De Volta Para o Futuro
Johnny B. Good
Back to the Future
(9/10) Movie CLIP (1985)
Pulp Fiction
Jazz on a Summer's Day (1959)
A guitarra de Chuck Berry
Afonso Machado
Campinas
segunda-feira 20 de março| Edição do dia
Pronunciar o nome de Chuck Berry significa dizer rock. A morte do guitarrista, que nos deixou no último sábado aos 90 anos, exige uma reflexão sobre as sementes barulhentas deste gênero musical. Chuck Berry não foi apenas um dos pioneiros do rock ´n´ roll mas um artista que definiu sua simbologia rebelde: basta ouvirmos suas canções como Maybelline, Roll Over Beethoven e Johnny B. Goode para que nossa imaginação seja tomada por imagens como as de casais de adolescentes rodopiando nas pistas de dança, automóveis que ultrapassam a velocidade de 150 km por hora e a face enraivecida de um jovem que diz “ não “ às convenções da cultura dominante.
Apesar de ser um mina de ouro para as gravadoras e para os meios de comunicação de massa, o rock realizou uma profunda subversão psicológica na sociedade norte americana dos anos 50: em plena segregação entre brancos e negros, o blues acelerado que culmina no rock, minou os espaços da cultura oficial: um gênero musical de origem proletária( a fusão entre o blues e o country and western, ou seja a música negra e a música dos trabalhadores brancos, resulta no rock) apresenta para o jovem branco reprimido um corpo sensual, que recusa o controle puritano. Os reacionários reagiram, sendo que o rock foi perseguido pelos racistas: o rock foi inserido dentro da chamada “ racemusic “, ou seja, a música negra que tirava o sono das famílias burguesas. Ninguém melhor que Chuck Berry para dar pesadelos ao burguês castrado.
Sem Chuck Berry a atitude rockeira não poderia ter ido tão longe. Os Stones, os Beatles e tudo o que realmente importa na história do rock, seriam impensáveis sem os riffs deste guitarrista negro. Se o rock fez todo aquele estrago na sociedade puritana dos anos 50, pessoas de esquerda não podem deixar de refletir sobre suas implicações culturais. Nenhum progressista hoje em dia pode ter o mesmo tipo de reação que o governo soviético teve nos tempos da guerra fria: para as autoridades soviéticas dos anos 50/60, o rock seria sinônimo de doença cultural, como se a juventude ocidental tivesse pirado de vez. Na realidade, o que a União Soviética não compreendia era que o rock acenava para a necessidade de transformações culturais, expondo no interior dos países capitalistas a crise dos fundamentos ideológicos da civilização burguesa.
Ao lado de Little Richard, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Bill Haley e vários outros, Chuck Berry criou as bases musicais para exprimir com violenta sensualidade a novidade do rock. Temido por conservadores, o rock foi alvo de campanhas moralistas que mobilizaram pais, escolas e igrejas que pretendiam varrer esta “música demoníaca “ das rádios e da televisão. Nem é preciso dizer que os adolescentes espertos pensavam/sentiam exatamente o oposto. Aliás, era exatamente a sensualidade proveniente da música negra que atraia a juventude branquela de classe média: as algemas morais da burguesia puritana dos EUA, caíam no carpete dos quartos dos adolescentes, quando um disco de rock era colocado na vitrola. Existem inclusive relatos sobre a preferência dos adolescentes dos anos 50 por rockeiros negros, cuja música não deixava ninguém parado. Não raramente, a garotada chegava em casa com um disco de Chuck Berry ou Little Richard escondido no interior da capa de um disco de Paul Anka ou Pat Boone. Era o fruto proibido de um vinil com faixas que traziam o rock realizado por músicos negros. A patrulha paterna era assim driblada quando a capa de um disco de um músico branco e comportado, escondia a face viva, pulsante do rock.
Chuck Berry foi um dos músicos extraordinários que amparou esteticamente muitos garotos rebeldes, insatisfeitos com os rumos da civilização. John Lennon, que chamou Chuck de “ meu herói “, observou que as letras do compositor negro eram inteligentes, provocavam reflexões, enquanto que boa parte dos rockeirosdos anos 50 não tinham nada a dizer. Keith Richardsnão seria o guitarrista que é sem o seu ídolo Chuck Berry. Hoje em dia, podemos olhar para o rock de 2 maneiras: uma peça de museu ou a base estética de boa parte do que é feito em termos de música jovem. De qualquer modo, o tipo de atitude que o rock despertava no século passado não era nada simpática frente aos padrões morais da sociedade estabelecida. Por mais que o rock seja incorporado à cultura oficial, por mais que existam (e tenha existido) rockeiros politicamente reacionários, o fato é que por muito tempo esta música contribuiu com e elaboração da linguagem de contestação social. É assim que a música de Chuck Berry deverá ser lembrada.
