parábolas de uma professora
o futuro não é eterno
Ensaio 011A – 3ª.ed
baitasar e paulus e marko e kamilá
a pedagogia é – ou poderia ser – a integração articulada das ações e reflexões do ensino com a educação e o cotidiano escolar, mas como não sucumbir ao terrorismo do mercado egocêntrico, imobilista, egoísta e individualista, como não murchar à concepção bancária querendo que todos e todas sejam como esse mercado egoísta do macho competitivo e hétero que nos diz o que fazer, como ser, o que rezar ou orar, e pasmem!, querem nos ensinar a blasfemar!
fazem uma guerra-contínua de impor a própria vontade e os próprios costumes, uma guerra de pessoas contra pessoas que todas sabemos existir
e convenientemente fechamos os olhos à intolerância excludente que o terrorismo do mercado provoca, desintegrando a educação pública pelo êxodo, num cotidiano de sístoles e diástoles que parece nos encaminhar em câmara lenta para um inevitável estado de sítio de boatos alarmantes, fantasias, mentiras e grosserias?
seria a pedagogia das pessoas levianas uma ditadura do lucro? seria uma técnica de controle da educação e das suas inevitáveis consequências?
aqui estou, nenhuma paz e sendo tolerante comigo mesma – às vezes, não faço a menor ideia do que estou fazendo comigo e com nossos alunos e alunas – e também com aquelas que poderão ser essas alunas e alunos
com o passar dos anos a educação pública passou por ciclos de melhora e que parecem desaparecer nas cinzas das alegorias de mamadeiras de piroca, mentem e difamam a educação pública, as pessoas sabem que não estão felizes dentro destas e tantas outras mentiras, mas acordam pensando que serão louvadas sendo mais egoístas e intolerantes do que já somos
se você é apaixonada pela educação pública pode não saber ao certo com quais instrumentos deseja começar, mas sabe que você e nossos alunos e nossas alunas já possuem voz, olhos, mãos e pernas com histórias para contar
então, o encontro ou reencontro com a educação que você procura poderia começar com a reconstrução destas histórias invisíveis – nossas histórias invisíveis – pelo reconhecimento da escutação que se sabe junto expressando os sentimentos e a alegria das palavras do cotidiano
falar e ser escutado, ouvir escutando é a dignidade que educa o respeito àquela que escreve pelo ato de escrever, é o carinho solene daquele que lê pela sede de ser mais
poderíamos continuar pela coordenação motora que se percebe e descobre o mundo, prosseguir pela memorização da vida que segue aprendendo coisas novas e se educa na vida com todas as vidas, aceita que sozinha a vida também faz sentido, talvez possa ser menos divertida, mas não é menos vida
e principalmente precisamos da construção da vida na vida sem ameaças autoritárias, se você é uma professora apaixonada pela vida – e pela educação pública – deveria conciliar, jamais aterrorizar as vidas que educamos
a educação pública não deveria ser a ditadura do ensino que luta com unhas e dentes para não educar, não deveria se intimidar com o mercado global que exige o acúmulo do gado barato e disponível para todos os setores da economia de mercado
As duas têm razão, uma banalidade que não fazemos não é modernidade. A inovação ou renovação – poderíamos discutir as duas – seria escutar o aluno, a aluna, indo além de segurar sua mão...
