mulheres descalças
a siá dona de quase tudo e qui durumiu apartada do marido continuava vazia e parada no mesmo lugá da porta aberta. no quarto do siô pedro francisco num se rezava, mais munta veiz se blasfemô. a boca da siá maria carolina tava rachada na vontade de blasfemá ou rezá. os óio odiava, mais fingia qui num odiava. num podia odiá de frente, aprendeu odiá de lado ou pelas costa. uma muié na posição qui ela queria tê num diz o qui pensa nem o qui sente. os ouvido espera as resposta pra purugunta qui nunca faz. parecia uma cobra toda enroscada esperando um descuido pra fazê alguém pagá sua danação e desapontamento
oiava oiava e oiava, a cabeça erguida, a respiração toda retesada, parecia querê tê mais certeza das desconfiança. queria atá as ponta dos pensamento cismado: oiô a trôxa branca com as rôpa usada da cama qui ela quis usá e num usô, e qui ninguém se atreva dizê qui foi falta de capricho ou animação de querê menos da siá. ele fez gosto e se preparô pra experimentá o gosto. ficô com a vontade qui num foi comida
a trôxa branca toda embolotada feito um caroço. era só desatá o nó pra vê o qui foi feito na cama do siô pedro, mais precisava tê atrevimento, birra e valentia pra desatá a trôxa branca e atá as ponta dos nó das desconfiança. suportá vê e sentí o faro. falá em fazê é fácil – falá sempre é mais fácil qui fazê. fungô fundo, preparô uma cara feia pra despachá tudo qui precisava despachá, soltô a ventania presa nos peito redondo e piquininino, ventos proféticos no jeito de vê da siá, Este quarto está catinguento! Abra bem a janela!
e foi isso
é verdade, o quarto num tava com os chêro da flô do campo, chêrava baobá: o suô e o gozo da vida qui esparrama os nome e as crença da terra com as raiz livre do otro lado da estrada das água. cada baobá é as semente qui veio trazida sem querê – à força – pra saciá a sede da maldade, egoísmo e preguiça do lado de cá
os baobá no começo num queria tá aqui, num queria sê daqui, num queria espaiá as semente e os sabê dos pretu livre: cada pretu é um baobá, cada preta é uma baobá, qui insina as dança, bafeja as cantoria, inspira as reza, festeja a vida com as contação das história dos véiu prus piquininino
as gente qui qué aprendê as história do baobá precisa colocá atenção de escutá com os ouvido no chão purqui o baobá tem a boca na terra e os pé no céu, mais isso é otra história e se o baobá querê ele mesmo conta. ele nunca faz os pretu esquecê – só esquece quem num qué lembrá – ele faz os pretu durá
eu sô uma baobá qui vai durá
as parede do quarto ainda parecia tá amarrotada com os aperto das mão nas carne das coxa preta. a sobrecama ainda tava arrepiada com as mordida no pescoço. o colchão das pena de ganso ainda tava moiado do suô e das chupada do trepadô dono de tudo. afobação, tremura e descuido obrigava o quarto do siô pedro gozá muntu ligêro, Não descola o rabo... não descola... negra do diabo... não descola o rabo.
ainda sentia as dô da força maió qui a necessidade. muntu mais força qui vontade
desapertei os braço e desagarrei da rôparia nova sobre a cama. fui inté a janela e abri toda qui dava. lá fora, tava a povoação de roça, o trapiche dos barço, oiêi prus lado da arsenal, depois pru portão, as ponte sobre os arroio piquinino qui cortava a villa levava e voltava de gente. os lampião com azeite de peixe apagado. uma qui otra carreta de boi já cruzava as rua. nehuma cadêra piquinina de carregá gente rica da villa – a povoação é de roça, mais tem gente rica qui vive das desgraça dos pobre. aproveitadô num falta em todo lugá. os salcêro na beirada do rio, os maricá e as unha de gato. as rua suja. ninguém se importava em limpá ou num sujá. o calô muntu forte nos tempo de calô, faz ocê se derramá em suô; o frio muntu gelado e moiado nos tempo do frio, faz ocê se rachá e adoecê de tosse
a preta com o tabulêro nos raro calçamento do lado de cá da villa. o piquininino sentado nos degrau da pedra da infâmia. as pessoa num parava de saí e chegá pelo chão da terra qui escorava o peso de tudo
Ocê viu quando o siô meu marido chegou?
