quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Ocê não pensa os pensamento da alforria?

Ensaio 28B
baitasar
Na manhã seguinte, bem cedinho, muito antes do calô abrí os braço e a claridade desabotoá as vista pra olhá essa esquina do mundão, o Josino já tava alevantado, qui deitá com as costa ardendo não dá gosto. Saiu na procura do mandigueiro Pai Velho.
Não queria assuntá com a ajuda de branco, passô longe da botica farmacêutica. As marca da chibata do Capitão, no mando do siô Menino, era pouca coisa, uma gentileza, se fosse inventariá os castigo usado pra dobrá as vontade dos negro e fazê valê as decisão de capricho dos dono da casa grande. Não queria alívio de branco pra ferida de branco.
Das machucadura qui carregava mais doía era o lanho da saudade da sua Milagres, a preta dos seus encanto, Tem dia qui a tristeza fica maió, Pai Velho, é quando sô derrotado denovo denovo e denovo, só queria uma vez não perdê e ficá  de namorice com a minha preta, podê acordá com a doçura do perfume  e o calô da muié benquerê, sê o seu homem qui cuida de fazê o tempo passá, sê o homem qui segura as ventania com as mão do sossego, sê quem assopra na suas folha a frescura, sentí o encorajamento do seu olhá qui movimenta umas tremura de arrepio aqui ali mais lá, té qui vem fresca a calmaria, sê o amô qui aviva o braseiro, qui encoraja e cochicha: Quero sê muitos homem de amô pra ocê, té qui a língua lhe entra na orelha: molhada atrevida sem comedimento.
O mandigueiro Pai Velho continuava sentado em seu banquinho, pés no chão, fumando o cachimbo de barro, escutando, benzendo, rezando, humilde. O Josino fungô o desencontro daquele seu amô com a vida. O mais velho resmungava qui viajô o tempo das suas memória da existência por esse mundão de escravo, muitas vida ia chegá e parti, antes de acabá a serventia das corrente nas canela preta e nos coração de gente, té depois de acabada a serventia de tê as canela preta agarrada uma na otra,  os preto ia continuá com incubência de atendimento, Me fio, tem precisão de juntá as luta qui passô com as luta qui faz hoje, juntá os preto qui se foi com os preto qui tão por aqui, e lutá as luta do amô, ele qui une tudo, faz grudá as pessoa. O amô é a vida, ele é o mestre dos elemento da natureza qui faço uso nos benzimento, ajoelha, me fio .
O Josino dobro as perna, fincô os joelho desembarcado do navio negreiro, no terreiro da mãe terra, fez silêncio e esperô as reza, té qui o mais velho começô suas cantoria de resmungação com pedido e oferecimento. Ele sentiu qui a terra se abriu e lhe enraizô as carne, ajuntô as ponta da sua vida, e da terra saiu brotando mais vida, os preto da vida inteira, Pai João d’Angola com sua ternura, sentado no tronco ele benze esse preto Josino, a estrela de Oxalá seu ponto vai iluminá, ele é Pai João d’Angola, nosso protetô.
As reza alivô a alma. As erva e o unguento descarregô as ardidura das costa do Josino. Agradeceu o Pai Velho e saiu. Tinha qui chegá no tempo de começá os serviço do dia na obra Santa. Na volta da benzedura, parô pra dizê uma qui otra palavra com o preto Prego, sapateiro de mão cheia da loja do siô Joaquim. Era preto trabalhadô nos conserto das botina, mais a paga dos serviço ficava com siô Joaquim, ele dizia não sabê de negro querê sê gente, O negro Prego devia agradecer os meus sentimentos de humanidade e patriotismo, por lhe ter dado alforria dos quefazer campeiro nas estâncias, de mais a mais, negro não pode ter ganho, imagina ser dono de loja, vai querer parecer gente!
O siô Joaquim acreditava na sua generosidade, ensinava o fio sê benevolente quando pudesse, mais fosse sempre firme, As rédeas sempre curtas, que o animal pode querer atropelar! Mais evitava de tê essas conversa com a siá Maria Letícia, esposa do siô Joaquim, por pedido da própria, não queria sabê de nada qui pudese lhe entristecê o olhá, desfazê o sorriso, queria aliviá o peso das pegada no chão, não queria sabê das história de aflição na sua volta
—        O Josino chegô quando? — os trabalho na Vila podia parecê mais ameno qui nas estância, mais não deixava muito de qualqué alegria do bem vivê
—        Já faz algum dia.
—        Vai ficá pra tomá uma caneca de café? Já tá na quentura do gosto... — o preto Prego fungô e fingiu sentí o aroma do pretinho saboroso. Esse era um dos seus gosto de vivê. Não tinha muitos mais. Otro gosto era consertá os solado das botina, desfazê o descuido com as roupa do pé, enfeitá as vestimenta de couro enfraquecida pelo uso
—        Um golito bem pequeno, pra não acostumá o gosto com as coisa boa.
