A voz do poeta
Sou poeta e ansiava o futuro... ressuscita-me!
MAïAKOVSKI, ELSA, ARAGON. Ils se sont rencontrés à Paris
A ESPERANÇA
Injeta sangue
no meu coração,
enche-me até o bordo
as veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até o fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
não
vivi o meu bocado de amor.
Eu era gigante de porte,
Mas
para que este tamanho?
Para tal trabalho bastava uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu o farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar
guarda.
Posso, se vos agradar,
servir-vos
de porteiro.
Há, entre vós, bastantes porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os
dentes vos mostrarem
não é senão para vos morder
ou dilacerar.
O que quer que aconteça,
nas
aflições,
pesares...
Chamai-me!
Um sujeito engraçado
pode ser útil.
Eu vos proporei charadas, hipérboles
e
alegorias,
malabares dar-vos-ei
em
versos.
Eu amei...
mas é
melhor não mexer nisso.
Te sentes mal?
Tanto
pior...
Gosta-se,
afinal, da própria dor.
Vejamos... Amo também os
bichos —
vós
os criais,
em
vossos parques?
Pois, tomai-me para guarda dos bichos.
Gosto deles.
Basta-me
ver um desses cães vadios,
como aquele de junto à padaria,
um
verdadeiro vira-latas!
e no entanto,
por
ele,
arrancaria
meu próprio fígado:
“Toma, querido, sem cerimônia, come!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário