quarta-feira, 3 de abril de 2019

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (1)

 Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1


1
Estudos de Costumes 
- Cenas da Vida Privada



Memórias de duas jovens esposas


A George Sand, [89] 

Isto, caro George, em nada poderá aumentar o brilho de seu nome, o qual projetará seu mágico reflexo sobre este livro: mas não há aqui, de minha parte, nem cálculo nem modéstia. Desejo atestar por esta forma a amizade verdadeira que continuou entre nós através de nossas viagens e de nossas ausências, apesar de nossos trabalhos e das maldades do mundo. Esse sentimento, seguramente, jamais se alterará. O cortejo de nomes amigos que acompanhará minhas composições mistura um prazer aos pesares que me causa o seu número, pois que elas não surgem sem dores; isso, não falando mais do que nas censuras provocadas por minha ameaçadora fecundidade, como se o mundo que posa diante de mim não fosse mais fecundo ainda. Não será uma bela coisa, George, se, um dia, o antiquário das literaturas destruídas não encontrar nesse cortejo mais do que grandes nomes, nobres corações, santas e puras amizades, e as glórias deste século? Não me posso eu mostrar mais orgulhoso dessa felicidade certa do que de triunfos sempre contestáveis? Para quem o conhece bem, é uma felicidade poder se dizer, como eu o faço aqui, 

seu amigo, 
DE BALZAC.

Paris, junho de 1840.










PRIMEIRA PARTE




I – LUÍSA DE CHAULIEU A RENATA DE MAUCOMBE



Paris, setembro



Minha querida corça, também eu estou fora! E se não me escreveste para Blois, cheguei também em primeiro lugar ao nosso gentil rendez-vous da correspondência. Ergue teus belos olhos negros fitos na minha primeira frase e guarda tuas exclamações para a carta na qual te confiarei o meu primeiro amor; há, pois, um segundo? “Cala-te!”, vais dizer-me; dize-me antes — vais perguntar-me: “Como saíste daquele convento, onde devias professar?” Minha querida, seja o que for que aconteça às carmelitas, o milagre de minha libertação é a coisa mais natural. Os clamores de uma consciência aterrorizada acabaram prevalecendo sobre as ordens de uma política inflexível, eis tudo. Minha tia que não me queria ver morrer de consumpção venceu minha mãe que sempre prescrevia o noviciado como único remédio para a minha doença. A negra melancolia em que mergulhei depois de tua partida precipitou este feliz desenlace. E estou em Paris, meu anjo, e assim devo a ti a felicidade de aqui estar. Minha Renata, se tivesses podido ver-me no dia em que me achei sem ti, terias ficado orgulhosa de inspirar sentimentos tão profundos a um coração tão jovem. Juntas sonhamos tanto, tantas vezes abrimos as asas e vivemos em comunhão espiritual, que creio nossas almas ligadas uma à outra, como aquelas duas jovens húngaras cuja morte nos foi contada pelo sr. Beauvisage, [90] que certamente não era o homem que o nome indicava: nunca médico do convento foi tão bem escolhido. Não estiveste doente ao mesmo tempo que a tua mimosa? No melancólico abatimento em que me achava, nada mais eu podia fazer do que verificar um por um os laços que nos uniam; julguei-os rotos pelo afastamento, senti-me tomada de desgosto pela existência como uma rola sem par, achei doçura em morrer e morria lentamente. Estar sozinha nas carmelitas de Blois presa do temor de professar sem o prefácio da srta. de La Vallière [91] e sem a minha Renata! Mas era uma doença, uma doença mortal! Aquela vida monótona em que cada hora traz um dever, uma prece, um trabalho, tão exatamente os mesmos, que em toda parte se pode dizer o que uma carmelita faz a tal ou qual hora do dia ou da noite; aquela horrível existência em que é indiferente que as coisas que nos cercam sejam ou não sejam tornara-se para nós a mais variada: o surto de nosso espírito não conhecia limites, a fantasia nos dera a chave de seus reinos; éramos, alternativamente, uma para a outra, um encantador hipogrifo, [92] a mais alerta despertava a mais sonolenta, e nossas almas folgavam à porfia, apoderando-se deste mundo que nos estava vedado. Até mesmo a vida dos santos nos ajudava a compreender as coisas mais ocultas! No dia em que tua meiga companhia me foi tirada, eu me tornei o que uma carmelita era a nossos olhos, uma Danaide [93] moderna que, em vez de tentar encher um tonel sem fundo, tira todos os dias, de não sei que poço, um balde vazio, quando esperava trazê-lo cheio. Minha tia ignorava a nossa vida interior. Ela não explicava minha repugnância pela existência, ela que se fizera um mundo celeste nas duas jeiras do seu convento. A vida religiosa para ser abraçada na nossa idade exige uma simplicidade excessiva que nós não temos, minha querida corça, ou o ardor do devotamento que fez de minha tia uma criatura sublime. Minha tia sacrificou-se por um irmão adorado; mas quem é que pode sacrificar-se por desconhecidos ou por ideias? 

