quinta-feira, 6 de março de 2014

Dona Cila

Maria Gadú


Num tempo de intolerância qui cresce é preciso sentá pra conversá. Tem outro jeito de sê, mais vai chegá o tempo de virá lembrança. Depois pó. É mais melhó sentá e conversá. As pessoa pode escolhê as lembrança do desprezo ou bajulação pra deixá espalhada no mundaréu. Ou escolhê as lembrança do amô. É assim: enquanto uns vai, otros vem. O roçado novo toma o lugá do plantado mais antigo, té qui tudo vira pó ou barro pros agricultô. E ocê qué enraizá o quê? A boniteza da vida qui se precisa vivê? Uma vida com os mistério da cantoria e das poesia? As minha lembrança da vida tem cantoria, aroma da feijoada, cheiro da boca, gosto do beijo, as vista doce, as mão carinhosa, os cabelo arrumado, perfumado. Tê medo não é vivê. É bão não esquecê qui o sonho não é da vida é d'ocê. Cuidado pra não dormí e só acordá depois qui a vida tivé passado. Um beijo da Avó.





Dona Cila
Maria Gadú


De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh'alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé

Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto

Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé

Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um manto a ela, que ela me benze aonde eu for

O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim


Composição: Maria Gadú



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