terça-feira, 20 de maio de 2014

XVIII – Mitologia dos Orixás: Oiá - Iansã [163] [164] [177]

Oiá — Iansã
Reginaldo Prandi
Oiá recebe o nome de Iansã, mãe dos nove filhos
Oiá desejava ter filhos, mas não podia conceber. Oiá foi consultar um babalaô e ele mandou que ela fizesse um ebó. Ela deveria oferecer um carneiro, um agutã, muitos búzios e muitas roupas coloridas.
Oiá fez o sacrifício e teve nove filhos. Quando ela passava, indo em direção ao mercado, o povo dizia: “Lá vai Iansã”. Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove vezes. E lá ia ela orgulhosa ao mercado vender azeite-de-dendê.
Oiá não podia ter filhos, mas teve nove, depois de sacrificar um carneiro. E em sinal de respeito, por ter seu pedido atendido, Iansã, a mãe dos nove filhos, nunca mais comeu carneiro.
[163]


Oiá nasce na casa de Oxum
Um rei tinha uma filha chamada Ala. Ele queria casá-la com um príncipe poderoso. No entanto, a princesa tinha um amante e do amante ela esperava um filho. Sabedor do fato, o rei resolveu matá-la. Numa barca, levou a princesa até o meio do rio, do rio onde vivia Oxum. Jogou a princesa no meio do rio, a casa de Oxum. O rei tinha um papagaio que o acompanhava sempre. O papagaio tudo presenciou.
Tempos depois, alguns pescadores viram uma caixa boiando no rio. Foram ver de perto e dentro tinha uma criança. Assustaram-se com o que viram. Temerosos, abandonaram seu achado na margem do rio. Pelo mesmo lugar passou outra embarcação. Seus ocupantes foram atraídos pelo choro da criança. Os viajantes recolheram a criança e a levaram como presente ao rei. O rei ficou feliz com o presente e resolveu apresentar a criança ao povo como sendo filha sua. Ele sentia falta da filha que afogara, sentia-se sozinho.
Deu uma festa para apresentar a nova filha que adotara. Quando todos estavam reunidos o papagaio contou-lhes acerca de todo o sucedido. Disse que a menina havia nascido na casa de Oxum. Portanto, deveriam devolvê-la ao rio. O rei então se deu conta de que a menina era sua neta e devolveu-a ao rio onde nascera. A criança cresceu protegida por Oxum. Essa menina era Oiá.
[164]

Oiá é disputada por Xangô e Ogum
Oiá era uma mulher muito desejada, que além de bela, sedutora e guerreira preparava deliciosos acarajés como ninguém. Um dia Xangô raptou Oiá da casa de Ogum. Voltando de uma caçada, Ogum ficou ciente do ocorrido e mandou uma mensagem a Xangô: iria buscar sua mulher.
Começava a rivalidade pela conquista de Oiá.
Os dois prepararam-se para o litígio. Cada um consultou Ifá e fez as oferendas necessárias e ambos colocaram as oferendas numa estrada. Ogum ofereceu inhames e farofa. Xangô, por sua vez, ofereceu amalá e orobôs, Ogum apresentou-se com sete escravos e Xangô com doze. Ogum não se amedrontou e ambos partiram para a luta. Antes, porém, comeram das comidas oferecidas. Começaram a lutar e nunca mais pararam.
E até hoje dessa guerra muitas aventuras são contadas. Nessa luta Oiá ganhou de Ogum uma espada e nunca mais deixou de ser uma guerreira. Muitas aventuras dessa guerra são contadas e todas falam de uma Oiá guerreira e amante, sempre disputada por Xangô e Ogum, os seus amados.
[177]
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Leia também:

XVII – Mitologia dos Orixás: Xangô [123] [124]

XIX – Mitologia dos Orixás: Obá [183] [184]


Reginaldo Prandi, paulista de Potirendaba e professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo, é autor de três dezenas de livros. Pela editora Hucitec publicou Os candomblés de São Paulo, pela Edusp, Um sopro do Espírito, e pela Cosac Naify, Os príncipes do destino. Dele, a Companhia das Letras publicou também Segredos guardados: orixás na alma brasileiraMorte nos búziosIfá, o AdivinhoXangô, o TrovãoOxumarê, o Arco-ÍrisContos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundoMinha querida assombraçãoJogo de escolhas e Feliz Aniversário.


Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás / Reginaldo Prandi; ilustrações de Pedro Rafael. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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