nestes dias sombrios em que vivemos, amar e lutar pela educação pública é um ato revolucionário com a tarefa mágica de educar com amorosidade, o compromisso radical de humanizar o conhecimento, o desafio de sonhar com entusiasmo, a esperança de recolorir com alegria o cinza chumbo da intolerância, é revolucionário se colocar no lugar não privilegiado dos nossos alunos e alunas
o que é a educação pública? é ser uma vendeira de flores na luta permanente para desconstruir a cultura da intolerância, exclusão –violência que não cai do céu nem surge do inferno, está em nossas raízes, as tradições do passado que seguem avançando infelizes –misógina, homofóbica, racista
chega, anita... chega
a garrafa térmica com a água morna continua no chão, espera a cuia do chimarrão que sai de mão em mão se derramando e retorna roncando
chega, escolho continuar em meus silêncios, ecoando para mim mesma que não quero atrapalhar com meu discurso panfletário comunistinha
no fim do dia, às vezes, acho besteira tomar água morna até a cuia roncar toda babada e o mate ficar lavado, preciso repensar o chimarrão e o cigarro, é foda! dois prazeres enraizados, aprendi de pequena assim, cigarro e café pretinho, chimarrão, pipoca e uma boa conversa, não sei se quero parar, não sei se consigo, sempre foi assim, mesmo depois da sentença da cardiologista, Você é hipertensa e com a artéria aorta dilatada, a minha imbecilidade não queria perguntar nem continuar aquela conversa, mas o bom-senso me traiu, E o que significa isso, doutora, perguntei porque me é impossível desamar da vida, Depende dos sintomas que você apresenta, do grau de dilatação e da velocidade da progressão, eu estava num mundo desconhecido, explicações que pareciam notícias sem nenhum sentido ou mesmo impossíveis para os meus desejos sem voz, fiquei assustada, O que pode acontecer comigo, era isso que eu queria saber sem rodeios ou floreios, A dissecção aórtica, Meu Deus, doutora! O que é isso, sentia o aperto de quem não estava fazendo o que devia, uma vontade louca de sair da sala de aula, ir ao banheiro, caminhar, ver gente, Ela se rompe e o sangue vaza, E não dá para remendar, No seu caso não é um aneurisma clássico, Clássico?! O meu caso não é um Mozart, Beethoven, Bach, mas um funk da pesada, é isso, né, Não sei, não escuto esse funk, Dá para explicar melhor, doutora, Calma, eu vou explicar, Estou escutando, doutora. Sou toda atenção e tensão, A senhora não tem um balãozinho na aorta, esse seria um aneurisma clássico. No seu caso, a dilatação da aorta aconteceu na raiz, junto ao coração, E tem cura, Não, Que bom, Mas tem tratamento para diminuírem os riscos de uma ruptura, A dilatação pode diminuir, é isso, Não. Mas podemos diminuir seus fatores de risco, Está bem, eu vou perguntar, Pergunte, Quais são esse fatores de risco, Eles incluem a idade, e a senhora não se encaixa, ainda, E qual seria essa idade, doutora, Acima de 60 anos, Sério? Que merda! Está mais perto de acontecer essa dissecção aórtica do que me aposentar. O que essa gente desmiolada foi me arrumar. Mas no caso dos meus colegas está mais complicado, muitos não vão se aposentar antes da aorta se romper em sala de aula, no escritório, na oficina, dirigindo táxi ou alguns dos aplicativos de smartphone. Parabéns aos envolvidos, Existe outro fator de risco em que a senhora não se encaixa, E qual seria, Ser do sexo masculino, A homarada está fodida, morrem antes de se aposentarem, Realmente, estão correndo mais riscos, E o que está pegando comigo, doutora, O tabagismo, colesterol alto, taxa altíssima de açúcar, hipertensão, Tá bem, tá bem, doutora. Entendi, Eu posso lhe ajudar no controle da hipertensão com medicação específica, mas abandonar em definitivo o tabagismo, as frituras, os refrigerantes e o álcool são passos que não podem ser adiados, A doutora está de brincadeira, Não, é sério. E muito grave!
outras vezes, penso que tudo isso é besteira e inútil, eu poderia e deveria contribuir para denunciar os urubus marchadores, mas precisaria da armadura e da cavalaria de seu jorge
essa gente que louva controlar tudo nos impede os caminhos próprios e produz tensões políticas-sociais para consolidar seu poder, é gente que atrapalha, dificulta e frusta o crescimento acelerado da educação pública, é o seu jeito estúpido de estagnar e diminuir – nessa sequência sórdida – as vidas na escola pública, fazendo-nos sentir pior do que nunca
a educação pública fica para depois, o futuro parece eterno
reconheço a minha preguiça reativa, ela me faz cada dia menos mística e alegórica, desacreditando da felicidade, da salvação, da paciência e da vida, não faço mais bolos de chocolate e não me esqueço que você já foi meu um dia, até que o grito sai da garganta do vulcão, Foda-se esse mundo de mentiras!, ainda existe saudade em mim, Deixa em ti amar!