—        Deixa de bobice, Josino. As coisa boa quando vem é pra deixá o sangue mais forte, fazê os pé continuá os caminho, medicá as cicatriz com a terra.
A mulata da mestiçagem Adelaide entrô na loja, vinda dos fundo da casa, com uma caneca nas mão. Era a muié qui o siô Joaquim tinha dado pra consolo de esposa e arrumadeira da casa do preto Prego. O aroma e o vapô qui subia, sumia nos gole do Josino. A muié tinha apelido de Contagotas, depois do nome de batismo, já qui, pelo visto, a mulata ia escurecê a cô em conta-gota, devagarinho
—        Ocê não pensa os pensamento da alforria?
 Preto Prego levô a caneca té a boca, bebeu o gole qui queria, saboreô o gosto antes de sentí o amargo das palavra qui tinha pra dizê, estendeu de volta a caneca pra visita
—        Aqui, o siô Joaquim não aprova donativo de qualqué coisa, o serviço feito tem valô só pra ele. Não tenho herança pra recebê, não tenho o qui juntá, não sô nem vô sê preto forro.
Otro gole, otro silêncio pros pensamento pensá, té continuá a prosa deu tempo da caneca voltá nas mão do Prego
—        Ouvi de escutá conversa do siô Joaquim com siá Maria Letícia qui tão pra nomeá capitão-do-mato pra Vila.
—        É perda de tempo, esses branco não entra nos quilombo. Eu mesmo, qui fique reservada nossa prosa de amigo, to pensando, mais a Milagres, corrê pras serra de Tapes.
O preto Prego baixô inda mais a voz e as vista no chão
—        Ocê tá loco! Morre da distância...
—        Se decidi qui vô, ninguém me segura.
O otro fez menó o tamanho da voz, queria fazê murmúrio qui fica longe dos ouvido curioso
—        Mais parece, qui o capitão, desta vez, vai sê um negro, com promessa de ficá forro se cumprí a entrega dos preto dos quilombo e fora deles.
Josino encolheu os ombro
—        Cada um acha o seu jeito de vivê.
A caneca esvaziô e os assunto tinha se dito da boca de um pro otro.    O sol já começava se mostrá mais forte, era o tempo de corrê té a obra Santa. Chegá antes do encarregado das ordem do dia
—        Preciso continuá indo, Prego.
—        Qui a proteção dessa casa acompanhe o amigo.
Depois das despedida caminhô na direção das obra, indo pelas descida té dobrá na rua da Praia. Ia alarmado com o tempo de atraso e com a confissão qui fez pro preto Prego. Não devia tê dito o que foi dito: as parede tem orelha pra modo de escutá o qui não lhe é devido. De qualqué maneira, se a vontade não fosse diminuí, havia de fazê as trama da fuga e os plano da sobrevivência té chegá no aquilombamento.
No trajeto encontrô uns preto na volta dum homem soldado de pulícia, ele pregava no poste da luz um aviso: Fugiu! Um escravo de Joaquim Pereira Reis, morador da Vila, há mais de mês se acha ausente de seus senhores, bem falante, intitula-se forro. O seu nome é Josué, estatura média, expressiva cor preta. Quem o trouxer a seu senhor ou dele der notícias exatas, será gratificado.
Josino não sabe se parô muito ou pouco, mais torceu qui o homem fugitivo nunca mais fosse escravizado. Havia de encontrá quem lhe pudesse ajudá nas tramoia de fuga. Pensô qui não adiantava fazê compra de alforria se o compradô depois da compra diz qui não deu alforria, Bem se faz, quem foge e enfia a cara nos mato, vai atrás dos aquilombamento. Depois de lido o publicado, o homem soldado desbaratô os apinhado na sua volta
—        Ei ei ei, xô... vamos desmanchar esse ajuntamento de criolos. Os nascido aqui não tem privilégio dos negro chegados de navio.
O Josino retomô o caminho da obra Santa, caminhava e rezava os pedido de proteção pro preto fugitivo, Espero qui vá pra bem longe, na proteção do guerreiro Ogum e do caçadô Oxóssi.
Chegô depois qui os serviço tinha sido conferido e espalhado entre os negro escravo da obra. Precisô escutá conversa de chateação
—        Já tava indo comunicar do seu desaparecido.
—        Fui atrás do unguento e alívio das ardidura do castigo sem razão.
O encarregado lhe enfiô as vista, viu as costa marcada, balançô a cabeça e resmungô, Como querem que acabe a obra se o chicote não descansa, encarô o Josino
—        Vô lhe perguntá como fiz com os negros que já estavam aqui.
—        Pois pergunte...
—        Como foi que as doações do dia antes de hoje ficaram na metade do contado?
—        Por que eu havia de sabê? 
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