Há quase quinze dias tenho tantas palavras loucas recalcadas, tantas meditações enterradas no coração, tantas observações a comunicar e narrações a fazer, que não podem ser feitas senão a ti, que sem o fraco recurso das confidências escritas em substituição às nossas queridas palestras, eu me afogaria. Como nos é necessária a vida do coração! Começo esta manhã meu diário na crença de que o teu está começado, que dentro de poucos dias estarei vivendo no fundo do teu belo vale de Gémenos, do qual só sei o que me disseste, como irás viver em Paris, da qual só conheces o que sonhávamos. 

Assim pois, minha linda, por uma manhã que ficará assinalada com um sinete róseo no livro de minha vida, chegaram de Paris uma dama de companhia e Filipe, o último criado de quarto de minha avó, enviados para buscar-me. Quando, depois de ter-me feito ir ao seu quarto, minha tia comunicou-me essa notícia, a alegria cortou-me a voz e eu olhava-a com um ar apatetado. 

— Minha filha — disse-me ela com sua voz gutural —, deixas-me sem pesar, como o vejo; mas este adeus não é o último, nós nos tornaremos a ver: Deus marcou-te na fronte com o sinal dos eleitos; tens o orgulho que tanto leva ao céu como ao inferno, mas tens demasiada nobreza para descer! Conheço-te melhor do que tu a ti mesma: a paixão em ti não será o que é nas mulheres comuns. 

Atraiu-me suavemente para si e beijou-me na fronte, pondo nela o fogo que a devora, que enegreceu o azul de seus olhos, que lhe amaciou as pálpebras, lhe enrugou as fontes douradas e lhe amareleceu o belo rosto. Ela pôs-me arrepios na pele. Antes de responder, beijei-lhe as mãos. 

— Querida tia — disse-lhe —, se suas adoráveis bondades não me fizeram achar seu Paracleto [94] saudável para o corpo e suave para o coração, deverei derramar tantas lágrimas para voltar a ele, que não quererá desejar minha volta. Não quero volver aqui senão traída pelo meu Luís XIV, e, se consigo um, só a morte mo poderá arrancar. Não temerei as Montespan! — Vá, louquinha — disse ela sorrindo —, não deixe essas ideias vãs aqui, leve-as, e fique sabendo que é mais Montespan do que La Vallière. [95] Beijei-a. A pobre mulher não pôde deixar de levar-me até o carro, onde seus olhos se fixaram sucessivamente nos brasões paternos e em mim. 

A noite surpreendeu-me em Beaugency, mergulhada num entorpecimento moral provocado por aquele adeus. Que irei, pois, achar nesse mundo tão desejado? Inicialmente, não achei ninguém para me receber, perderam-se os preparativos do meu coração; minha mãe estava no Bois de Boulogne meu pai no conselho, e meu irmão, o duque de Rhétoré, nunca entra em casa, informaram-me, senão para vestir-se antes do jantar. A srta. Griffith (ela tem grifos) e Filipe levaram-me aos meus aposentos. 

