segunda-feira, 19 de outubro de 2020

mulheres descalças: a perigosa é ela

 mulheres descalças


a perigosa é ela 
Ensaio 127Bzl – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Não adianta querer comprar a lua e estar vazia de tanta fome. É melhor o mesmo de sempre, se acomodar e agradecer a vida que ainda tem. Existe um mundo melhor, mas é muito caro e dos brancos.

Sinhô Augusto, o paizinho não esqueça que ela precisou sobreviver.

mesmo quando se nega, dona rosinha se faz caridosa como a metade boa das coisa ruim, a vida é mais complicada quias história contada, os nó da vida dum amarra os nó da vida dotra vida e tem os nó qui amarra uns nosotro e só desamarra cortando, tem veiz qui num tem quem desamarra nem quem faça o corte, E todos não precisamos sobreviver? Não é possível desfazer as diferenças da vida, mãezinha. Uns nascem com negrume na cara e nas mãos enquanto outros nascem brancos... é assim, e pronto. Uns nascem homem, outros nascem mulher, Não entendi, O que a mãezinha não entendeu, Uns nascem homem e outros nascem mulher. O siô Augusto acredita que homem nasce mulher, Da costela, dona Rosinha! E essas coisas não se falam em público nem em casa. Aqui na Villa Alegre solidariedade é cor-de-rosa, coisa de mulherzinha, só da boca para fora, parô as palavra, tava dizendo mais duqui devia dizê, os pensamento queimava no siô augusto, As mulheres são assim mesmo, provocativas. Uns demônios! Fazem o vivente dizer o que não deve e não quer. A mãezinha é igual, ela me provoca e depois me acusa dizendo que eu disse o que não disse. O que posso fazer? Só posso reagir. Negar não adianta. Não tenho medo de castigo, a perigosa é ela. Eu luto contra as coisas ruins em mim, ela não faz nenhum esforço para mudar. O esforço de mudança que ela faz é em mim, quer que eu mude. Mudar o quê? Em quê? Dou a melhor das vidas que ela jamais conseguiu sonhar em ter. Tem casa, comida e uma negra para cuidar da casa. É muita mimação. Vivo sufocado, respiro mal, gelado, até perder o controle da minha força. Chega num ponto que não consigo controlar. Não saio de dentro, acho que se eu fosse para fora de mim mesmo ia ser mais ruim. Odeio tudo isso e o que ela me faz fazer, mas nunca fechei a mão, foi sempre com a mão aberta. Pouca coisa, e nem foi tantas vezes assim, mas tem vez que nada mais resolve. Já me prometi que não repetia, só em último caso, o siô augusto num conseguia abrí a mão de tão fechada qui tava as unha cravada

O que o sinhô meu marido está pensando?

Em nada, mãezinha... em nada...



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é bão lê tumbém:

histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: boca fechada não erra
histórias de avoinha: Sinto-me tão sóhistórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: uma resposta deboche



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