Oxumarê
Reginaldo
Prandi
Oxumarê
desenha o arco-íris no céu para estancar a chuva
Conta-se
que Oxumarê não tinha simpatia pela Chuva.
Toda
vez que ela reunia suas nuvens e molhava a terra por muito tempo, Oxumarê
apontava para o céu ameaçadoramente com sua faca de bronze e fazia com que
Chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-íris.
Um
dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou. Chamou Oxumarê, que da
cegueira o curou. Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão e não
permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar.
Para
ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele, e que só de vez em
quando viesse à Terra em visita, mas só em visita.
Enquanto
Oxumarê não vem à Terra, todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze,
sempre se fazendo no arco-íris para estancar a Chuva. [109]
Oxumarê fica rico e respeitado
Oxumarê
era um babalaô que atendia o rei de Ifé.
Porém
não era um homem de fama, não tinha riquezas nem poder. Sentia-se humilhado,
como humilhado vivera seu pai, conhecido pelo nome de Senhor-do-Xale-Colorido.
Oxumarê estava triste e foi consultar um adivinho. Ele ensinou-lhe um ritual
para tornar-se rico e poderoso. Deveria oferecer uma faca de bronze e quatro
pombos, bem como oferecer búzios em boa quantidade.
Oxumarê,
obediente, pôs-se a fazer a oferenda, mas, nessa mesma hora, o rei mandou
chamá-lo. Oxumarê recusou-se a atender à ordem, dizendo que iria depois de
terminada a cerimônia. O rei ficou enfurecido com a ousadia e deixou de pagar
uma dívida a Oxumarê.
Quando
Oxumarê retornou à sua casa, recebeu um chamado de Olocum, rainha de um país
vizinho, que necessitava de sua sabedoria para a cura de seu filho. Ifá foi
consultado por Oxumarê, que fez as oferendas necessárias e curou o filho de
Olocum. Em gratidão ela ofereceu-lhe riquezas, cavalos, escravos e um lindo
pano azul.
Retornando
à casa com um inestimável tesouro, Oxumarê foi saudar o rei, que muito se
admirou ao ver a opulência do babalaô antes tão pobre. Quis saber sobre os
presentes recebidos.
Oxumarê
contou da cura do filho de Olocum. O rei, que tinha uma rivalidade nata com
quer que fosse, não queria ficar abaixo de Olocum. Então ofereceu a Oxumarê uma
roupa vermelha muito preciosa e muitos e muitos outros presentes.
Foi
assim que Oxumarê tornou-se rico e respeitado.
[110]
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Leia também:
XIV – Mitologia dos Orixás: Obaluaê – Omulu – Xapanã - Sapatá [97] [98]XVI – Mitologia dos Orixás: Euá [114] 115]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do
Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a
Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma
brasileira; Morte nos búzios; Ifá, o Adivinho; Xangô, o
Trovão; Oxumarê, o
Arco-Íris; Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida
assombração; Jogo de escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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