Ensaio 29B
baitasar
Mi
fioneto, quem manda, por qui manda e como manda, sempre desinteressô essa preta
velha, não sabia qui não sabê ou não querê sabê, fazia as coisa ruim ficá mais
errada e triste, e as coisa boa só contecê pro patrão e os muito amigo dele.
Dos conhecido pra baixo, não sobra ninguém qui não tem reclamação pra fazê do sinhozinho,
o dono dos criado. Mais qué sabê, mi fioneto, pió qui não sabê é sabê errado, é
se informá com os informante do patrão. Cada palavra qui sai do esconderijo - na
garganta do enganadô das notícia - tem o mesmo caso pensado: botá na cabeça dos afoito desprevenido o
conhecimento enganado, veneno qui mata aos pouquinho. É trabalhoso separá os
bão das erva daninha, tem qui pensá no qui vê e no qui não vê, escutá o qui
ouve e o qui não ouve, sê um bão ouvidô. O silêncio dos informante enganadô é o
desenho da sua obediência. Eles só grita quando o patrão deixa, esconde os
grito qui o patrão não qué escutá. Todo mundo tem patrão, não esquece, uns
obedece mais qui os outro, mais ninguém deixa de obedecê, se deixá de cumprí as
ordem tem qui sê castigado, tá escutando mi fioneto, Tô... a Avó não vê que tô
no trabalho de cobrador das passagens, Ocê pensa qui sabe, mais o qui ocê sabe
pode tá errado, ocê precisa conversá sobre o qui tá descobrindo, pra podê
escutá, fazê o balanço dos conhecimento da própria cabeça e as notícia qui tá
fora da cabeça, ocê tá me escutando, Tô, mas a Avó tem qui saí da roleta, Bobagem,
tu mais parece com os preto do tempo do Josino, contando o numerário da riqueza
pros dono branco, pelo menos, os preto da escravidão não tinha muita escolha:
aceitá as marca da chibata e seguí vivendo té onde podia, ou fugí, ou roubá, ou
matá, ocê tem a esperança da escola, Exagero seu, a Avó tem esse costume de
abusá na quantidade do despropósito, Pois só paro as incomodação quando ocê
prometê saí desse serviço e voltá estudá, Preciso dá no jeito de vivê: anão,
preto e pobre, não tem muitos convites, Pois fica pió se não estudá, A Avó tá
sentada na mesa do troco, preciso fazê minha obrigação, A sua obrigação é
terminá os estudo, sê alguém preto na vida, incomodá os branco com a sua brilhantura
e mostrá pros preto qui dá de conseguí, Vô pensá, vô pensá. O carro dos
passageiro já começava ficá com mais movimento da entrada qui da saída, O mi
fioneto qué ouví o fim da história do Josino, A Avó vai parar se eu fizé
pedido, Não, Então, por que a Avó pergunta, Educação, mi fioneto, educação não
qué dizê consideração demasiada, tem coisa qui é preciso dizê e ocê precisa
escutá
— O sinhô Padre chamou?
O
padre se virô, tava na acomodação precária daquela sacristia em construção, um
lugá qui precisava sê dentro, mais qui no tempo do erguimento tava fora da
igreja. Um lugá de guardá os enfeite, as roupa da missa e o vinho. Ele tomava o
cálice nas mão com o vinho qui era seu costume bebê, antes ou depois do almoço,
tinha vez, qui tomava nas duas vez, antes e depois. O vinho lhe era gracioso e
uma dádiva tê sido ajuntado à imagem do Siô Menino Deus, mais certo dizê,
misturado no sangue do Siô da Cruz, assim, ele podia juntá o útil ao agradável.
O
tomadô do Vinho Santo não tinha cisma nem vacilação qui o Siozinho foi espetado
na Cruz, nem tinha desconfiança de creditá nas palavra do Fio de Deus: o
sofrimento é o Caminho da salvação, A Avó não acredita, Queria sabê onde foi os
preto qui morreu de apanhá, fome, adoecê e não tê cuidado de ajuda, Deve de tá
tudo no céu, Um paraíso só de preto, Não, o Paraíso é um só, Hum... a mão qui
segurô a chibata tá no mesmo Paraíso dos preto... hum... vantajoso isso, será
qui tem escravo no Paraíso
O
siô padre ofereceu um cálice do seu vinho. O visitante agradeceu e estendeu a
mão. A fama da gostosura do vinho do padre precisava sê apreciada
— Na verdade, sinhô Ouvidor-Geral do Governador, não chamei ninguém, fiz um pedido de audiência com sua Excelência.