Antes do toque do silêncio...
Graças à Deus, deu um suspiro de alívio comovido, Ele já saiu? Tomou o café da manhã?
continuei oiando pra fora da janela, ela oiando pra dentro do quarto. cada uma com os seus engenho de agitação, agonia e sofrimento
ainda num tinha visto a preta do tabulêro, já pronta pro serviço de ajudá, tão antes do dia acordá todo. já tava o lugá de muntu vai e vem. as pessoa passava oiando e num puruguntava nada. as veiz, de quando em veiz, uma qui otra parava e pegava nas mão os chá. depois puruguntava e escutava as palavra da ajuda: u qui fazê, u qui rezá, é bão pra isso, é bão praquilo
ó, veja só isso, milagres... falei pra mim mesma com surpresa e respeito, eu conheço essa visita qui se chegô no tabulêro, essa preta eu conheço: a baronesa! a muié sem casá do barão das arma. essa num é nehuma sombra, essa num deixa sombra, tem mais luz qui as sombra pode escorá
a visita toda de branco dobrô os joêio inté a muié sentada no seu banco. quando chegô perto pra podê falá piquininino, falô e escutô. as duas riu pra cima, pru alto como todo riso da vida deve sê feito, espaiado no vento. parecia qui elas ria aqui da janela. quando parô os riso, a visita inclinô otra veiz pra frente, parecia soprá bem devagá as palavra na dona do tabulêro. quando parô fez siná com a mão prum hôme branco se chegá
o hôme branco parado na distância do resguardo e consideração se aproximô da mesa dos chá e reza. apertei e soltei os óio pra tê certeza do qui tava vendo; era o barão em carne e osso. óia só, uma visitação com muntu valô e reputação pru tabulêro da preta liberata. isso é pra dá inveja nas sombra dos quatro canto da villa
vai tê branco se erguendo dos mausoléu dos cemitério, fedendo gente morta, qui vai dizê bosta do barão. esse num é um lugá pra vivê sem chorá, nesse povoado o qui mais se vê é inveja. num acho qui o barão se importa com o gosto de bosta seca dos mexerico, Escutô, Milagres?
Sim... o siô Pedro saiu cedo. Tomô café na cama junto com o nascimento do dia. Teve um sono muntu agitado, parei as sobra do palavreado na boca. falei mais, muntu mais qui devia. então, depois do leite derramado, coloquei mais cautela e cuidado no silêncio. amaldiçoei eu mesma pruqui falei com descuido
a siá podia tê feito qui num tinha escutado o meu palavrório descuidado, podia tê ficado o dito pelo num dito, mais num fez cara de oiá de cima do morro encantada com a paisagem. puruguntô desconfiada, Sono agitado? Café na cama?
a siá dona de quase tudo durumiu apartada do marido e oiava pru quarto com munta mistura de vontade no coração. as rôpa da cama qui ela num usô embaraçava as duas. queria podê murmurá da minha tristeza. queria podê lembrá qui tava ali sem querê tá, num tava pruqui tinha gosto de tá. queria podê animá essa otra sombra, Siá Maria Carolina... essa rôpa nova qui tá nos meus braço – que já vô colocá na cama – pode tê serventia de uso pra siá
mais num disse nada qui tinha pensado dizê. achei mais meió num cutucá aquela muié com a minha vara piquininina, mais o palavreado qui saiu num tinha mais u qui fazê
u qui eu fiz? o certo. fiz qui num escutei. eu num tinha explicação pra dá nem a siá ia querê sabê das explicação qui num podia explicá. ela acha qui qué sabê, mais num qué. fui pra janela e coloquei as dobra dos braço no apara peito
O siô barão das arma!
