quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (14)

 Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1


1
Estudos de Costumes 
- Cenas da Vida Privada



Memórias de duas jovens esposas





PRIMEIRA PARTE




XIV – O DUQUE DE SÓRIA AO BARÃO DE MACUMER



Madri



Meu caro irmão, não fizeste de mim um duque de Sória para que eu não procedesse como um duque de Sória. Se eu te soubesse errante e sem as doçuras que a fortuna dá por toda a parte, tornar-me-ia a felicidade insuportável. Nem Maria nem eu nos queremos casar até que venhamos a saber que aceitaste o dinheiro que te enviamos por Urraca. Esses dois milhões provêm das tuas próprias economias e das de Maria. Rezamos os dois, ajoelhados ante o mesmo altar e com que fervor! Ah! Deus o sabe! Por tua felicidade. Ó meu irmão! Nossos votos devem ser satisfeitos. O amor que buscas e que seria o consolo de teu exílio baixará do céu. Maria leu tua carta, chorando, e tens toda a sua admiração. Quanto a mim, aceitei por nossa casa, não por mim. O rei não desmentiu as tuas previsões. Ah! Atiraste-lhe com tanto desdém o que ele ambicionava, como se atira aos tigres a sua presa, que, para te vingar, eu quisera fazer-lhe saber como o esmagaste com a tua grandeza. A única coisa que tomei para mim, querido irmão, foi a minha felicidade, Maria. Mas também serei sempre diante de ti o que a criatura é para o Criador. Em minha vida, bem como na de Maria, haverá um dia tão belo como o nosso feliz casamento, será aquele em que viermos a saber que o teu coração foi compreendido, que uma mulher te ama como mereces e queres ser amado. Não esqueças que se vives para nós, nós também vivemos para ti. Podes escrever-nos com toda a confiança, ao cuidado do núncio, mandando tuas cartas via Roma. O embaixador de França em Roma se encarregará, sem dúvida, de remeter a secretaria de Estado, a monsignore Bemboni, que deve ter sido prevenido por nosso legado. Qualquer outra via seria má.

Adeus, querido despojado, querido exilado. Se não puderes ser feliz com a felicidade que nos deste, ao menos orgulha-te dela.

Deus, com certeza, ouvirá nossas preces, cheias de ti.

FERNANDO





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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.[1] Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava.[1] De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Balzac, Honoré de, 1799-1850. 
          A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac;                            orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São                  Paulo: Globo, 2012. 

          (A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1                    0.000 kb; ePUB 

1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série. 

12-13086                                                                               cdd-843 

Índices para catálogo sistemático: 
1. Romances: Literatura francesa 843

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