiu em pé, ali na rua, Não vou conseguir acordar desse sonho sem sono, tava com os olho aberto e não via as calçada, os calçamento, Será que eu me perdi, ninguém por perto, até qui se atinou, A rua da Praia.
Lembrô qui aquela rua havia de levá os pé té outro destino. Recomeçô o caminho. Andô pelo pelourinho, a marca da força dos branco, muito do sangue dos preto e preta se derramô ali, os choro das dô, as súplica silenciosa. O siô passô a mão pelo pelourinho como se tivesse acarinhando o couro fatiado pelo cipó. Outros preto já tava marcado pra conhecê a coluna de pedra. Depois veio a ponte do embarque e desembarque, desviô do beco do Pedro Mandinga. Olhô na frente, nos lado, quase se desvia e entra na rua dos Pecados Mortais, uma visitinha pra sua amiga Maria Cobra lhe passô pela vontade, mais as moça havia de esperá, Na volta, na volta. As menina não dorme cedo, nem é de duvidá qui passam as noite sem pregá os olho, fazendo graça qui acorda o mais desencantado.
Não podia, sem motivo de muita importância, deixá de aparecê na reunião da Irmandade. Não era homem de desculpa esfarrapada. Armô as perna com coragem de enfrentá subida té a Crista da Colina. Cuidava de não destorreá as bosta no caminho pisado, pras rua da beirada da praia não existia o fundo para calçamento. Esses recurso era destinado aos caminho dos esnobe, povoados por família requintada, gente qui chegô antes e se adonô do qui pode, Vou subir pelo beco do Fanha.
Nos passo qui dava não encontrava alma viva perambulando. A botica do Juca Curadô ficava no caminho. Passava por lá, lhe deixava o aviso da visita do Josino e a necessidade do unguento. Diziam qui ele cuidava de tudo, não tinha enfermidade sem algum remédio de cura ou diminuição da dô, o Juca cumpria sua missão de curá. O cura-tudo
—        Boa noite! — junto com o palavrório fez mesura da educação, no modo qui aprendeu de olhá os cumprimento pra siá Casta: inclinô a cabeça, segurando o chapéu, levemente
—        Boa noite, sinhô Barros Colombo! — o homem fez a mesma referência da cortesia, não tinha chapéu pra segurá, mais levo a mão té a testa. Os pensamento do boticário tava escancarado no jeito de olhá, Fidaputa, tá comendo bem, pensa que mudô muito porque saiu daqui, fodê a sinhá lhe abriu algumas portas, mas têm outras que nunca vão abrir.
Siô Barros gostava da vida na cidade, gente qui lhe tinha medo sem precisão de uso do relho. O respeito plantado com muito trabalho dos preto. Ele mesmo não agarrô uma enxada, nem a chibata, só precisô agarrá as carne da mocinha Casta
—        Amanhã, lhe mando o escravo Josino com um bilhete. Vai precisar unguento para as costas.
—        Pode deixá, sinhô Colombo, vou tratar do escravo como se fosse um dos negros da casa. Como é mesmo o nome desse seu negro?
—        Josino.
—        Isso, Josino. Não esqueço mais, pois, esse tal Josino, devia agradecê de tê um dono como o sinhô Colombo, preocupado com os ferimentos do couro. Aqui, na botica, se escuta muitas histórias que acontecem no mato.
—        São apenas histórias, Juca.
O boticário não pareceu disposto em perdê um ouvinte tão ilustre, com tanta fidalguia e cheiro de bosta
—        Pois, ontem mesmo, um padre noviço veio na botica, o rapaz cheirava boa-fé, mais corria atrás do donativo pra obra santa. Quando falô me desencantei, queria mais ajuda. Disse que a vila precisa das benção da Senhora, toda proteção contra os negro do quilombo é bem-vinda.