O que foi isso, Milagres?
O barão...
O que ocê olha tão interessada desta janela?
dei mais um passo na direção dos fingimento, Ali, ó... no tabulêro da preta Liberata, chegô gente da maió importância.
dona maria carolina desviô da trôxa branca sem oiá, sabia u qui ela carregava, Onde, Milagres?
ela queria um jeito pra não sabê, um motivo pra num vê e continuá o croché ao lado do marido. eu achei o jeito, Ali, ó... a siá tá oiando? apontei pru tabulêro da liberata – qualqué dia desses, quinda num nasceu, eu desço pra pedí abrigo e aconseiamento, ela deve de sabê algum refúgio só dos pretu – e pru barão das arma
Quem?
mirei na liberata e depois na otra muié qui é preta, mais num parece sê preta pruqui tem no vestí as rôpa das muié branca, os sapato chic de usá combinava com o vestido todo branco com renda azul, Tá vendo, siá?
ela espreitava pru todo lado. oia só, o barão tirô o chapéu e se dobrô pra preta
Ali... olhe, atendi sem sabê o qui era pra oiá, Todas as manhãs ela vai e vem nas ruas. Vai até a praça e volta. Cuidando de vigiar tudo. Gente vagabunda e preguiçosa. Aposto que não quer o teu lugar. Trabalhar não querem, coloquei toda atenção no vê da siá, inté qui vi
Num tinha reparado.
Viu? Ali estão as três: a bugra e as indiazinhas... coitadinhas... tão magrinhas... tão sujinhas... espionando por tudo. Escolhendo onde é mais fácil fazer alguma maldade. Viu, agora?
num a respondi, quis argumentá mais num disse um ai, num arrisquei dizê nem mesmo qualqué coisa boba. queria sabê um jeito de provocá o esquecimento. deve sê meió vivê esquecendo todo dia o dia qui se deitô pra durumí. todo dia, um dia novo sem as lembrança do qui passô. quando se tem só coisa ruim pra lembrá o meió é num lembrá pra consegui vivê com as coisa ruim nova
Estão observando as pessoas e as casas. Isso não me cheira bem. Já avisei o sinhô Pedro Francisco...
fez silêncio, num fiz ruído tumbém
acho qui ficô esperando eu puruguntá, E u qui u siô Pedro Francisco falô desse perigo todo, mais num puruguntei, continuei com a atenção fora da janela. num queria chamá o dono de tudo pra assuntação do nosso palavreado. continuamô a encenação das palavra escondida
eu resistia, ela acusava. tudo sem as palavra sê dita pra fora dos pensamento. uma perseguia os passo da otra. uma imaginava, a otra se agitava. uma delirava de raiva, a otra disfarçava... inté qui a siá virô as costa e desistiu da janela, Ele respondeu que vai tomar as providências necessárias.
fiquei assustada com as precaução urgente do siô pedro francisco e a destinação das três bugra pro sossego da siá maria carolina. tava acostumada com o jeito da siá fazê certeza de desconfiança das pessoa qui tá na casa, mais num pensava nas coisa qui vinha depois da desconfiança
voltei as vista pra fora da janela. oiêi na direção do tabulêro. num sabia como terminá aquela visita das duas no quarto do siô pedro. fechei os óio e pedi ajuda pra mãinha, Prometo, mãinha qui faço um ebó bem bunitu nas água do rio, ajuda essa preta saí desse quarto qui num quero tá, juntei as mão e cantei
Aieieu, aieieu balá Oxum...
aieieu balá Oxum,
aieieu Oxum marê!
O que foi isso, Milagres?
a purugunta da siá me tirô do mundo dos encantamento, Nada... siá...
Ocê tava parada, olhando para o teto, em silêncio. Como ocê pode ficar tanto tempo sem dizer nada?
