Poesia Africana - 07
Terra-Longe
Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sono que não vinha.
"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente."
A doce toada
meu sono caia de manso
da boca de minha mãe:
"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente-gentio
gente-gentio corne gente."
E envelheceu lá dentro
Não posso conceber
O que vêem as meninas
Dos meus olhos
Depois que sou livre.
Abrolhos são flores,
Amores, vida.
0 que é a magia da sombra!...
Agora já posso gritar:
Livre! Livre!
Tapei o poço da morte, a cantar.
(1905-1942)
Valter Hugo Mãe (Angola)
inês subtil
talvez seja o momento de te dizer
que sou da mais vil beleza, feito de
amar entre os homens apenas as coisas
mais efêmeras
talvez seja o momento de te dizer
que me cresceram os teus seios mais
jovens, numa indisfarçável necessidade de
que me pertençam entre as coisas
que te cedo
talvez seja o momento de te dizer
que o teu corpo mulher é um exagero do
meu deus, generoso mais do que nunca na
liberdade da minha fome
não estou certo de que seja o momento de
pedir mais ainda, quanto te roubo a alma e
aos poucos a entorno pelo caminho até ao
outrora vazio do meu coração
como não sei se será certo padecer de alguma
felicidade imprudentemente, naquele
miudinho perigoso de estar quase a
morrer de amor por ti
também eu me sinto capaz de desmaiar com
um orgasmo. mas só agora, aos trinta e
sete anos, só contigo
Tony Tcheka (Guiné-Bissau)
Abusivamente
A noite rotineira
A noite colonial
Foi vencida...
Vencida !!!
Banida!!!
Expulsa do nosso seio
Focos da Estrela Negra
Iluminaram a noite odiosa
Cantilenas... Spinoló Marcelistas
Metemo-las na mesma nau
(a tal que sulcava os mares)
Devolvêmo-las aos mares nunca dantes
Historietas...
Contos milagreiros...
Promessas, e... tudo o mais
Expedimo-las... e foram
Encalharam, na ponta de Sagres
Com o excesso do peso...
O peso das mortes
O peso dos corpos mutilados
O peso das torturas... Prisões! Sacrifícios!!!
O peso da fome...
Da subalimentação
O peso da História
História de dor e lágrimas
Imposta pela violência repressiva (abusivamente)
Mas é verdade
Vencidos... Banidos, expulsos, metidos na mesma nau
Encalharam... Lá... Para além do Cabo
Para não mais voltar...
Terra-Longe
Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sono que não vinha.
"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente."
A doce toada
meu sono caia de manso
da boca de minha mãe:
"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente-gentio
gente-gentio corne gente."
E envelheceu lá dentro
Não posso conceber
O que vêem as meninas
Dos meus olhos
Depois que sou livre.
Abrolhos são flores,
Amores, vida.
0 que é a magia da sombra!...
Agora já posso gritar:
Livre! Livre!
Tapei o poço da morte, a cantar.
(1905-1942)
Valter Hugo Mãe (Angola)
inês subtil
talvez seja o momento de te dizer
que sou da mais vil beleza, feito de
amar entre os homens apenas as coisas
mais efêmeras
talvez seja o momento de te dizer
que me cresceram os teus seios mais
jovens, numa indisfarçável necessidade de
que me pertençam entre as coisas
que te cedo
talvez seja o momento de te dizer
que o teu corpo mulher é um exagero do
meu deus, generoso mais do que nunca na
liberdade da minha fome
não estou certo de que seja o momento de
pedir mais ainda, quanto te roubo a alma e
aos poucos a entorno pelo caminho até ao
outrora vazio do meu coração
como não sei se será certo padecer de alguma
felicidade imprudentemente, naquele
miudinho perigoso de estar quase a
morrer de amor por ti
também eu me sinto capaz de desmaiar com
um orgasmo. mas só agora, aos trinta e
sete anos, só contigo
Tony Tcheka (Guiné-Bissau)
Abusivamente
A noite rotineira
A noite colonial
Foi vencida...
Vencida !!!
Banida!!!
Expulsa do nosso seio
Focos da Estrela Negra
Iluminaram a noite odiosa
Cantilenas... Spinoló Marcelistas
Metemo-las na mesma nau
(a tal que sulcava os mares)
Devolvêmo-las aos mares nunca dantes
Historietas...
Contos milagreiros...
Promessas, e... tudo o mais
Expedimo-las... e foram
Encalharam, na ponta de Sagres
Com o excesso do peso...
O peso das mortes
O peso dos corpos mutilados
O peso das torturas... Prisões! Sacrifícios!!!
O peso da fome...
Da subalimentação
O peso da História
História de dor e lágrimas
Imposta pela violência repressiva (abusivamente)
Mas é verdade
Vencidos... Banidos, expulsos, metidos na mesma nau
Encalharam... Lá... Para além do Cabo
Para não mais voltar...
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