Um Conto de Natal
_____________________
Charles Dickens: Um Conto de Natal 01
Charles Dickens: Um Conto de Natal 02
Charles Dickens: Um Conto de Natal 03
Charles Dickens: Um Conto de Natal 04
Charles Dickens: Um Conto de Natal 05
Charles Dickens: Um Conto de Natal 06
Charles Dickens: Um Conto de Natal 07
Charles Dickens: Um Conto de Natal 08
Charles Dickens: Um Conto de Natal 09
Charles Dickens: Um Conto de Natal 11
Charles Dickens
10
TERCEIRA ESTROFE
O segundo dos três espíritos
Foram muito longe, viram muitas coisas, visitaram muitos lares, semeando sempre o bem por onde passavam. O espírito parava à cabeceira dos enfermos, e os enfermos sorriam; parava em terra estranha, e os exilados acreditavam estar em sua própria pátria; parava perto daqueles que sofriam e lutavam, e logo a esperança renascia em seus corações; detinha-se perto dos pobres, e os pobres julgavam-se ricos. Nos hospitais, como nos asilos e nas prisões, nestes refúgios da miséria, onde o homem orgulhoso não havia usado de sua efêmera autoridade senão para lhe defender a entrada, o espírito espalhava suas bênçãos, ensinando a Scrooge os preceitos da caridade.
Foi uma longa noite, o que o fez suspeitar de que todos os dias de festa do Natal se tinham condensado no espaço de tempo em que eles peregrinaram juntos.
Coisa curiosa! Enquanto Scrooge permanecia o mesmo, o espírito envelhecia a olhos vistos. Scrooge observou esta mudança sem dizer nada, até ao momento em que, deixando uma reunião de crianças, que estavam festejando o dia de Reis, viu que os cabelos do espírito estavam ficando grisalhos.
– A vida dos espíritos é assim tão breve? – perguntou ele.
– De fato, minha vida aqui na terra é bastante curta, respondeu o fantasma. Ela termina esta noite.
– Esta noite mesmo? – exclamou Scrooge.
– À meia-noite. Ouve! A hora aproxima-se.
No mesmo instante, o carrilhão bateu onze e três quartos.
– Perdoai minha pergunta, se ela é indiscreta, – disse Scrooge com os olhos fixos nas roupas do espírito. Esta coisa esquisita que está saindo por baixo da vossa roupa e que não vos pertence, é um pé ou uma garra?
– Tão leve camada de carne o recobre, – disse o espírito com tristeza, que mais poderia ser uma garra. Olha bem.
Das dobras de seu manto, fez sair duas crianças, duas miseráveis criaturas, hediondas, abjetas e repugnantes, que se ajoelharam diante dele e se agarraram ao seu manto.
– Homem insensível, olha! Olha a teus pés! – exclamou o fantasma.
Eram um menino e uma menina. Pálidos, magros e esfarrapados, tinham uma expressão bravia e odiosa, mas ao mesmo tempo rastejante e humilde. Seus rostos, onde deveria ter desabrochado o frescor da juventude, eram macilentos, encarquilhados, desfeitos, como se a mão do tempo os tivesse tocado. Jamais a criação, em seus insondáveis mistérios, produzira mais feios monstros.
Scrooge recuou espantado. Mas, como era o espírito que os estava apresentando, ia dizer que eram belas crianças; as palavras, porém, lhe morreram na garganta, recusando-se a dizer tão monstruosa mentira.
– Espírito, estas crianças são vossas?...
Scrooge não pôde prosseguir.
– São filhos do Homem, – disse o espírito, baixando o olhar sobre ele. Estão agarrados a mim para pedir justiça contra seus pais. Este é a Ignorância, e aquela, a Miséria. Toma cuidado contra um e outro, mas especialmente contra a Ignorância; pois vejo escrito em sua fronte a palavra “condenação” e se esta palavra não for apagada, a predição se cumprirá. – Negai-o, todos vós! – clamou o espírito com voz forte, estendendo a mão sobre a cidade. Caluniai aqueles que vos avisam! Tolerai e encorajai um flagelo que serve para os vossos negros desígnios!... Mas temei o fim!
– E eles não têm nenhum recurso? Não há para eles nenhum refúgio? – exclamou Scrooge.
– Sim? E não há as prisões? – disse o espírito repetindo-lhe ainda uma vez suas próprias palavras. Não há as casas de correção?