escolho as minhas contradições às verdades eternas, prefiro a audácia da dúvida ao entrave das certezas que me repetem até a exaustão, mulheres e homens que reproduzem verdades de merda, seguem o sofrimento do homem na cruz e aceitam a morte, a violência, como solução possível para tudo que está fora do eixo das verdades imutáveis e perpétuas do macho cis hétero, branco e olhos azuis
não me encaixo na doutrina da resignação, não me ajusto neste tempo sem coração e sem perdão que não se pensa adiante dele, entregue ao hábito do hálito do medo com a decepção no olhar cada dia mais triste, como se isso fosse viver – chorando, adorando, louvando – sem o atrevimento da professora que planeja e educa com amorosidade o conhecimento, ilumina a escuridão e trás o perdão
escolho me colocar outras questões além daquelas que o poder me coloca – incluo aqui todo e qualquer poder: político, econômico, midiático e religioso – para lembrar do passado que o futuro não é eterno, assim vou reagindo ao presente, é uma tarefa difícil compreender a nossa existência contemporânea
eu sei, eu não sei
estamos pequeninos grãos de areia enquanto encerradas em mentiras de céu e inferno, fraude que se tornou impensável desmentir
... brincadeira ou não, espero que não tenha sido uma brincadeira, dialogar com os alunos e alunas sobre o que aprender, sobre o que precisamos ensinar, isso é modernidade, isso é educar, isso é revolucionário!
o marko se impõe além dos gestos exatos e contidos, sem exageros, a voz perfeitamente modulada, cordial, nenhuma vaidade, tem um tipo esbelto, cabelos curtos, óculos sobre o nariz, estatura mediana e um discreto sorriso bondoso, a energia da vida está mergulhada em seus sonhos que incendeiam e iluminam à sua volta
sinto que terei saudades do tempo em que conversamos sobre essa confusão maravilhosa que é viver na escola
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Leia também:
parábolas: ensaio 001A / Camarada, Ofélia!
parábolas: ensaio 002A / o coração livre para voar
parábolas: ensaio 003A / macho, branco e dono de tudo
parábolas: ensaio 004A / uma carreta de bois
parábolas: ensaio 005A / amar para se deliciar junto
parábolas: ensaio 006A / civismo cínico
parábolas: ensaio 007A / o compromisso
parábolas: ensaio 008A / minicontos de natal
parábolas: ensaio 009A / a fome que nunca passa
parábolas: ensaio 010A / o medo no cardápio pedagógico
o futuro não é eterno
Ensaio 011A – 3ª.ed
baitasar e paulus e marko e kamilá
a pedagogia é – ou poderia ser – a integração articulada das ações e reflexões do ensino com a educação e o cotidiano escolar, mas como não sucumbir ao terrorismo do mercado egocêntrico, imobilista, egoísta e individualista, como não murchar à concepção bancária querendo que todos e todas sejam como esse mercado egoísta do macho competitivo e hétero que nos diz o que fazer, como ser, o que rezar ou orar, e pasmem!, querem nos ensinar a blasfemar!
fazem uma guerra-contínua de impor a própria vontade e os próprios costumes, uma guerra de pessoas contra pessoas que todas sabemos existir
e convenientemente fechamos os olhos à intolerância excludente que o terrorismo do mercado provoca, desintegrando a educação pública pelo êxodo, num cotidiano de sístoles e diástoles que parece nos encaminhar em câmara lenta para um inevitável estado de sítio de boatos alarmantes, fantasias, mentiras e grosserias?
seria a pedagogia das pessoas levianas uma ditadura do lucro? seria uma técnica de controle da educação e das suas inevitáveis consequências?
