Cruz e Sousa
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos
Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos
OUTROS SONETOS
LUAR
Pelas esferas, nuvens peregrinas,
Brandas de toques, encaracoladas,
Passam de longe, tímidas, nevadas,
Cruzando o azul sereno das colinas.
Sombras da tarde, sombras vespertinas
Como escumilhas leves, delicadas,
Caem da serra oblonga nas quebradas,
Vão penumbrando as coisas cristalinas.
Rasga o silêncio a nota chã, plangente,
Da Ave-Maria – e então, nervosamente,
Nuns inefáveis, espontâneos jorros
Esbate o luar, de forma admirável,
Claro, bondoso, elétrico, saudável,
Na curvilínea compridão dos mortos.
MOCIDADE
Ah! esta mocidade! – Quem é moço
Sente vibrar a febre enlouquecida
Das ilusões, da crença mais florida
Na muscular artéria de Colosso...
Das incertezas nunca mede o poço...
Asas abertas – na amplidão da vida,
Páramo a dentro – de cabeça erguida,
Vê do futuro o mais alegre esboço...
Chega a velhice, a neve das idades
E quem foi moço volve, com saudades,
Do azul passado, o fúlgido compêndio...
Ai! esta mocidade palpitante,
Lembra um inseto de ouro, rutilante,
Em derredor das chamas de um incêndio!
[VÃO-SE DE TODO]
Vão-se de todo os pardacentos nimbos...
Chovem da luz as nítidas faíscas
E no esplendor de irradiações mouriscas,
Abrem-se as flores em gentis corimbos.
Muito mais lestas do que antigos fimbos,
Do Azul cortando as bordaduras priscas,
Pombas do mato esvoaçando, ariscas,
Do céu se perdem nos profundos limbos.
A natureza pulsa como a forja...
Pássaros vibram no clarim da gorja,
As retumbantes, fortes clarinadas.
A grande artéria dos assombros pula...
E do oxigênio, a força que regula
Enche os pulmões a largas baforadas.
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Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XIII
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