terça-feira, 30 de maio de 2017

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos II

Cruz e Sousa

Obra Completa
Volume 1
POESIA



O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos

Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos




OUTROS SONETOS








[DOIS ZOILOS] “DIATRIBE”


Dois zoilos mui completos deste mundo, 
Dois zoilos há terríveis e zelosos, 
Que estando sem fazer, mui ociosos 
Só tratam dum falar nauseabundo.

Eu sei mui bem seus nomes – não confundo 
Com esses bem sensatos, talentosos, 
Com esses lidadores mui briosos 
Que têm estudo imenso e bem profundo!

Mas ah! pra que tempo hei-de gastar 
Com quem só vive imerso na caligem 
D’inveja torpe e vil a esbravejar!

Isto, meus amigos, é impigem 
Que quanto se procura mais coçar 
Tanto e tanto mais só dá prurigem!





[MINH’ALMA ESTÁ] 
Por ocasião dos festejos em homenagem ao sexagésimo primeiro aniversário natalício do eloquentíssimo tribuno sagrado, Joaquim Gomes d’Oliveira Paiva.


Há vultos tamanhos que não 
Cabendo no globo, vão quedos 
Mas solenes, refugiar-se na campa. 
Daí embuçam-se num manto infinito De glórias?...

Minh’alma está agora penetrando 
Lá na etérea plaga, cristalina! 
Que música, meu Deus, febril, divina 
Nos páramos azuis vai retumbando!

Além, d’áureo dossel se está rasgando 
Custosa, de primor, esmeraldina 
Diáfana, sutil, longa cortina 
Enquanto céus se vão duplando!

Em grande pedestal marmorizado 
De Paiva se divisa o busto enorme 
Soberbo como o sol, de luz c’roado

De um lado o porvir – Anteu disforme 
Dos lábios faz soltar pujante brado 
Hosanas! não morreu! apenas dorme.





[ROMPEU-SE O DENSO VÉU] 
Por ocasião da comemoração do sexagésimo primeiro aniversário natalício do ilustre pregador catarinense Joaquim Gomes d’Oliveira Paiva.


Rompeu-se o denso véu do atroz marasmo 
E como por fatal, negro hebetismo 
De antro sepulcral, de fundo abismo 
O povo ressurgiu com entusiasmo!

O Zoilo mazorral se queda pasmo 
Supõe quimera ser, ser cataclismo 
Roga, já por dobrez, por ceticismo 
De néscio, vil truão solta o sarcasmo.

Perdão, Filho da Luz, minh’alma exora 
Porém, a pátria diz, somente agora 
Os grilhões biparti de atroz moleza!

E ele, o nosso herói já redivivo 
De pé, sem se curvar, sereno, altivo 
Co’as raias do porvir mede a grandeza!







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Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)

Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.


O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.


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Leia também:

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes I
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes II
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes III
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Cambiantes IV
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