Esses aposentos são os daquela avó tão querida, a princesa de Vaurémont, a quem devo uma fortuna qualquer, da qual nunca ninguém me falou. Neste ponto partilharás a tristeza que me empolgou ao entrar naquele lugar consagrado por muitas recordações. O apartamento estava tal como ela o deixara. Ia deitar-me no leito em que ela morrera. Sentada à borda de sua espreguiçadeira, chorei sem ver que não estava só; lembrei-me de que me pusera, ali, de joelhos, muitas vezes para melhor ouvi-la. Dali vira seu rosto perdido entre as rendas velhas e emagrecida tanto pela idade quanto pelas dores da agonia. O quarto parecia-me ainda quente do calor que ela nele mantinha. Como pode ser que a srta. Armanda Luísa Maria de Chaulieu seja obrigada, como uma camponesa, a deitar-se na cama de sua mãe, quase no dia de seu falecimento? Pois que me parecia que a princesa, morta em 1817, havia expirado na véspera. Aquele quarto me apresentava coisas que ali não deviam encontrar-se e que provavam como as pessoas ocupadas com os negócios do reino são despreocupadas com os seus e como, uma vez morta, pouco pensaram naquela nobre mulher, que será uma das maiores figuras femininas do século XVIII. Filipe, mais ou menos, compreendeu de onde provinham as minhas lágrimas. Disse-me que, por testamento, a princesa me legara seus móveis. Meu pai, de resto, deixara os grandes apartamentos no mesmo estado em que os pusera a Revolução. Ergui-me então. Filipe abriu-me a porta da pequena sala que dá para o apartamento das recepções e tornei a encontrá-la no mesmo descalabro em que a tinha deixado: os altos de porta, que exibiam quadros preciosos, vazios, os mármores quebrados, os espelhos retirados. Antigamente, eu tinha medo de subir a grande escada e de atravessar a vasta solidão daquelas salas altas e ia ao apartamento da princesa por uma pequena escada que desce por baixo da grande e que levava à porta dissimulada de seu toucador. 

