domingo, 16 de maio de 2021

mulheres descalças: um gosto diódio

mulheres descalças



um gosto diódio
Ensaio 127Bzy – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar

sem a fortuna disê dono das própria vontade é preciso tê apetite pra sobrevivê a despeito dos branco pedra no curação, têas virtude da gana, da disciplina do zelo, seguindo o impulso dos vento da vida, é preciso aprendê muntu cedo vê – antes mesmo disaí do ventre da mãinha – os rio da maldade qui banha a villa, gente escondida na caridade sem misericórdia e na mais-valia do ajudatório do dízimo, o valimento da importância da aquisição em virtude sem mudá nada, acumulá pra tê mais

é preciso levantá todas veiz – num tem dia pra desafogo – pra cuidá da plantação da vida mesmo quias água chegô a palmo e meio das borda da jazida com grama braba e terra rasa, é preciso revivê a vida, tudo quié dia e noite, num tê medo da escuridão ou duspritu fantasma, tem veiz quisó uma vela já chega pra vê uqui tem pra vê

o gritinho da bengala num assustô, onde caiu ela ficô, a metade dusiô augusto no assoalho de madêra, o apoio honesto qui num vigia nem cobra, qui num tem intenção nem espritu, num tem gosto nem vontade, vai durá mais quiu dono, num respira mal nem sofre da angústia disê cada dia um pouco menos, paralítica no lugá onde ficô caída, bem comportada, Vida e bengala... afinal, não são duas coisa tão diferentes, foi pensando nas bengala da vida quiusiô augusto abriu a janela pra atração da praça, um rebojo de gente gritando entrô como um bando desumano na direção da morte bem comportada

fez um suspiro solto junto com apreciação de desafogo

O bom disso tudo... é que acaba logo, graças à Deus!

A vida voltando ao normal.

Bem isso, mas antes é preciso deixar o negrinho ferrado e bem preso. Tem vez que acho melhor a Villa acabar com a barbárie de fazer justiçamento, mas será preciso gastar mais recursos públicos e tempo. Não sei o que é melhor... mais recursos são mais impostos... não é uma troca justa.

E se não for culpado e a injustiça não for evitada?

Duvido, mas mesmo sem culpa é ladrão. Antes ele, Mãezinha, que a Villa toda sofrendo e com medo. E se não é ladrão vive da feitiçaria das encruzilhada. Vosmecê não tem medo?

as pessoa ama a villa mais quias pessoa, ama a villa qui dá água fresca e num permite quias coisa feia 
– quielas diz quié feia: a cara, o jeito, a voz, a cantoria, a alegria, tudo isso é muntu perigoso se num fô todos como elas  venha pra incomodá o sossego ao redó da vida dentro da villa qui cadum imagina tê e sonha querê

Paizinho, fecha a janela... essa gritaria e a aragem gelada das águas chegam aos ossos, o alvoroço na praça num tava acabado, a vida costumêra pra uns é dum feitio, pra otros é dotro jeito

ele num acatô o pedido pruqui num escutô ou num quis fechá pra num parecê qui obedece dona rosinha

Mais um negrinho sem nome que não precisava existir, oiava pra longe, ele num tava ali nem dona rosinha sabia onde quiele podia tá

Mas ele existe, Paizinho... voltô insistí, sem munta força

Ainda, ainda... é preciso ser contido e interditado, aquilo dito do jeito qui foi dito desguarneceu as mentira da villa risonha, gente cheia de si mesma e com medo de perseguição, dona rosinha num tinha pra onde corrê, se ocê num é branco vai vivê definhando, esse já provou que não tem utilidade de uso na Villa, com certeza é mais um a tomar banho no rio sem vestimenta alguma, um atentado a decência, como se aqui fosse um sítio despovoado e deserto retirado de qualquer urbanidade. Não tenho dúvidas, é mais um desses negrinhos a invadir os pomares dos sobrados e que vivem nos recantos das ruas em rodas de jogo e batucada. Isso tudo sem falar nas algazarras nas fontes d’água colocando em perigo a ordem e a decência do silêncio.

dona rosinha começô num sentí conforto ditá oiando pra gritaria na praça, começô ficá mais perto a algazarra qui tripudiava e gozava os azares dupretu, usiô augusto num parecia pará didá justificativa e fundamento no gosto qui sentia brotá quanto mais oiava, um gosto diódio quiela num sabe donde vem nem pruqui tem tanto gosto

Paizinho... é só um adulto em miniatura.

Adulto em miniatura já é adulto! Tem que escolher entre o trabalho ou a vadiagem e a contravenção, dona rosinha tava assustando com tanta vontade de num sentí qualqué consideração, pra dona rosinha oiá com curiosidade vaga e distante num era a mesma coisa qui oiá com apetite prazeroso, não sinto pena! Mendicância não é trabalho! Fazem porque gostam, usiô augusto soltava enfezado os pensamento qui trocava com juca e joca e maneco



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é bão lê, tumbém... sequisé:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe
mulheres descalças: um gosto diódio
mulheres descalças: o café esfriou

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