aqui estou, nenhuma paz e sendo tolerante comigo mesma – às vezes, não faço a menor ideia do que estou fazendo comigo e com nossos alunos e alunas – e também com aquelas que poderão ser essas alunas e alunos
com o passar dos anos a educação pública passou por ciclos de melhora e que parecem desaparecer nas cinzas das alegorias de mamadeiras de piroca, mentem e difamam a educação pública, as pessoas sabem que não estão felizes dentro destas e tantas outras mentiras, mas acordam pensando que serão louvadas sendo mais egoístas e intolerantes do que já somos
se você é apaixonada pela educação pública pode não saber ao certo com quais instrumentos deseja começar, mas sabe que você e nossos alunos e nossas alunas já possuem voz, olhos, mãos e pernas com histórias para contar
então, o encontro ou reencontro com a educação que você procura poderia começar com a reconstrução destas histórias invisíveis – nossas histórias invisíveis – pelo reconhecimento da escutação que se sabe junto expressando os sentimentos e a alegria das palavras do cotidiano
falar e ser escutado, ouvir escutando é a dignidade que educa o respeito àquela que escreve pelo ato de escrever, é o carinho solene daquele que lê pela sede de ser mais
poderíamos continuar pela coordenação motora que se percebe e descobre o mundo, prosseguir pela memorização da vida que segue aprendendo coisas novas e se educa na vida com todas as vidas, aceita que sozinha a vida também faz sentido, talvez possa ser menos divertida, mas não é menos vida
e principalmente precisamos da construção da vida na vida sem ameaças autoritárias, se você é uma professora apaixonada pela vida – e pela educação pública – deveria conciliar, jamais aterrorizar as vidas que educamos
a educação pública não deveria ser a ditadura do ensino que luta com unhas e dentes para não educar, não deveria se intimidar com o mercado global que exige o acúmulo do gado barato e disponível para todos os setores da economia de mercado
As duas têm razão, uma banalidade que não fazemos não é modernidade. A inovação ou renovação – poderíamos discutir as duas – seria escutar o aluno, a aluna, indo além de segurar sua mão...
nestes dias sombrios em que vivemos, amar e lutar pela educação pública é um ato revolucionário com a tarefa mágica de educar com amorosidade, o compromisso radical de humanizar o conhecimento, o desafio de sonhar com entusiasmo, a esperança de recolorir com alegria o cinza chumbo da intolerância, é revolucionário se colocar no lugar não privilegiado dos nossos alunos e alunas
o que é a educação pública? é ser uma vendeira de flores na luta permanente para desconstruir a cultura da intolerância, exclusão –violência que não cai do céu nem surge do inferno, está em nossas raízes, as tradições do passado que seguem avançando infelizes –misógina, homofóbica, racista
chega, anita... chega
a garrafa térmica com a água morna continua no chão, espera a cuia do chimarrão que sai de mão em mão se derramando e retorna roncando
chega, escolho continuar em meus silêncios, ecoando para mim mesma que não quero atrapalhar com meu discurso panfletário comunistinha
no fim do dia, às vezes, acho besteira tomar água morna até a cuia roncar toda babada e o mate ficar lavado, preciso repensar o chimarrão e o cigarro, é foda! dois prazeres enraizados, aprendi de pequena assim, cigarro e café pretinho, chimarrão, pipoca e uma boa conversa, não sei se quero parar, não sei se consigo, sempre foi assim, mesmo depois da sentença da cardiologista, Você é hipertensa e com a artéria aorta dilatada, a minha imbecilidade não queria perguntar nem continuar aquela conversa, mas o bom-senso me traiu, E o que significa isso, doutora, perguntei porque me é impossível desamar da vida, Depende dos sintomas que você apresenta, do grau de dilatação e da velocidade da progressão, eu estava num mundo desconhecido, explicações que pareciam notícias sem nenhum sentido ou mesmo impossíveis para os meus desejos sem voz, fiquei assustada, O que pode acontecer comigo, era isso que eu queria saber sem rodeios ou floreios, A dissecção aórtica, Meu Deus, doutora! O que é isso, sentia o aperto de quem não estava fazendo o que devia, uma vontade louca de sair da sala de aula, ir ao banheiro, caminhar, ver gente, Ela se rompe e o sangue vaza, E não dá para remendar, No seu caso não é um aneurisma clássico, Clássico?! O meu caso não é um Mozart, Beethoven, Bach, mas um funk da pesada, é isso, né, Não