A siá viu?
O quê?
A preta e o tabulêro...
A feiticeira negra?
Não, siá Maria Carolina... uma muié curandêra e rezadêra. Ela cuida da saúde, procura protegê as pessoa das doença do corpo e do espritu. Conhece as erva qui cura e dá conforto pras dô do amô e do desamô.
voltô na janela e grudô as vista na liberata, Se conhece para o bem, conhece para o mal, falô justo no momento qui o siô barão voltô tirá o chapéu pra se dobrá pra preta, Mas que horror! O que foi isto? Fazendo cumprimento que só se faz para uma dama, tirando o chapéu para uma macumbeira! Isso não vai ficar assim...
Óia, siá! Óia, siá!
O quê foi, negra abelhuda? Quase me mata de susto!
É o barão das arma que tá de consulta.
investigô longe com as vista, Esse barão não me merece respeito. Imagine que vive com uma negra. Isso é coisa que o sinhô Pedro Francisco nunca há de fazer.
lá se voltô a siá com a cisma de trazê o siô pedro pro palavreado. desta veiz, num fugí do palavrório dela. oiêi de lado, U qui tem isso, siá? A baronesa Catita num é escravizada. É uma muié libertada.
num virô de lado, continuô oiando na frente, num mexeu nada, só a língua, Ocês nunca serão livres! Jamais serão como as mulheres brancas! Eu juro pelo Nosso Senhor!
podia sentí o seu oiá de munta frieza, Ocês não merecem e não precisam da liberdade. Não sabem fazer nada, precisam serem mandadas... obrigadas! Negro ou negra é tudo vagabundo, se não caga na entrada, pode ter certeza que irá cagar na saída.
acho qui a siá tava gritando com us pretu pruqui tava sem valentia de mexê nos assunto da trôxa branca. os ódio do curação pra uma coisa se espaiava pra tudo, inté qui despertô a boca dum defunto qui dorme, mais sempre volta pra assombrá
mãinha aquietô minha boca com a sabedoria do curação qui ela tem imenso. a muié tava com muntu sofrimento, muntu encosto ruim, se tinha razão pra isso? pode qui sim, se pensá dum jeito; pode qui num tem razão, se pensá dotro jeito
ela dava as ordem, mais num mandava
eu obedecia... inté quando num sabia
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baitasar
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oiava oiava e oiava, a cabeça erguida, a respiração toda retesada, parecia querê tê mais certeza das desconfiança. queria atá as ponta dos pensamento cismado: oiô a trôxa branca com as rôpa usada da cama qui ela quis usá e num usô, e qui ninguém se atreva dizê qui foi falta de capricho ou animação de querê menos da siá. ele fez gosto e se preparô pra experimentá o gosto. ficô com a vontade qui num foi comida
a trôxa branca toda embolotada feito um caroço. era só desatá o nó pra vê o qui foi feito na cama do siô pedro, mais precisava tê atrevimento, birra e valentia pra desatá a trôxa branca e atá as ponta dos nó das desconfiança. suportá vê e sentí o faro. falá em fazê é fácil – falá sempre é mais fácil qui fazê. fungô fundo, preparô uma cara feia pra despachá tudo qui precisava despachá, soltô a ventania presa nos peito redondo e piquininino, ventos proféticos no jeito de vê da siá, Este quarto está catinguento! Abra bem a janela!