O relógio bateu as doze badaladas.
Scrooge procurou o espírito com os olhos e já não o viu mais.
Quando acabou de bater a última badalada, Scrooge lembrou-se da predição de Jacob Marley, e, erguendo os olhos, avistou uma sombra escura inteiramente velada, que avançava para ele, deslizando como a bruma pela superfície do solo.
Foi uma longa noite, o que o fez suspeitar de que todos os dias de festa do Natal se tinham condensado no espaço de tempo em que eles peregrinaram juntos.
Coisa curiosa! Enquanto Scrooge permanecia o mesmo, o espírito envelhecia a olhos vistos. Scrooge observou esta mudança sem dizer nada, até ao momento em que, deixando uma reunião de crianças, que estavam festejando o dia de Reis, viu que os cabelos do espírito estavam ficando grisalhos.
– A vida dos espíritos é assim tão breve? – perguntou ele.
– De fato, minha vida aqui na terra é bastante curta, respondeu o fantasma. Ela termina esta noite.
– Esta noite mesmo? – exclamou Scrooge.
– À meia-noite. Ouve! A hora aproxima-se.
No mesmo instante, o carrilhão bateu onze e três quartos.
– Perdoai minha pergunta, se ela é indiscreta, – disse Scrooge com os olhos fixos nas roupas do espírito. Esta coisa esquisita que está saindo por baixo da vossa roupa e que não vos pertence, é um pé ou uma garra?
– Tão leve camada de carne o recobre, – disse o espírito com tristeza, que mais poderia ser uma garra. Olha bem.
Das dobras de seu manto, fez sair duas crianças, duas miseráveis criaturas, hediondas, abjetas e repugnantes, que se ajoelharam diante dele e se agarraram ao seu manto.
– Homem insensível, olha! Olha a teus pés! – exclamou o fantasma.
Eram um menino e uma menina. Pálidos, magros e esfarrapados, tinham uma expressão bravia e odiosa, mas ao mesmo tempo rastejante e humilde. Seus rostos, onde deveria ter desabrochado o frescor da juventude, eram macilentos, encarquilhados, desfeitos, como se a mão do tempo os tivesse tocado. Jamais a criação, em seus insondáveis mistérios, produzira mais feios monstros.
Scrooge recuou espantado. Mas, como era o espírito que os estava apresentando, ia dizer que eram belas crianças; as palavras, porém, lhe morreram na garganta, recusando-se a dizer tão monstruosa mentira.
– Espírito, estas crianças são vossas?...
Scrooge não pôde prosseguir.
– São filhos do Homem, – disse o espírito, baixando o olhar sobre ele. Estão agarrados a mim para pedir justiça contra seus pais. Este é a Ignorância, e aquela, a Miséria. Toma cuidado contra um e outro, mas especialmente contra a Ignorância; pois vejo escrito em sua fronte a palavra “condenação” e se esta palavra não for apagada, a predição se cumprirá. – Negai-o, todos vós! – clamou o espírito com voz forte, estendendo a mão sobre a cidade. Caluniai aqueles que vos avisam! Tolerai e encorajai um flagelo que serve para os vossos negros desígnios!... Mas temei o fim!
– E eles não têm nenhum recurso? Não há para eles nenhum refúgio? – exclamou Scrooge.
– Sim? E não há as prisões? – disse o espírito repetindo-lhe ainda uma vez suas próprias palavras. Não há as casas de correção?
O relógio bateu as doze badaladas.
Scrooge procurou o espírito com os olhos e já não o viu mais.
Quando acabou de bater a última badalada, Scrooge lembrou-se da predição de Jacob Marley, e, erguendo os olhos, avistou uma sombra escura inteiramente velada, que avançava para ele, deslizando como a bruma pela superfície do solo.
_____________________
Leia também:
Charles Dickens: Um Conto de Natal 02
Charles Dickens: Um Conto de Natal 03
Charles Dickens: Um Conto de Natal 04
Charles Dickens: Um Conto de Natal 05
Charles Dickens: Um Conto de Natal 06
Charles Dickens: Um Conto de Natal 07
Charles Dickens: Um Conto de Natal 08
Charles Dickens: Um Conto de Natal 09
Charles Dickens: Um Conto de Natal 11
Nenhum comentário:
Postar um comentário