Orixá Ocô
Reginaldo Prandi
Orixá Ocô cria a agricultura com a ajuda
de Ogum
No
princípio, havia um homem que se chamava Ocô. Mas Ocô não fazia nada o dia
todo, não havia o que fazer, simplesmente. Quando os alimentos escassearam na
Terra, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações. Que plantasse inhame,
pimenta, feijão e tudo o mais que os homens comem.
Ocô
gostou da sua missão, ficou todo orgulhoso, mas não tinha a menor ideia de como
executá-la. Até que viu, debaixo de
uma palmeira, um rapaz que brincava na terra. Com um graveto ele revolvia a
terra e cavava mais fundo. Ocô quis saber o que fazia o rapaz.
“Preparando
a terra para plantar, para plantar as sementes que darão as plantas”, explicou
o rapaz de pele reluzente.
“Que
sementes, se nem plantas ainda há?”, perguntou incrédulo, Ocô.
“Nada
é impossível para Olodumare”, foi a resposta.
Começaram
então a cavar juntos a terra.
O
graveto que usavam como ferramenta quebrou-se e passaram então a usar lascas de
pedra. O trabalho, entretanto, não rendia e Ocô saiu à procura de alguma
maneira mais prática.
Outro
dia, quando Ocô voltou sem solução, o rapaz tinha feito fogo, protegendo-o com
lascas de pedra. Viram então que a pedra se derretia no fogo. A pedra líquida
escorria em filetes que se solidificavam.
“Que
ótimo instrumento para cavar!”, descobriu efusivamente o inventivo rapaz.
Ele
pôde então usar o fogo e fazer lâminas daquela pedra, e modelar objetos
cortantes e ferramentas pontiagudas. Ele fez a enxada, a foice, e fez a faca e
a espada e tudo mais que desde então o homem faz de ferro para transformar a
natureza e sobreviver.
O
rapaz era Ogum, o orixá do ferro.
Juntos
revolveram a terra e plantaram e os alimentos foram abundantes. E a humanidade
aprendeu a plantar com eles. Cada família fez a sua plantação, sua fazenda, e
na Terra não mais se padeceu de fome.
E
Ocô foi festejado como Orixá Ocô, o Orixá-da-Fazenda, de plantação, pois
fazenda é o significado do nome Ocô.
E
Ogum e Orixá Ocô foram homenageados e receberam sacrifícios como os patronos da
agricultura, pois eles ensinaram o homem a plantar e assim superar a escassez
de alimentos e derrotar a fome.
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Leia também:
IX – Mitologia dos Orixás: Iroco [79]XI – Mitologia dos Orixás : Orô [89] [90]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do
Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a
Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o
Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida
assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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