e foi isso
é verdade, o quarto num tava com os chêro da flô do campo, chêrava baobá: o suô e o gozo da vida qui esparrama os nome e as crença da terra com as raiz livre do otro lado da estrada das água. cada baobá é as semente qui veio trazida sem querê – à força – pra saciá a sede da maldade, egoísmo e preguiça do lado de cá
os baobá no começo num queria tá aqui, num queria sê daqui, num queria espaiá as semente e os sabê dos pretu livre: cada pretu é um baobá, cada preta é uma baobá, qui insina as dança, bafeja as cantoria, inspira as reza, festeja a vida com as contação das história dos véiu prus piquininino
as gente qui qué aprendê as história do baobá precisa colocá atenção de escutá com os ouvido no chão purqui o baobá tem a boca na terra e os pé no céu, mais isso é otra história e se o baobá querê ele mesmo conta. ele nunca faz os pretu esquecê – só esquece quem num qué lembrá – ele faz os pretu durá
eu sô uma baobá qui vai durá
as parede do quarto ainda parecia tá amarrotada com os aperto das mão nas carne das coxa preta. a sobrecama ainda tava arrepiada com as mordida no pescoço. o colchão das pena de ganso ainda tava moiado do suô e das chupada do trepadô dono de tudo. afobação, tremura e descuido obrigava o quarto do siô pedro gozá muntu ligêro, Não descola o rabo... não descola... negra do diabo... não descola o rabo.
ainda sentia as dô da força maió qui a necessidade. muntu mais força qui vontade
desapertei os braço e desagarrei da rôparia nova sobre a cama. fui inté a janela e abri toda qui dava. lá fora, tava a povoação de roça, o trapiche dos barço, oiêi prus lado da arsenal, depois pru portão, as ponte sobre os arroio piquinino qui cortava a villa levava e voltava de gente. os lampião com azeite de peixe apagado. uma qui otra carreta de boi já cruzava as rua. nehuma cadêra piquinina de carregá gente rica da villa – a povoação é de roça, mais tem gente rica qui vive das desgraça dos pobre. aproveitadô num falta em todo lugá. os salcêro na beirada do rio, os maricá e as unha de gato. as rua suja. ninguém se importava em limpá ou num sujá. o calô muntu forte nos tempo de calô, faz ocê se derramá em suô; o frio muntu gelado e moiado nos tempo do frio, faz ocê se rachá e adoecê de tosse
a preta com o tabulêro nos raro calçamento do lado de cá da villa. o piquininino sentado nos degrau da pedra da infâmia. as pessoa num parava de saí e chegá pelo chão da terra qui escorava o peso de tudo
Ocê viu quando o siô meu marido chegou?
Antes do toque do silêncio...
Graças à Deus, deu um suspiro de alívio comovido, Ele já saiu? Tomou o café da manhã?
continuei oiando pra fora da janela, ela oiando pra dentro do quarto. cada uma com os seus engenho de agitação, agonia e sofrimento
ainda num tinha visto a preta do tabulêro, já pronta pro serviço de ajudá, tão antes do dia acordá todo. já tava o lugá de muntu vai e vem. as pessoa passava oiando e num puruguntava nada. as veiz, de quando em veiz, uma qui otra parava e pegava nas mão os chá. depois puruguntava e escutava as palavra da ajuda: u qui fazê, u qui rezá, é bão pra isso, é bão praquilo
ó, veja só isso, milagres... falei pra mim mesma com surpresa e respeito, eu conheço essa visita qui se chegô no tabulêro, essa preta eu conheço: a baronesa! a muié sem casá do barão das arma. essa num é nehuma sombra, essa num deixa sombra, tem mais luz qui as sombra pode escorá
a visita toda de branco dobrô os joêio inté a muié sentada no seu banco. quando chegô perto pra podê falá piquininino, falô e escutô. as duas riu pra cima, pru alto como todo riso da vida deve sê feito, espaiado no vento. parecia qui elas ria aqui da janela. quando parô os riso, a visita inclinô otra veiz pra frente, parecia soprá bem devagá as palavra na dona do tabulêro. quando parô fez siná com a mão prum hôme branco se chegá
o hôme branco parado na distância do resguardo e consideração se aproximô da mesa dos chá e reza. apertei e soltei os óio pra tê certeza do qui tava vendo; era o barão em carne e osso. óia só, uma visitação com muntu valô e reputação pru tabulêro da preta liberata. isso é pra dá inveja nas sombra dos quatro canto da villa
vai tê branco se erguendo dos mausoléu dos cemitério, fedendo gente morta, qui vai dizê bosta do barão. esse num é um lugá pra vivê sem chorá, nesse povoado o qui mais se vê é inveja. num acho qui o barão se importa com o gosto de bosta seca dos mexerico, Escutô, Milagres?
