Obaluaê –
Omulu – Xapanã - Sapatá
Reginaldo
Prandi
Obaluaê
desobedece a mãe e é castigado com a varíola
Obaluaê
era um menino muito obediente.
Um
dia, ele estava brincando perto de um lindo jardim repleto de pequenas flores
brancas. Sua mãe lhe havia dito que ele não deveria pisar as flores, mas
Obaluaê desobedeceu à sua mãe e pisou as flores de propósito. Ela não disse
nada, mas quando Obaluaê deu-se conta estava ficando com o corpo todo coberto
por pequeninas flores brancas, que foram se transformando em pústulas, bolhas
horríveis.
Obaluaê
ficou com muito medo.
Gritava
pedindo à sua mãe que o livrasse daquela peste, a varíola. A mãe de Obaluaê lhe
disse que aquilo acontecera como castigo porque ele havia sido desobediente,
mas ela iria ajudá-lo.
Ela
pegou um punhado de pipocas e jogou no corpo dele e, como por encanto, as
feridas foram desaparecendo.
Obaluaê
saiu do jardim tão bom como quando havia entrado.
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Omulu cura
todos da peste e é chamado Obaluaê
Quando
Omulu era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o mundo para
fazer a vida.
De
cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo seus serviços, procurando
emprego. Mas Omulu não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém
lhe empregava. E ele teve que pedir esmola, mas ao menino ninguém dava nada,
nem do que comer, nem do que beber.
Tinha
um cachorro que o acompanhava e só.
Omulu
e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras.
Omulu
comia o que a mata dava: frutas, folhas, raízes. Mas os espinhos da floresta
feriam o menino. As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo. Omulu ficou
coberto de chagas. Só o cachorro confortava Omulu, lambendo-lhe as feridas.
Um
dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz:
“Estás
pronto. Levanta e vai cuidar do povo”.
Omulu
viu que todas as feridas estavam cicatrizadas. Não tinha dores nem febre.
Obaluaê
juntou as cabacinhas, os atós, onde
guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu a
Olorum e partiu.
Naquele
tempo uma peste infestava a Terra.
Por
todo lado estava morrendo gente. Todas as aldeias enterravam os seus mortos. Os
pais de Omulu foram ao babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele
traria a cura para a peste. Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu.
Todos
esperavam-no com festa, pois ele curava.
Os
que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura.
Ele curava todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na
mão uma folha de dracena, o peregum,
e pintando a cabeça com efum, ossum e
uági, os pó branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos.
Curava os doentes e com o xaxará
varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas
da família. Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de
coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu certo, o xaxará.
Quando
chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes. Todos cantavam e
louvavam o curandeiro e todos o chamaram de Obaluaê, todos davam vivas ao
Senhor da Terra, Obaluaê.
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Leia também:
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do
Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a
Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o
Trovão; Oxumarê, o
Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida
assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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