Ossaim
Reginaldo Prandi
Ossaim dá uma folha para cada orixá
Ossaim,
filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Euá, e Obaluaê, era o senhor das folhas, da
ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da
vida. Todos os orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer
mal do corpo.
Todos
dependiam de Ossaim na luta contra a doença.
Todos
iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava
preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as
disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos
corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de
todos os males.
Um
dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam
compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.
Xangô
sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás.
Mas
Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros orixás.
Xangô
então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as
folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás.
Iansã
fez o que Xangô determinara.
Gerou
um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção
ao palácio de Xangô.
Ossaim
percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê uassá!”.
“As
folhas funcionam!”
Ossaim
ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens
de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavam em
poder de Xangô perderam o axé,
perderam o poder de cura.
O
orixá-rei, que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim.
Entendeu
que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia
permanecer através dos séculos.
Ossaim,
contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seu ofós, que são
as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam.
Ossaim
distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles
também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele
guardou para si.
Ossaim
não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala.
Fala
por ele seu criado Aroni.
Os
orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
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Leia também:
VII – Mitologia dos Orixás: Otim [69]IX – Mitologia dos Orixás: Iroco [79]
Reginaldo
Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de
São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e lendas
afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi,
Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro
Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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