Sim... o siô Pedro saiu cedo. Tomô café na cama junto com o nascimento do dia. Teve um sono muntu agitado, parei as sobra do palavreado na boca. falei mais, muntu mais qui devia. então, depois do leite derramado, coloquei mais cautela e cuidado no silêncio. amaldiçoei eu mesma pruqui falei com descuido
a siá podia tê feito qui num tinha escutado o meu palavrório descuidado, podia tê ficado o dito pelo num dito, mais num fez cara de oiá de cima do morro encantada com a paisagem. puruguntô desconfiada, Sono agitado? Café na cama?
a siá dona de quase tudo durumiu apartada do marido e oiava pru quarto com munta mistura de vontade no coração. as rôpa da cama qui ela num usô embaraçava as duas. queria podê murmurá da minha tristeza. queria podê lembrá qui tava ali sem querê tá, num tava pruqui tinha gosto de tá. queria podê animá essa otra sombra, Siá Maria Carolina... essa rôpa nova qui tá nos meus braço – que já vô colocá na cama – pode tê serventia de uso pra siá
mais num disse nada qui tinha pensado dizê. achei mais meió num cutucá aquela muié com a minha vara piquininina, mais o palavreado qui saiu num tinha mais u qui fazê
u qui eu fiz? o certo. fiz qui num escutei. eu num tinha explicação pra dá nem a siá ia querê sabê das explicação qui num podia explicá. ela acha qui qué sabê, mais num qué. fui pra janela e coloquei as dobra dos braço no apara peito
O siô barão das arma!
O que foi isso, Milagres?
O barão...
O que ocê olha tão interessada desta janela?
dei mais um passo na direção dos fingimento, Ali, ó... no tabulêro da preta Liberata, chegô gente da maió importância.
dona maria carolina desviô da trôxa branca sem oiá, sabia u qui ela carregava, Onde, Milagres?
ela queria um jeito pra não sabê, um motivo pra num vê e continuá o croché ao lado do marido. eu achei o jeito, Ali, ó... a siá tá oiando? apontei pru tabulêro da liberata – qualqué dia desses, quinda num nasceu, eu desço pra pedí abrigo e aconseiamento, ela deve de sabê algum refúgio só dos pretu – e pru barão das arma
Quem?
mirei na liberata e depois na otra muié qui é preta, mais num parece sê preta pruqui tem no vestí as rôpa das muié branca, os sapato chic de usá combinava com o vestido todo branco com renda azul, Tá vendo, siá?
ela espreitava pru todo lado. oia só, o barão tirô o chapéu e se dobrô pra preta
Ali... olhe, atendi sem sabê o qui era pra oiá, Todas as manhãs ela vai e vem nas ruas. Vai até a praça e volta. Cuidando de vigiar tudo. Gente vagabunda e preguiçosa. Aposto que não quer o teu lugar. Trabalhar não querem, coloquei toda atenção no vê da siá, inté qui vi
Num tinha reparado.
Viu? Ali estão as três: a bugra e as indiazinhas... coitadinhas... tão magrinhas... tão sujinhas... espionando por tudo. Escolhendo onde é mais fácil fazer alguma maldade. Viu, agora?
num a respondi, quis argumentá mais num disse um ai, num arrisquei dizê nem mesmo qualqué coisa boba. queria sabê um jeito de provocá o esquecimento. deve sê meió vivê esquecendo todo dia o dia qui se deitô pra durumí. todo dia, um dia novo sem as lembrança do qui passô. quando se tem só coisa ruim pra lembrá o meió é num lembrá pra consegui vivê com as coisa ruim nova
Estão observando as pessoas e as casas. Isso não me cheira bem. Já avisei o sinhô Pedro Francisco...
