quarta-feira, 28 de março de 2018

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada - Ao "Chat-Qui-Pelote" (2)

 Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1


1
Estudos de Costumes 
- Cenas da Vida Privada



Ao "Chat-Qui-Pelote"
Dedicado a mlle. Marie de Montheau

(Parte 2)





Guillaume tinha duas filhas. A mais velha, srta. Virgínia, era em tudo o retrato da mãe. A sra. Guillaume, filha de sieur Chevrel, mantinha-se tão ereta no banco da caixa que por mais de uma vez ouvira graciosos apostarem que ela estava ali empalada. Sua figura magra e alta atraía uma devoção desmedida. Sem graças e sem maneiras amáveis, a sra. Guillaume enfeitava habitualmente a cabeça, quase sexagenária, com uma touca, cuja forma era invariável e guarnecida de fitas pendentes, como as de uma viúva. Toda a vizinhança chamava-a de irmã porteira. Tinha a palavra breve, e havia em seus gestos qualquer coisa dos movimentos entrecortados de um aparelho telegráfico[31]. Seus olhos, claros como os de um gato, pareciam ter rancor contra todos pelo fato de ela ser feia. A srta. Virgínia, educada, assim como a irmã mais nova, sob as leis despóticas da mãe, alcançara a idade dos vinte e oito anos. A mocidade atenuava o ar desgracioso que a semelhança com a mãe dava por vezes à sua fisionomia, mas o rigor materno dotara-a de duas grandes qualidades que podiam contrabalançar tudo: era meiga e paciente. A srta. Augustina, com dezoito anos apenas, em nada se parecia ao pai nem à mãe. Era dessas raparigas que, pela ausência de qualquer laço físico com os pais, fazem crer no ditado devoto: “Deus é quem dá os filhos”. Augustina era pequena, ou, para melhor descrevê-la, mimosa. Graciosa e cheia de candor, um homem da alta sociedade nada poderia censurar a essa encantadora criatura, a não ser gestos acanhados ou certas atitudes vulgares e, por vezes, constrangimento. Seu semblante mudo e imóvel respirava essa melancolia passageira que se apodera de todas as raparigas demasiado fracas para ousar resistir à vontade de uma mãe. Sempre modestamente vestidas, as duas irmãs não podiam satisfazer a faceirice inata na mulher senão por um luxo de asseio que lhes assentava às mil maravilhas e punhaas em harmonia com aqueles balcões lustrosos e aquelas prateleiras sobre as quais o velho criado não consentia um grão de pó, e, numa palavra, com a simplicidade antiga de tudo que as cercava. Obrigadas pelo seu gênero de vida a procurar elementos de felicidade em trabalhos obstinados, Augustina e Virgínia até então só haviam dado motivos de contentamento a sua mãe, que, secretamente, se felicitava
pela perfeição do caráter das filhas. É fácil imaginar os resultados da educação que as duas haviam recebido. Educadas para o comércio, habituadas a só ouvir raciocínios e cálculos tristemente mercantis, não tendo estudado mais do que gramática, escrituração, um pouco de história judaica, a história da França em Le Ragois[32] e lendo somente os autores cuja leitura lhes era permitida pela mãe, suas ideias não tinham adquirido grande descortino; conheciam perfeitamente os arranjos domésticos, sabiam o preço das coisas, avaliavam as dificuldades que há em juntar dinheiro, eram econômicas e tinham grande respeito às qualidades do negociante. Apesar da fortuna do pai, eram tão hábeis em cerzir como em remendar: seguidamente a mãe falava em ensinar-lhes a cozinhar, a fim de que soubessem determinar um jantar e repreender a cozinheira com conhecimento de causa. Ignorando os prazeres sociais e vendo como se escoava a vida exemplar dos pais, bem raramente deixavam ir o olhar além do recinto da velha casa patrimonial, que para a mãe delas era todo o universo. As reuniões motivadas pelas solenidades de família constituíam todo o futuro de suas alegrias terrenas. Quando o grande salão, situado no segundo andar, se abria para receber a sra. Roguin — uma srta. Chevrel, mais moça quinze anos do que a prima e que usava diamantes; o jovem Rabourdin, subchefe das Finanças; o sr. César Birotteau, rico perfumista, e sua mulher, a quem chamavam sra. César; o sr. Camusot, o mais rico comerciante de sedas da rue des Bourdonnais, e seu sogro, o sr. Cardot; dois ou três velhos banqueiros e mulheres irrepreensíveis —, os aprestos devidos ao modo como eram empacotados a prataria, as porcelanas de Saxe, as velas, os cristais, traziam uma variante à vida monótona daquelas três mulheres que iam e vinham, movimentando-se tanto quanto religiosas para a recepção de um bispo. Depois, quando, à noite, cansadas as três de terem limpado, esfregado, desempacotado, posto no lugar os ornamentos da festa, as duas filhas ajudavam a mãe a deitar-se, a sra. Guillaume dizia-lhes:

— Nada fizemos hoje, minhas filhas!

Quando, nessas assembleias solenes, a irmã porteira permitia que dançassem, removendo as partidas de bóston, de uíste e de gamão para o seu quarto de dormir, essa concessão era classificada entre as felicidades mais inesperadas e causava uma ventura igual à de ir a dois ou três grandes bailes, aonde Guillaume levava as filhas na época do Carnaval. Enfim, uma vez por ano, o honesto negociante dava uma festa, para a qual nada era poupado. Por mais ricas e elegantes que fossem as pessoas convidadas, ninguém se lembrava de faltar, pois as mais importantes casas da praça recorriam ao imenso crédito, à fortuna ou à velha experiência do sr. Guillaume. Mas as duas filhas desse digno negociante não aproveitavam tanto como se poderia supor das lições que a sociedade oferece às almas jovens. Apresentavam-se nessas reuniões, aliás inscritas na lista dos vencimentos de letras da casa, com vestidos e adornos cuja mesquinhez as fazia corar. O modo como dançavam nada tinha de notável, e a vigilância materna não lhes permitia manter uma conversação mais do que por meio de “sim” e de “não” com os seus pares. Demais, a lei da velha tabuleta do “Chat-qui- pelote” ordenava-lhes estar de volta às onze horas, momento em que bailes e festas começavam a animar-se. Assim é que os seus prazeres, aparentemente de acordo com a riqueza do pai, se tornavam muitas vezes insípidos por circunstâncias decorrentes dos hábitos e princípios da família. Quanto à sua vida habitual, uma única observação bastará para completar a pintura. A sra. Guillaume exigia que as duas filhas estivessem vestidas muito cedo, que descessem todos os dias à mesma hora e submetia suas ocupações a uma regularidade monástica. Entretanto, Augustina recebera do acaso uma alma bastante elevada para que não sentisse o vazio dessa existência. Seus olhos azuis por vezes se erguiam como para interrogar as profundezas daquela escada sombria e daquela loja úmida. Depois de haver sondado aquele silêncio de claustro, ela parecia ouvir ao longe confusas revelações dessa vida de paixões que dá maior valor aos sentimentos do que às coisas; em tais momentos, seu rosto criava cor, suas mãos inativas deixavam a branca musselina cair sobre o carvalho polido do balcão, e logo sua mãe lhe dizia com uma voz que se conservava sempre desagradável, mesmo nos tons mais suaves:

— Augustina! Em que estás pensando, minha joia?

É possível que Hipólito, conde de Douglas e o Conde de Comminges,[33] dois romances achados por Augustina no armário de uma cozinheira recentemente despedida pela sra. Guillaume, tivessem contribuído para desenvolver as ideias da rapariga, que os devorara furtivamente durante as longas noites do inverno anterior. As expressões de vago desejo, a voz suave, a pele de jasmim e os olhos azuis de Augustina tinham, pois, acendido na alma do pobre Lebas um amor tão violento quanto respeitoso. Por um capricho fácil de ser compreendido, Augustina não sentia nenhuma inclinação pelo órfão: talvez por não saber que era amada. Em compensação, as pernas compridas, os cabelos castanhos, as mãos grandes e a aparência vigorosa do primeiro caixeiro tinham causado uma secreta admiração à srta. Virgínia, a qual, não obstante seus cinquenta mil escudos de dote, não fora pedida em casamento por ninguém. Nada mais natural do que essas duas paixões desencontradas, nascidas no silêncio daqueles obscuros escritórios, como florescem violetas na profundeza de um bosque. A muda e constante contemplação que reunia os olhos dessa gente moça por uma necessidade de distrações, em meio a trabalhos obstinados e uma paz religiosa, tinha de, cedo ou tarde, excitar sentimentos de amor. O hábito de ver constantemente uma pessoa faz descobrir nela, insensivelmente, as qualidades da alma e acaba por fazer desaparecer os defeitos.