O apartamento, composto de um salão, de um quarto de dormir e daquele bonito gabinete, vermelhão e ouro, de que já te falei, ocupa o pavilhão do lado dos Invalides. [96] O palácio está separado do bulevar apenas por um muro coberto de trepadeiras e por uma magnífica alameda de árvores que confundem suas frondes com as dos olmeiros da alameda lateral do bulevar. Sem a cúpula ouro e azul, sem as massas cinzentas dos Invalides, a gente julgaria estar numa floresta. O estilo dessas três peças e sua localização denunciam o antigo apartamento de recepções das duquesas de Chaulieu; o dos duques deve achar-se no pavilhão oposto; ambos são decentemente separados pelos dois lances da casa e pelo pavilhão da fachada onde se acham aquelas grandes salas escuras e sonoras que Filipe me mostrara ainda despidas de seu esplendor, e tais como eu as tinha visto na minha infância. Filipe tomara um ar confidencial ao ver o espanto desenhado no meu rosto. Minha querida, nesta casa diplomática, todos são discretos e misteriosos. Disse-me então que estavam à espera de uma lei pela qual restituiriam aos emigrados o valor de seus bens. Meu pai está protelando a restauração de seu palácio até o momento dessa restituição. O arquiteto do rei avaliou a despesa em trezentas mil libras. Essa confidência teve por efeito dar comigo outra vez no sofá de meu salão. Como! Meu pai em vez de empregar essa quantia para me casar, deixava-me morrer no convento? Eis aí a reflexão que me veio no umbral daquela porta. Ah! Renata, como descansei a cabeça no teu ombro e como me transportei aos dias em que minha avó animava aqueles dois quartos! Ela que não mais existe senão no meu coração, e tu, que estás em Maucombe, a duzentas léguas de distância, são as únicas pessoas que me querem, ou me quiseram. Aquela querida velhinha de olhar tão moço queria despertar à minha voz. Como nos entendíamos! A recordação mudou subitamente a disposição de espírito em que eu me encontrava. Achei não sei quê de santo no que se me afigurara uma profanação. Pareceu-me uma doçura respirar o vago perfume de pó à marechala [97] que ali subsistia, uma doçura dormir sob a proteção daqueles cortinados de damasco amarelo com desenhos brancos, onde seu olhar e seu hálito devem ter deixado algo de sua alma. Eu disse a Filipe que restituísse seu brilho aos mesmos objetos e que desse ao meu apartamento a vida própria à habitação. Eu mesma indiquei como queria as coisas, determinando o lugar de cada móvel. Passei tudo em revista ao tomar posse, explicando como se poderiam rejuvenescer as antiguidades de que tanto gosto. O quarto é de um branco um pouco amarelecido pelo tempo, da mesma forma que o ouro dos alegres arabescos mostra já, em alguns lugares, umas tonalidades vermelhas: esses efeitos, porém, estão em harmonia com as cores envelhecidas do tapete da Savonnerie [98] dado por Luís XV à minha avó, bem como seu retrato. O relógio é um presente do marechal de Saxe. As porcelanas da chaminé vêm do marechal de Richelieu. O retrato de minha avó, de quando tinha vinte e cinco anos, está numa moldura oval, em frente ao do rei. Não há retrato do príncipe. Gosto desse olvido franco, sem hipocrisia, que com um traço pinta aquele delicioso caráter. Numa doença grave que minha avó teve, seu confessor insistia para que entrasse o príncipe que esperava no salão. “Com o médico e suas prescrições”, disse ela. O leito é de dossel e de guardas acolchoadas; as cortinas são arrepanhadas por dobras de uma bela amplidão; os móveis são de madeira dourada, coberta com damasco amarelo de ramagens brancas, que também enfeitam as janelas, e que é forrada com uma fazenda de seda branca que se assemelha a moiré. Os altos da porta, pintados não sei por quem, representam uma alvorada e um luar. A lareira foi cuidadosamente arranjada. Vê-se que no século passado vivia-se muito junto ao fogo. Ali sucediam grandes acontecimentos: a lareira de cobre dourado é uma maravilha de escultura, o alizar é de um acabamento preciso, a pá e as pinças são deliciosamente trabalhadas, o fole é uma joia. A tapeçaria do guarda-fogo vem dos Gobelinos, [99] e sua armação é deliciosa; as figuras dispersas que correm ao longo sobre os pés, sobre a barra de apoio, sobre os ramos, são encantadoras; tudo está trabalhado como um leque. Quem lhe deu esse lindo móvel de que ela tanto gostava? Quisera sabê-lo. Quantas vezes eu a vi, com os pés descansando em cima da barra, mergulhada na sua poltrona, com o vestido um pouco assungado nos joelhos por sua posição, pegando, depondo e tornando a pegar sua tabaqueira, de cima da pequena mesa entre a sua caixa de pastilhas e suas meias-luvas de seda! Era ela faceira? Até o dia em que morreu cuidou de si como se estivesse no dia seguinte ao daquele lindo retrato, como se esperasse a flor da corte que se comprimia em torno dela. Aquela poltrona lembrou-me o inimitável movimento que ela imprimia às suas saias quando nela sentava. Essas mulheres do tempo antigo levam com elas certos segredos que pintam a sua época. A princesa tinha gestos de cabeça, um modo de saltar as palavras e os olhares, uma linguagem particular que eu não encontrava em minha mãe: havia nela finura e bonomia, intenção, sem preparo prévio; a conversação dela era ao mesmo tempo prolixa e lacônica, narrava bem e pintava em três traços. Tinha principalmente essa excessiva liberdade de opiniões que seguramente influiu sobre o feitio de meu espírito. Dos sete aos dez anos vivi em seu regaço; tanto ela gostava de me atrair aos seus aposentos quanto eu de ir até lá. Essa predileção foi causa de mais de uma discussão entre ela e minha mãe. Ora, nada atiça mais um sentimento do que o vento gelado da perseguição. Com que graça me dizia ela: — Estás aqui, mascarilha! — quando a serpente da curiosidade me emprestava seus movimentos para deslizar-me por entre as portas até ela. A velhinha se sentia amada, amava meu ingênuo amor que punha um raio de sol em seu inverno. Não sei o que se passava em seus aposentos à noite, mas sempre recebia muitas visitas; quando, pela manhã, eu ia na ponta dos pés saber se já estavam abertos os seus aposentos, via os móveis desarrumados, as mesas de jogo preparadas, em alguns lugares muito rapé. Esse salão é do mesmo estilo que o quarto, os móveis são singularmente torneados, a madeira é de molduras ocas, com pés de corça. Duas grinaldas de flores ricamente esculpidas e de belo feitio serpenteiam por sobre os espelhos e descem ao comprido em festões. Há em cima dos consolos lindos vasos da China. O fundo do mobiliário é vermelho vivo e branco. Minha avó era uma morena altiva e provocante, adivinha-se-lhe a tez pela sua escolha das cores. Tornei a encontrar nesse salão uma escrivaninha, cujas figuras, em outros tempos, muito atraíram meus olhares; era chapeada de prata cinzelada; foi-lhe dada por um Lomellini [100] de Gênova. Cada lado dessa mesa representa os trabalhos de cada estação, as personagens estão em relevo e há centenas em cada quadro. Fiquei duas horas sozinha, revivendo minhas recordações, uma a uma, no santuário onde expirou uma das mais célebres mulheres da corte de Luís XV, quer pelo espírito, quer pela beleza. Sabes como me separaram abruptamente dela, da noite para o dia, em 1816. 