sei, não escuto esse funk, Dá para explicar melhor, doutora, Calma, eu vou explicar, Estou escutando, doutora. Sou toda atenção e tensão, A senhora não tem um balãozinho na aorta, esse seria um aneurisma clássico. No seu caso, a dilatação da aorta aconteceu na raiz, junto ao coração, E tem cura, Não, Que bom, Mas tem tratamento para diminuírem os riscos de uma ruptura, A dilatação pode diminuir, é isso, Não. Mas podemos diminuir seus fatores de risco, Está bem, eu vou perguntar, Pergunte, Quais são esse fatores de risco, Eles incluem a idade, e a senhora não se encaixa, ainda, E qual seria essa idade, doutora, Acima de 60 anos, Sério? Que merda! Está mais perto de acontecer essa dissecção aórtica do que me aposentar. O que essa gente desmiolada foi me arrumar. Mas no caso dos meus colegas está mais complicado, muitos não vão se aposentar antes da aorta se romper em sala de aula, no escritório, na oficina, dirigindo táxi ou alguns dos aplicativos de smartphone. Parabéns aos envolvidos, Existe outro fator de risco em que a senhora não se encaixa, E qual seria, Ser do sexo masculino, A homarada está fodida, morrem antes de se aposentarem, Realmente, estão correndo mais riscos, E o que está pegando comigo, doutora, O tabagismo, colesterol alto, taxa altíssima de açúcar, hipertensão, Tá bem, tá bem, doutora. Entendi, Eu posso lhe ajudar no controle da hipertensão com medicação específica, mas abandonar em definitivo o tabagismo, as frituras, os refrigerantes e o álcool são passos que não podem ser adiados, A doutora está de brincadeira, Não, é sério. E muito grave!
outras vezes, penso que tudo isso é besteira e inútil, eu poderia e deveria contribuir para denunciar os urubus marchadores, mas precisaria da armadura e da cavalaria de seu jorge
essa gente que louva controlar tudo nos impede os caminhos próprios e produz tensões políticas-sociais para consolidar seu poder, é gente que atrapalha, dificulta e frusta o crescimento acelerado da educação pública, é o seu jeito estúpido de estagnar e diminuir – nessa sequência sórdida – as vidas na escola pública, fazendo-nos sentir pior do que nunca
a educação pública fica para depois, o futuro parece eterno
reconheço a minha preguiça reativa, ela me faz cada dia menos mística e alegórica, desacreditando da felicidade, da salvação, da paciência e da vida, não faço mais bolos de chocolate e não me esqueço que você já foi meu um dia, até que o grito sai da garganta do vulcão, Foda-se esse mundo de mentiras!, ainda existe saudade em mim, Deixa em ti amar!
escolho as minhas contradições às verdades eternas, prefiro a audácia da dúvida ao entrave das certezas que me repetem até a exaustão, mulheres e homens que reproduzem verdades de merda, seguem o sofrimento do homem na cruz e aceitam a morte, a violência, como solução possível para tudo que está fora do eixo das verdades imutáveis e perpétuas do macho cis hétero, branco e olhos azuis
não me encaixo na doutrina da resignação, não me ajusto neste tempo sem coração e sem perdão que não se pensa adiante dele, entregue ao hábito do hálito do medo com a decepção no olhar cada dia mais triste, como se isso fosse viver – chorando, adorando, louvando – sem o atrevimento da professora que planeja e educa com amorosidade o conhecimento, ilumina a escuridão e trás o perdão
escolho me colocar outras questões além daquelas que o poder me coloca – incluo aqui todo e qualquer poder: político, econômico, midiático e religioso – para lembrar do passado que o futuro não é eterno, assim vou reagindo ao presente, é uma tarefa difícil compreender a nossa existência contemporânea
eu sei, eu não sei
estamos pequeninos grãos de areia enquanto encerradas em mentiras de céu e inferno, fraude que se tornou impensável desmentir
... brincadeira ou não, espero que não tenha sido uma brincadeira, dialogar com os alunos e alunas sobre o que aprender, sobre o que precisamos ensinar, isso é modernidade, isso é educar, isso é revolucionário!
o marko se impõe além dos gestos exatos e contidos, sem exageros, a voz perfeitamente modulada, cordial, nenhuma vaidade, tem um tipo esbelto, cabelos curtos, óculos sobre o nariz, estatura mediana e um discreto sorriso bondoso, a energia da vida está mergulhada em seus sonhos que incendeiam e iluminam à sua volta
sinto que terei saudades do tempo em que conversamos sobre essa confusão maravilhosa que é viver na escola
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