“Do jeito por que vai este homem, nossas filhas não tardarão a pôr-se de joelhos ante um pretendente!”, disse consigo o sr. Guillaume, ao ler o primeiro decreto pelo qual Napoleão antecipava a idade para o recrutamento.

Desde esse dia, desesperado por ver a filha mais velha emurchecer, o velho negociante recordou-se de ter casado com a srta. Chevrel pouco mais ou menos nas mesmas condições em que se achavam José Lebas e Virgínia. Que bom negócio casar a filha e saldar uma dívida sagrada, prestando a um órfão o benefício que em outros tempos recebera de seu predecessor nas mesmas circunstâncias! Com trinta e três anos de idade, José Lebas pensava nos obstáculos que quinze anos de diferença punham entre Augustina e ele. Demasiado perspicaz para não perceber as intenções do sr. Guillaume, conhecia-lhe muito bem os princípios inexoráveis para saber que a mais moça jamais casaria antes da primogênita. O pobre caixeiro, cujo coração era tão bem formado quanto suas pernas eram compridas e seu busto atarracado, sofria, pois, em silêncio.

Assim estavam as coisas naquela pequena república, que, no meio da rue SaintDenis, se assemelhava bastante a uma sucursal da Trappe.[34] Mas para dar uma ideia exata dos acontecimentos exteriores, como dos sentimentos, é necessário retornar a alguns meses antes da cena pela qual começa esta história. Ao anoitecer, um rapaz, ao passar pela obscura loja do “Chat-qui-pelote”, ficara um momento a contemplar o aspecto de um quadro que teria feito parar todos os pintores do mundo. A loja, não estando ainda iluminada, formava um plano escuro, no fundo da qual se via a sala de jantar do negociante. Uma lâmpada astral esparzia ali a luz amarela que dá tanta graça às telas da escola holandesa. As toalhas alvas, a prataria, os cristais formavam acessórios brilhantes mais embelezados ainda pelos contrastes de luz e sombra. A figura do pai de família e a de sua mulher, o
semblante dos caixeiros e as formas puras de Augustina, a dois passos da qual se achava uma pesada rapariga bochechuda, compunham um grupo de tal modo curioso, as cabeças eram tão originais, e cada caráter tinha uma expressão tão franca, adivinhava-se tão bem a paz, o silêncio e a vida modesta daquela família que, para um artista acostumado a exprimir a natureza, havia qualquer coisa de desesperador em querer reproduzir essa cena fortuita. O transeunte era um jovem pintor que, sete anos antes, tinha conquistado o grande prêmio de pintura. Voltava de Roma. Sua alma nutrida de poesia, seus olhos saturados de Rafael e de Michelangelo tinham sede da verdadeira natureza, depois de uma longa permanência no país pomposo onde a arte lançara por tudo a sua grandiosidade. Falso ou justo, tal era o seu sentimento pessoal. Entregue por muito tempo à fuga das paixões italianas, seu coração suspirava por uma dessas virgens modestas e sonhadoras que, infelizmente, só pudera encontrar em pintura, em Roma. Do entusiasmo impresso em sua alma, exaltada pelo quadro natural que estava contemplando, passou suavemente a uma profunda admiração à figura principal: Augustina parecia pensativa e não comia; por uma disposição da lâmpada, cuja luz lhe caía em cheio no rosto, seu busto parecia mover-se num círculo de fogo que lhe destacava mais nitidamente os contornos da cabeça e a iluminava de um modo quase sobrenatural. O artista comparou-a involuntariamente a um anjo exilado, com a nostalgia do céu. Uma sensação quase desconhecida, um amor límpido e fervente inundou-lhe o coração. Depois de ter ficado durante um momento como que esmagado sob o peso de suas ideias, arrancou-se à sua felicidade, voltou para casa, não comeu, não dormiu. No dia seguinte entrou no seu ateliê e dele só saiu depois de ter lançado numa tela a magia daquela cena que de algum modo o tinha fanatizado. Enquanto não possuiu um fiel retrato do seu ídolo, sua felicidade não foi completa. Passou várias vezes pela frente da casa do “Chat-qui-pelote”: atreveuse mesmo a entrar uma ou duas vezes, sob um disfarce, a fim de ver de mais perto a encantadora criatura que a sra. Guillaume cobria com a sua asa. Durante oito meses inteiros, entregue ao seu amor e aos seus pincéis, permaneceu invisível para os amigos, até os mais íntimos, esquecendo as rodas sociais, a poesia, o teatro, a música e seus hábitos mais queridos. Girodet,[35] certa manhã, forçou todas essas ordens que os artistas conhecem e sabem fraudar, conseguindo chegar junto a ele, e acordando-o com esta pergunta:

— Que vais expor no Salão?

O artista toma da mão do amigo, leva-o ao seu ateliê, descobre um pequeno quadro de cavalete e um retrato. Depois de lenta e ávida contemplação das duas obras-primas, Girodet salta ao pescoço do seu camarada e beija-o sem achar o que lhe dizer. Suas emoções não podiam ser expressas, a não ser como ele as sentia, de alma para alma.

— Estás apaixonado? — indagou Girodet.

Ambos sabiam que os mais belos retratos de Ticiano, de Rafael e de Leonardo da Vinci eram devidos a sentimentos exaltados, que, sob múltiplas condições, engendram, aliás, todas as obras-primas. Como única resposta, o jovem artista curvou a cabeça.

— Que sorte tens tu de poder estar apaixonado aqui, de volta da Itália! Não te aconselho a expor obras como essas no Salão — acrescentou o grande pintor. — Olha, esses dois quadros não seriam ali compreendidos. Essas cores verdadeiras, esse trabalho prodigioso ainda não podem ser apreciados; o público não está mais acostumado a tanta profundeza. Os quadros que nós pintamos, meu amigo, são painéis, são biombos. É preferível fazermos versos, traduzir os antigos! Há mais glória a esperar desse trabalho do que das nossas infelizes telas.

Não obstante esse caridoso conselho, as duas telas foram expostas. A cena do interior fez uma revolução na pintura. Deu origem a esses quadros de estilo, cuja prodigiosa abundância, levada a todas as nossas exposições, poderia fazer crer que são obtidos por processos puramente mecânicos. Quanto ao retrato, são poucos os artistas que não conservam a recordação dessa tela viva, à qual o público, algumas vezes justo em conjunto, atribuiu os louros com que o próprio Girodet a coroou. Os dois quadros viram-se cercados por uma multidão imensa. Esses espectadores, como dizem as mulheres, matavam-se para vê-los. Especuladores, grão-senhores, cobriram-nas de duplos napoleões, mas o artista recusou-se, obstinadamente, a vendê-las e também a fazer cópias.

Ofereceram-lhe uma quantia enorme para fazê-los gravar, mas os negociantes não foram mais felizes do que os amadores. Conquanto essa aventura fizesse ruído na sociedade, não era de molde a chegar ao fundo da pequena Tebaida[36] da rue Saint-Denis. Não obstante, ao vir fazer uma visita à sra. Guillaume, a mulher do notário falou na exposição diante de Augustina, a quem muito queria, e explicoulhe as suas finalidades. A tagarelice da sra. Roguin inspirou naturalmente a Augustina o desejo de ver os quadros e a temeridade de pedir secretamente à prima que a acompanhasse ao Louvre. A prima foi feliz nas negociações que entabulou junto à sra. Guillaume para obter a autorização de arrancar a priminha a seus tristes trabalhos por cerca de duas horas. A moça penetrou, pois, através da multidão, até o quadro coroado. Um frêmito fê-la estremecer, como uma folha de bétula, quando se reconheceu. Teve medo e olhou em volta para se reunir à sra. Roguin, da qual se vira separada por uma onda de gente. Em tal momento seus olhos cheios de susto toparam com o semblante inflamado do jovem pintor. Lembrou-se de súbito da fisionomia de um passeante que, curiosa, notara muitas vezes, julgando ser algum novo vizinho.

