Oiá — Iansã
Reginaldo
Prandi
Oiá recebe
o nome de Iansã, mãe dos nove filhos
Oiá
desejava ter filhos, mas não podia conceber. Oiá foi consultar um babalaô e ele
mandou que ela fizesse um ebó. Ela
deveria oferecer um carneiro, um agutã,
muitos búzios e muitas roupas coloridas.
Oiá
fez o sacrifício e teve nove filhos. Quando ela passava, indo em direção ao
mercado, o povo dizia: “Lá vai Iansã”. Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove
vezes. E lá ia ela orgulhosa ao mercado vender azeite-de-dendê.
Oiá não
podia ter filhos, mas teve nove, depois de sacrificar um carneiro. E em sinal
de respeito, por ter seu pedido atendido, Iansã, a mãe dos nove filhos, nunca
mais comeu carneiro.
[163]
Oiá nasce na casa de Oxum
Um
rei tinha uma filha chamada Ala. Ele queria casá-la com um príncipe poderoso. No entanto, a princesa tinha um amante
e do amante ela esperava um filho. Sabedor do fato, o rei resolveu matá-la. Numa barca, levou a princesa até o
meio do rio, do rio onde vivia Oxum. Jogou a princesa no meio do rio, a casa de
Oxum. O rei tinha um papagaio que o acompanhava sempre. O papagaio tudo
presenciou.
Tempos
depois, alguns pescadores viram uma caixa boiando no rio. Foram ver de perto e
dentro tinha uma criança. Assustaram-se com o que viram. Temerosos, abandonaram
seu achado na margem do rio. Pelo mesmo lugar passou outra embarcação. Seus
ocupantes foram atraídos pelo choro da criança. Os viajantes recolheram a
criança e a levaram como presente ao rei. O rei ficou feliz com o presente e
resolveu apresentar a criança ao povo como sendo filha sua. Ele sentia falta da
filha que afogara, sentia-se sozinho.
Deu
uma festa para apresentar a nova filha que adotara. Quando todos estavam
reunidos o papagaio contou-lhes acerca de todo o sucedido. Disse que a menina
havia nascido na casa de Oxum. Portanto, deveriam devolvê-la ao rio. O rei então se deu conta de que a menina era sua neta e
devolveu-a ao rio onde nascera. A criança cresceu protegida por Oxum. Essa
menina era Oiá.
[164]
Oiá é disputada por Xangô e Ogum
Oiá
era uma mulher muito desejada, que além de bela, sedutora e guerreira preparava
deliciosos acarajés como ninguém. Um dia Xangô raptou Oiá da casa de Ogum.
Voltando de uma caçada, Ogum ficou ciente do ocorrido e mandou uma mensagem a
Xangô: iria buscar sua mulher.
Começava
a rivalidade pela conquista de Oiá.
Os
dois prepararam-se para o litígio. Cada um consultou Ifá e fez as oferendas
necessárias e ambos colocaram as oferendas numa estrada. Ogum ofereceu inhames
e farofa. Xangô, por sua vez, ofereceu amalá
e orobôs, Ogum apresentou-se com sete
escravos e Xangô com doze. Ogum não se amedrontou e ambos partiram para a luta.
Antes, porém, comeram das comidas oferecidas. Começaram a lutar e nunca mais
pararam.
E
até hoje dessa guerra muitas aventuras são contadas. Nessa luta Oiá ganhou de
Ogum uma espada e nunca mais deixou de ser uma guerreira. Muitas aventuras
dessa guerra são contadas e todas falam de uma Oiá guerreira e amante, sempre
disputada por Xangô e Ogum, os seus amados.
[177]
______________
Leia também:
XIX – Mitologia dos Orixás: Obá [183] [184]
Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor
titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de
livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac
Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou
também Segredos guardados: orixás na alma brasileira; Morte nos
búzios; Ifá, o
Adivinho; Xangô, o Trovão; Oxumarê, o Arco-Íris; Contos e
lendas afro-brasileiros: a criação do mundo; Minha querida assombração; Jogo de
escolhas e Feliz Aniversário.
Prandi, Reginaldo.
Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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