fez silêncio, num fiz ruído tumbém
acho qui ficô esperando eu puruguntá, E u qui u siô Pedro Francisco falô desse perigo todo, mais num puruguntei, continuei com a atenção fora da janela. num queria chamá o dono de tudo pra assuntação do nosso palavreado. continuamô a encenação das palavra escondida
eu resistia, ela acusava. tudo sem as palavra sê dita pra fora dos pensamento. uma perseguia os passo da otra. uma imaginava, a otra se agitava. uma delirava de raiva, a otra disfarçava... inté qui a siá virô as costa e desistiu da janela, Ele respondeu que vai tomar as providências necessárias.
fiquei assustada com as precaução urgente do siô pedro francisco e a destinação das três bugra pro sossego da siá maria carolina. tava acostumada com o jeito da siá fazê certeza de desconfiança das pessoa qui tá na casa, mais num pensava nas coisa qui vinha depois da desconfiança
voltei as vista pra fora da janela. oiêi na direção do tabulêro. num sabia como terminá aquela visita das duas no quarto do siô pedro. fechei os óio e pedi ajuda pra mãinha, Prometo, mãinha qui faço um ebó bem bunitu nas água do rio, ajuda essa preta saí desse quarto qui num quero tá, juntei as mão e cantei
Aieieu, aieieu balá Oxum...
aieieu balá Oxum,
aieieu Oxum marê!
O que foi isso, Milagres?
a purugunta da siá me tirô do mundo dos encantamento, Nada... siá...
Ocê tava parada, olhando para o teto, em silêncio. Como ocê pode ficar tanto tempo sem dizer nada?
A siá viu?
O quê?
A preta e o tabulêro...
A feiticeira negra?
Não, siá Maria Carolina... uma muié curandêra e rezadêra. Ela cuida da saúde, procura protegê as pessoa das doença do corpo e do espritu. Conhece as erva qui cura e dá conforto pras dô do amô e do desamô.
voltô na janela e grudô as vista na liberata, Se conhece para o bem, conhece para o mal, falô justo no momento qui o siô barão voltô tirá o chapéu pra se dobrá pra preta, Mas que horror! O que foi isto? Fazendo cumprimento que só se faz para uma dama, tirando o chapéu para uma macumbeira! Isso não vai ficar assim...
Óia, siá! Óia, siá!
O quê foi, negra abelhuda? Quase me mata de susto!
É o barão das arma que tá de consulta.
investigô longe com as vista, Esse barão não me merece respeito. Imagine que vive com uma negra. Isso é coisa que o sinhô Pedro Francisco nunca há de fazer.
lá se voltô a siá com a cisma de trazê o siô pedro pro palavreado. desta veiz, num fugí do palavrório dela. oiêi de lado, U qui tem isso, siá? A baronesa Catita num é escravizada. É uma muié libertada.
num virô de lado, continuô oiando na frente, num mexeu nada, só a língua, Ocês nunca serão livres! Jamais serão como as mulheres brancas! Eu juro pelo Nosso Senhor!
podia sentí o seu oiá de munta frieza, Ocês não merecem e não precisam da liberdade. Não sabem fazer nada, precisam serem mandadas... obrigadas! Negro ou negra é tudo vagabundo, se não caga na entrada, pode ter certeza que irá cagar na saída.
acho qui a siá tava gritando com us pretu pruqui tava sem valentia de mexê nos assunto da trôxa branca. os ódio do curação pra uma coisa se espaiava pra tudo, inté qui despertô a boca dum defunto qui dorme, mais sempre volta pra assombrá
mãinha aquietô minha boca com a sabedoria do curação qui ela tem imenso. a muié tava com muntu sofrimento, muntu encosto ruim, se tinha razão pra isso? pode qui sim, se pensá dum jeito; pode qui num tem razão, se pensá dotro jeito
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