— Está vendo o que o amor me fez fazer? — sussurrou o artista ao ouvido da tímida criatura, que ficou apavorada com essas palavras.

Ela armou-se de uma coragem sobrenatural para fender a multidão e conseguir chegar junto à prima, que ainda se esforçava por atravessar a massa de povo que a impedia de chegar perto do quadro.

— A senhora ficaria asfixiada — exclamou Augustina. — Vamos embora.

Mas há no Salão certos momentos durante os quais duas mulheres nem sempre têm liberdade de se movimentar como querem nas galerias. A srta. Guillaume e sua prima foram empurradas até a alguns passos do segundo quadro, em consequência dos movimentos irregulares que a multidão lhes imprimia.





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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.[1] Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava.[1] De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Balzac, Honoré de, 1799-1850. 
          A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac;                            orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São                  Paulo: Globo, 2012. 

          (A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1                    0.000 kb; ePUB 

1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série. 

12-13086                                                                               cdd-843 

Índices para catálogo sistemático: 
1. Romances: Literatura francesa 843

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[25]Caracala: imperador romano (188-227). David: Pierre-Jean David d’Angers (1788-1856), escultor, autor, entre outras obras, de um busto de Balzac.

[26]Um nome odioso: “janela de guilhotina”.

[27]Humboldt: Alexander von Humboldt (1769-1850), sábio naturalista alemão, autor de Kosmos, ou descrição física do mundo. Gimnoto: peixe elétrico teleósteo, de água doce.

[28]Preboste dos mercadores: antigamente, o primeiro magistrado municipal de Paris, chefe dos comerciantes.

[29]Mercúrio: na mitologia antiga, deus do comércio.

[30]Maximum: tabelamento dos gêneros. Aqui o autor alude especialmente ao decreto de tabelamento publicado durante a Revolução Francesa. Sua publicação e revogação ocasionaram grandes desordens, em particular manifestações contra os industriais e os atacadistas.

[31]Os movimentos entrecortados de um aparelho telegráfico. Para compreender o trecho é preciso lembrar-se de que se trata do telégrafo Chappe, que durante cinquenta anos funcionou na França e foi adotado em outros países. Segundo amável informação de Antônio Gil (A. P. Carvalho), o aparelho constava de uma prancheta de 4 metros, firmada pelo centro na ponta de um mastro e tendo nas extremidades duas outras réguas de 1 metro. Todo o sistema era articulado, e por meio de cordas e polias, manejadas dentro da torre onde era fincado o mastro, tomavam as pranchetas várias posições, cada qual representando determinado sinal de um código. Tais pranchetas e seus movimentos, efetuados com grande rapidez pelo operador, eram vistos a grandes distâncias através de óculos de alcance. A mensagem expedida por um posto era imediatamente repetida no posto seguinte à medida que ia sendo articulada.

[32] Le Ragois: trata-se do abade Claude Le Ragois, diretor de consciência de mme. de Maintenon, autor da Introdução sobre a história da França e a história romana (1684), obra muitas vezes reeditada, apesar de medíocre.

[33] Romances sentimentais, respectivamente da sra. d’Aulnoy e da sra. de Tencin.

[34]A Trappe: abadia fundada em 1140, reformada pelo abade do Rancé em 1662, e cujos religiosos observavam um regulamento de extremo rigor.

[35]Girodet: Anne-Louis Girodet de Roussy (1767-1824), pessoa real, pintor famoso na época, autor, entre outros quadros, do Sonho de Endimião. O trecho dá um bom exemplo de como Balzac introduz pessoas reais entre suas criaturas de ficção.

[36]Tebaida: antigo nome do Alto Egito, para cujos desertos se retiraram os primeiros eremitas cristãos; eremitério.



Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada - Ao "Chat-Qui-Pelote" (1)

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada - Ao "Chat-Qui-Pelote" (3)



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