domingo, 2 de maio de 2021

mulheres descalças: fofocando comigo mesma

mulheres descalças



fofocando comigo mesma
Ensaio 127Bzv – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar

usiô gonzaga é tão abandonado e desajudado dele mesmo – com ele mesmo – quisó tem cabimento pra ele julgamento pela utilidade qui faz das coisa e das criatura – qui tanto pode sê ou num sê bicho – na sua cabeça, só tem uso e serventia quem faz uqui ele qué e bem feito

num qué sabê de palpite ou teimosia estorvando as suas vontade nem cara feia ofendida, só aceita as cara admirada ou encantada, mesmo quando num sabe bem uqui pensô nem pruqui cismô uqui ele pensa qui pensô, Não é fácil pensar, solta um suspiro piquinino pra num sê notado, no caso da dona Rosinha, ela tem pensamento por teimosia com as coisas que queria não pensar. Até parece que sente prazer em não me obedecer, dona rosinha parece tá dentro dusiô augusto gonzaga – acordado ou durumindo –, mas sei lá, é quando mais fico cheio de vontade da sua aranha cabeluda cheia de veneno. Um bicho peçonhento que estende suas teias por anos e anos. Vacas são estúpidas, apenas aranhas são perigosas. Não têm o mesmo gosto, mas a obrigação de não reclamarem de nada é a mesma.

no modo divê da dona rosinha, usiô augusto se apega, cada dia um tanto a mais, nas coisa cafajeste e patife qui desatende a vida, ela credita qui ele tumbém sabe e num parece tê preocupação com isso, num parece tê gosto pra mudá nem capricho pra sê curioso cuás vida na casa, Pode até parecer que fico fofocando comigo mesma tanta coisa feia, Paizinho. Cogitando e apreciando pessoas desconhecidas – que não conheço o nome, mas olho com bom modo a mesma cousa em todos os dias –, as lavadeiras negras e suas trouxas de roupas na cabeça, um vai-e-vem que não para. As crias da vila negra, sem cuidado nem direção de um responsável livre ou escravizado, fazendo trabalho fortuito, mendicância, fugindo dos queixumes das gentes de bem e da casa de caridade. Sinto como se estivesse dormindo e com muita pena desses desgraçados, queria que fossem gente bonita e alegre. Eu sei que pareço boba e infeliz, devia fazer de conta que não vejo essa imundície toda, olhar de olhos fechados, dona rosinha tumbém suspirô antes de desviá os pensamento da praça, depois do suspiro curto e cansado apontô as vista prusiô augusto

O Paizinho está pensando o quê?

usiô augusto gonzaga se aprumô sem oiá atento pra coisa alguma, num tava costumado recebe prugunta tão direta da muié

 

____________________


é bão lê, tumbém... sequisé:


histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe


Nenhum comentário:

Postar um comentário