— Vá dizer adeus a sua avó — ordenou a minha mãe. — Encontrei a princesa, não surpresa com a minha partida, mas insensível na aparência. Recebeu-me como de costume. — Vais para o convento, minha joia — disse-me ela —, vais ver tua tia, uma excelente mulher! Terei cuidado de que não sejas sacrificada, serás independente e livre para te casar com quem quiseres. 

Morreu seis meses depois; entregara o seu testamento ao mais assíduo de seus velhos amigos, o príncipe de Talleyrand, o qual, numa visita que fez à srta. de Chargeboeuf, achou meios para me fazer saber por ela que minha avó me proibira professar. Tenho a esperança de, mais cedo ou mais tarde, encontrar o príncipe e com certeza então ele me dirá mais coisas. Assim, pois, minha bela corça, se não encontrei ninguém para me receber, consolei-me com a sombra da querida princesa e habilitei-me para cumprir uma das nossas convenções, que é, não te esqueças, de nos iniciarmos uma à outra nos menores detalhes de nossa choupana e de nossa vida. É tão doce saber onde e como vive o ser que nos é caro! Descreve-me bem as mais insignificantes coisas que te cercam, tudo enfim, até mesmo os efeitos do sol poente no arvoredo.



Continua...






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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.[1] Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava.[1] De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Balzac, Honoré de, 1799-1850. 
          A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac;                            orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São                  Paulo: Globo, 2012. 

          (A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1                    0.000 kb; ePUB 

1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série. 

12-13086                                                                               cdd-843 

Índices para catálogo sistemático: 
1. Romances: Literatura francesa 843

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[89]George Sand: pseudônimo de Aurore Dupin (1803-1876), famosa autora de romances sentimentais e humanitários, que com seus livros, suas maneiras livres e sua vida emancipada exerceu enorme influência social. Ela também era de “ameaçadora fecundidade literária”, tendo publicado uma centena de volumes. Amiga de Balzac, serviu-lhe de modelo para a personagem de Felicidade des Touches (no romance Beatriz). Felicidade, escritora, publica seus livros também sob um pseudônimo masculino. 
[90]Beauvisage (beau visage) significa “belo rosto”. As duas jovens húngaras eram duas xifópagas mencionadas na História natural de Buffon. 
[91]4 Presa do temor de professar sem o prefácio da srta. La Vallière: a srta. La Vallière, favorita de Luís xiv durante uns dez anos a partir de 1661, depois de ter tido quatro filhos dele, ao se ver eclipsada pela sra. de Montespan, retirou-se ao convento das carmelitas. A frase de Luísa significa, pois, que ela sentia repugnância em fazer votos sem ter feito antes, pelo menos em parte, as experiências amorosas da célebre favorita. 
[92] 5 Hipogrifo: este nome primitivamente designava um animal fabuloso, metade cavalo, metade grifo, frequentemente encontrado nos romances de cavalaria, e depois passou a significar, na linguagem literária, um gênio alado que parece arrebatar a imaginação através dos campos do espaço. 
[93]As Danaides da mitologia antiga eram as cinquenta filhas do rei Dânaos que na noite de suas núpcias mataram seus maridos e foram condenadas a encher, no inferno, um tonel sem fundo. 
[94]Paracleto: nome grego do Espírito Santo, que significa “advogado” ou “consolador”. 
[95]Fique sabendo que és mais Montespan do que La Vallière: as duas favoritas de Luís xiv eram bastante diferentes de caráter. Meiga, modesta e amável, La Vallière contentou-se com o seu papel de amante e absteve-se de urdir intrigas, ao passo que Montespan, brilhante, espirituosa, cheia de ambição e de orgulho, usou e abusou dos favores do monarca, angariando donativos e empregos para os seus parentes etc. 
[96]Invalides: monumento de Paris, erguido no século xvii para residência e administração de soldados inválidos. Hoje Museu do Exército, que abriga o mausoléu de Napoleão. 
[97]Pó à marechala: espécie de pó para os cabelos. 
[98]Savonnerie: antiga manufatura real de tapeçaria, reunida em 1826 à dos Gobelinos. (Ver a nota seguinte.) 
[99]Os Gobelinos (em francês, Gobelins): nome de uma famosa família de tapeceiros do século xv, em cuja oficina, localizada em Paris, foi instalada mais tarde a tapeçaria real, depois tapeçaria nacional francesa, ainda hoje existente e célebre no mundo inteiro. 

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