—        Não perca o sono por tão pouco, Juca. —    a voz entumecida do siô não fez o efeito de acalmá o boticário, tem vez qui o pesadelo é mais influente qui a vida, é quando rezá ou pegá nas arma é a mesma coisa, parece sê a única esperança, no entanto, esse engano custa mais qui a esperança, faz nascê o desapontamento, o desencanto, a desilusão e a desesperança desencoraja o sonho
—        Os negros do quilombo atacam os tropeiros, matam todos. — e caveira sem sonho credita em qualquer mentira, esquece de corrê atrás da vida, precisa a confiança da riqueza pra vivê, corre cheia de esperança atrás da fortuna e morre antes de morrê
—        São muitas léguas de distância.
O Juca Curadô enfiô os dedo da mão nos fio do cavanhaque, olhô na escuridão, té qui deixô escapá um queixume
—        O sinhô deve sabê que a légua grande ou a pequena não assusta escravo foragido. Esses fidaputa roubam as mulheres brancas pra escravizá. Imagine o apavoramento das moças, deitá com a negraria, fazendo nascê um mestiço depois do outro. Rezo pra Senhora não deixá essa imundícia acontecê com uma das minhas filhas, mato as menina...
—        Vosmecê mata sua filha?
—        Mato a filha e o mestiço na barriga... e vendo o negro, esses malditos... por que vieram pra essas terras... — parô de comentá, o siô Barros parecia distante dali, o entusiasmo não tava naquela prosa, caminhava na sua frente — ... a minha botica tá às suas ordens.
—        Amanhã, Juca... amanhã. — deu dois passo na frente, parô e virô, parecia tê esquecido algo — Boas noites, Juca Curadô!
O boticário lhe abriu um sorriso qui ficava tapado pelo vasto bigode amarelado acima do cavanhaque. A fumarada amarelenta do palheiro continuava entre os dedo
—        Boas noites, pra todos! Em especial, pra vosmecê, sinhô Barros Colombo.
O sinhô devolveu a cortesia com um leve cumprimento com a cabeça. Desvirô e recomeçô o caminho da reunião.
O Juca Curadô, no interesse de mostrá cuidado, fez o último comentário das despedida
—        Cuidado com os negros que ficam disfarçados na escuridão. Esses fidaputa são feitos com carne e osso, mas não têm piedade.
—        Deixa estar, Juca.
O nariz voltô pra frente, queria senti o faro pro seu destino: as conversa de atraso na obra santa. Não tinha na vontade nenhum apetite naquele abocamento de donativo, Se essa ajuda me fosse de alguma ajuda, não conversava mais com a siá Casta sobre esse desperdício do Josino e dos donativo. Tentô uma ou duas vez, mais a siá Casta lhe afirmô qui a família ajudô construí quase tudo na vila, não podia deixá de ofertá préstimo de favô pra sua Senhora. Era melhó não mexê nisso, Merda de perda de tempo, se não for preciso alongar as conversas da reunião que ninguém se meta a besta, essa noite ainda pode render com a passada no covil das putas.
O siô tinha muita estima pela casa da Maria Cobra, um lugá de tá sem preocupá qui tá. Ela mesma, já tinha lhe servido da sua taça, sabia, como nenhuma das moça, usá com dedicação as própria carne, conquistava pela perfeição como atinava com as vontade do correntista, Se a dona Casta pega umas aulas com a Maria...
Mais o tempo, nesse negócio da putaria, é rápido, o gosto pode ficá enjoativo. É só desapegá um pouquinho, e pronto, a vontade desgruda, Se a dona Casta parasse com a cisma de tê um filho...
Caminhava nas rua vazia, desencantada de gente, por certo, a siá Casta haveria de desaprová o esposo caminhando naquelas horas. Gente de bem não tinha razão nem motivo de colocá o olho na rua, tão tarde do anoitecê, menos ainda, levá os pé té a calçada. Era na noite qui a ralé brilhava com suas cantoria, fazia conversa de algazarra, Marido, foi essa gente que inventou o falatório e a feitiçaria. O siô sonhava com os falatório, a desordem do sossego, as feitiçaria, a bebida destilada, as puta, Não se preocupe, dona Casta, sei onde piso. Ou deveria ter dito, sei onde me enfio com os cravo e a ferradura.
Era preciso corrê mais qui o tempo, do contrário não ia tê o tempo qui queria com as moça da Maria Cobra.

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