O
ajudante das ordens dada pelo governadô, com as tarefa de também escutá as
reclamação de toda província, e mui especial, escutá as gente de importância da
Vila, não se incomodava ou importava, qui no fim das coisa é igual, com as
reclamação do reclamante de querê falá nos ouvido do governadô sem a
intermediação do ouvidô. Sabia qui era assim, não se desgostava de não tê interesse
pra quem protesta, mais aos poucos, ele mesmo, ia resolvendo os caso com decifração
mais fácil, sem precisão do entendimento do governadô. Ele era o secretário
negro do governadô, qui pouca gente ou quase ninguém soube, filho de uma
escrava forra com um oficial da cavalaria do exército imperial. Um pardo qui
podia escolhê sê preto ou dizê sê branco, de acordo com as conveniência
— Sinhô
Padre, não quero parecer pretensioso nem desaforado, na verdade, fui nomeado os
olhos e ouvidos do Governador, enquanto sua Excelência se mantém afastado, por
motivo de repouso, e, se ele assim o quiser, fala através de mim.
Subiu
o cálice com o vinho qui tinha na mão té o nariz, fungô dum lado e otro, depois
olhô firme a aparência da tintura e levô à boca o enfeite de sangue da missa. O
padre repetiu a parte de levá à boca. Tomô um trago, depois, parecendo mais
aliviado, retomô o começo da conversa
— Essa sua tarefa me parece um grande
desafio, uma imensa confiança.
O
pardo não se apressô em respondê, continuava com o vinho na boca, apreciava o
gosto. Fechô as vista enquanto empurrava a existência duma bochecha à otra, té qui
engoliu em silêncio, solitário.
Abriu
as vista, parecia tê gostado
— É justa a fama que tem o vinho do sinhô
Padre.
O
siô padre mediu o pardo pelo conhecimento do vinho, não era um qualqué, tinha
gosto e confiava nele mesmo, sabia escutá o gosto do céu da boca. Não respondeu
ao elogio. Ficô quieto, sabia qui o ouvidô não tinha terminado de dizê o qui
queria dizê
— Quanto a mim, sei que não sou feito o
vinho, uma bebida romântica, não sou sonhador, me contento em ter a utilidade
da água e não desperdiçar a fé do Governador. Parecido com o sinhô Padre, que
não pode enfraquecer a Fé no trabalho do seu Sinhô.
O
siô padre achô qui tinha chegado à encruzilhada da confiança: se tem confiança
ou não se confia. A confissão é uma confiança qui os ouvido do siô padre faz
escutação direta da falação do penitente com os ouvido do Siô da Cruz. Um jeito
de ajudá o Siozinho, qui foi pregado pra modo de sê escutado, entendê as
maldade feita: a chibata, a fome, a salmoura nas ferida, as corrente, a
fogueira, a estupidez, o ódio da cô. Todo domingo tem arrependimento
— E o sinhô Ouvidor-Geral tem alguma ambição
que gostaria de realizar?
O
pardo estendeu o braço com o cálice na mão. O siô padre tornô a tirá a rolha da
boca da garrafa e, desta vez, encheu o copo da visita
— O sinhô Padre é mui generoso. Obrigado.
Eu tenho a vontade de chegar a ver de perto a Nossa Majestade Imperial, seria
estar perto, bem perto, do pai que não tive, entreouvir ou lamentar o
sentimento prazeroso de conhecer meu pai.
O
siô padre precisô se acautelá pra não saí do seu costume de tomá só um cálice
do vinho
— E o arrependimento, o sinhô tem algum
arrependimento que pudesse falar?
O
vinho empurrado duma bochecha té a outra, voltava e ia, té qui ia descendo
— Não chega a ser um remorso, mas não atendi
o chamado que achava ter escutado.
O
siô padre não resistiu à vontade de serví o seu cálice, tem vez qui o sangue
fala mais alto e ocê repete aquilo qui jurô não respetí, inda bem, qui nas
domingueira existe o modo de podê fazê da lamentação um sinal de arrependimento
— E que chamado foi esse?
O
pardo estendeu o braço com o cálice na mão, novamente. O siô padre retornô a
tirá a rolha da boca da garrafa e, otra vez, encheu o copo da visita. Fez o
mesmo com o seu cálice, afinal, nada melhó qui bebê com os amigo. O vinho
aproxima as vontade e destrava a coragem
— Não cumpri o chamado que achava ter
escutado para ser padre.
O
vinho não parava mais nas bochechas, descia direto da boca té a garganta,
continuava descendo té subi pra cabeça
— Bem, isso é uma surpresa.
As
bochechas avermelhadas, o hálito quente, a euforia
— E por que não atendeu ao chamado?
O
pardo não sabe se qué confessá o pecado da traição: um peso a mais, um peso a
menos, não ia mudá a força qui tinha qui fazê pra continuá indo em frente. Talvez
fosse o vinho, ou não, ou a fala mansa do siô padre, pode sê qualqué coisa qui
ocê acha de dizê qui é, e ele se confessô
— Acho que o chamado não foi suficiente e
claro. Por outro lado, o chamado das mulheres não deixava dúvidas, convincente
e insistente. Fiquei com a convocação das mulheres. E o sinhô Padre nunca teve
esse chamado?
O
confidente levantô, como se algum vestígio desse tempo tivesse batendo na sua
porta das memória, deixô o graal sobre a mesa, caminhô té a porta da sacristia.
Os trabalhadô escravizado subia e descia com as pedra e as madeira, o vinho
escorria das costa
— O sinhô não acha uma bobagem criar nos
padres a doença da castidade?
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