terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Poesia Africana: Abreu Paxe (Angola)

Poesia Africana - 17





escrever para não ser entendido
desconstruindo a gramática
o fascínio de buscar o que não se controla 

não se deixar vigiar pelos aspectos normativos






a câmara elemento da rasura


transmudar o monólogo obscuro emagrece
o tempo contrária plenitude imperfeita cai azeda palavra
há sempre limites para o exílio de textura vertical
penumbra os ângulos auroras de meia superfície
molham a relva tarde os papéis brancos infernos
ainda um corpo imperativa bainha defeito lençol
nascimentos esquecimentos descobrimentos
de rima relvado
poema fumaça da água viva conjunção os escombros
mastigado avesso árvores plana geometria parada
lança rasura a transparência devolve a montanha outra lavra





o limão fruto do mês


no tópico a penumbra limita o céu
a deus a mesma paragem
passa em liberdade suave textura
a mulher tarde horizontal
de estrutura espessa o género substantiva camada
passa a boca espalhada pelo corpo
guarda todos os traços femininos empurram o limão
permanecem no caminho de frias letras
decifrada a edição é toda ampla pluma
os determinadores pernas no planeta as sedas
deixam de lado os factos contextuais
as luzes estendem-se até a nudez
a existência tão longa produção constrói estrelas
outro corpo
as trevas janelas inquilinos selando juros





amargos dormem tempos opostos


nas paisagens do espaço
afundava-se volumoso coração
no interior do quarto ilimitada natureza a sólida alma
próxima zona virgem a viagem das enguias
lugares de pequenas colinas ou seja:
sentem ondeadas brasas acesas noites também
permanecem transparentes
em forma de pêndulos as fragatas esperam
machucadas pêlos seus remos as algas refúgio:
atravessam os olhos cidades astrais com janelas descem
- velha sombra o basalto - lentas frestas
melhorando muito longe a idade do sol estas casas dos corpos
adoptando formas vermelhas
os pomares voltavam ardendo à teia todo tempo oposto








Abreu Paxe















De
Abreu Paxe
O VENTO FEDE DE LUZ
Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2007. 84 p




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Abreu Castelo Vieira dos Paxe, nasceu em 1969, no Colonato do Vale do Loge, Província do Uíge, filho de operário e de mãe doméstica. Venceu o concurso Um Poema para África em 2000, e foi animador do Cacimbo do Poeta na sua 3ª. edição, atividade organizada pela Alliance Francisco por ocasião da dia da África. Figura na Revista Internacional de Poesia “Dimensão n. 30 de 2000, na antologia dedicada à poesia contemporânea de Angola, editada em Uberaba, Brasil.




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