Back to the Future
(9/10) Movie CLIP (1985)
Pulp Fiction
You Never Can Tell
Jazz on a Summer's Day (1959)
A guitarra de Chuck Berry
Afonso Machado
Campinas
segunda-feira 20 de março| Edição do dia
Pronunciar o nome de Chuck Berry significa dizer rock. A morte do guitarrista, que nos deixou no último sábado aos 90 anos, exige uma reflexão sobre as sementes barulhentas deste gênero musical. Chuck Berry não foi apenas um dos pioneiros do rock ´n´ roll mas um artista que definiu sua simbologia rebelde: basta ouvirmos suas canções como Maybelline, Roll Over Beethoven e Johnny B. Goode para que nossa imaginação seja tomada por imagens como as de casais de adolescentes rodopiando nas pistas de dança, automóveis que ultrapassam a velocidade de 150 km por hora e a face enraivecida de um jovem que diz “ não “ às convenções da cultura dominante.
Apesar de ser um mina de ouro para as gravadoras e para os meios de comunicação de massa, o rock realizou uma profunda subversão psicológica na sociedade norte americana dos anos 50: em plena segregação entre brancos e negros, o blues acelerado que culmina no rock, minou os espaços da cultura oficial: um gênero musical de origem proletária( a fusão entre o blues e o country and western, ou seja a música negra e a música dos trabalhadores brancos, resulta no rock) apresenta para o jovem branco reprimido um corpo sensual, que recusa o controle puritano. Os reacionários reagiram, sendo que o rock foi perseguido pelos racistas: o rock foi inserido dentro da chamada “ racemusic “, ou seja, a música negra que tirava o sono das famílias burguesas. Ninguém melhor que Chuck Berry para dar pesadelos ao burguês castrado.
Sem Chuck Berry a atitude rockeira não poderia ter ido tão longe. Os Stones, os Beatles e tudo o que realmente importa na história do rock, seriam impensáveis sem os riffs deste guitarrista negro. Se o rock fez todo aquele estrago na sociedade puritana dos anos 50, pessoas de esquerda não podem deixar de refletir sobre suas implicações culturais. Nenhum progressista hoje em dia pode ter o mesmo tipo de reação que o governo soviético teve nos tempos da guerra fria: para as autoridades soviéticas dos anos 50/60, o rock seria sinônimo de doença cultural, como se a juventude ocidental tivesse pirado de vez. Na realidade, o que a União Soviética não compreendia era que o rock acenava para a necessidade de transformações culturais, expondo no interior dos países capitalistas a crise dos fundamentos ideológicos da civilização burguesa.
Ao lado de Little Richard, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Bill Haley e vários outros, Chuck Berry criou as bases musicais para exprimir com violenta sensualidade a novidade do rock. Temido por conservadores, o rock foi alvo de campanhas moralistas que mobilizaram pais, escolas e igrejas que pretendiam varrer esta “música demoníaca “ das rádios e da televisão. Nem é preciso dizer que os adolescentes espertos pensavam/sentiam exatamente o oposto. Aliás, era exatamente a sensualidade proveniente da música negra que atraia a juventude branquela de classe média: as algemas morais da burguesia puritana dos EUA, caíam no carpete dos quartos dos adolescentes, quando um disco de rock era colocado na vitrola. Existem inclusive relatos sobre a preferência dos adolescentes dos anos 50 por rockeiros negros, cuja música não deixava ninguém parado. Não raramente, a garotada chegava em casa com um disco de Chuck Berry ou Little Richard escondido no interior da capa de um disco de Paul Anka ou Pat Boone. Era o fruto proibido de um vinil com faixas que traziam o rock realizado por músicos negros. A patrulha paterna era assim driblada quando a capa de um disco de um músico branco e comportado, escondia a face viva, pulsante do rock.
Chuck Berry foi um dos músicos extraordinários que amparou esteticamente muitos garotos rebeldes, insatisfeitos com os rumos da civilização. John Lennon, que chamou Chuck de “ meu herói “, observou que as letras do compositor negro eram inteligentes, provocavam reflexões, enquanto que boa parte dos rockeirosdos anos 50 não tinham nada a dizer. Keith Richardsnão seria o guitarrista que é sem o seu ídolo Chuck Berry. Hoje em dia, podemos olhar para o rock de 2 maneiras: uma peça de museu ou a base estética de boa parte do que é feito em termos de música jovem. De qualquer modo, o tipo de atitude que o rock despertava no século passado não era nada simpática frente aos padrões morais da sociedade estabelecida. Por mais que o rock seja incorporado à cultura oficial, por mais que existam (e tenha existido) rockeiros politicamente reacionários, o fato é que por muito tempo esta música contribuiu com e elaboração da linguagem de contestação social. É assim que a música de Chuck Berry deverá ser lembrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário