mulheres descalças
Toque, minha filha.
ensaio 127Bj – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
ninguém se importava com a dô do acorrentado, meió seria dizê qui as gente na praça se interessava em oferecê mais sofrimento, parecia qui o inferno bíblico descia como anúncio do fim de tudo pru pretu, cadum gritava das parte qui mais gostava do livrão as parte qui mais interessava ameaçá, mais num sabia respondê se o livrão mandava matá
Escute sua mãe, minha filha. Lá fora, não tem nada além dos becos e suas ruas com calhas imundas, pãinho e mãinha tava junto naquela mesma falação, águas fétidas da borra das casas. Nenhuma das cadeirinhas dos ricos descem até aqui. E por que haveriam de descer? Elas não se rebaixam nem vazias, eles sabem bem dos riscos que rondam a praça e essa gente.
a muriquinha se assustô-se com o desilêncio da mãinha, a língua dela tava ajustada e encostada nas vontade do painho, devia tê imaginado qui a desobediência num aparece num rompante, ela se inventa nas luta de todo dia, pensô no seu estômago, Será que o painho vai me mandar para o quarto sem o jantar? Um jantar de frutas ou só pão e água? E se não mandar nem o pão nem a água? A rebeldia cobra um preço muito alto, pra tudo tem medida, já num sabia se resistia pra aprendê tê fortaleza de relutância ou se era só curiosidade pra sabê inté onde podia desobedecê sem ficá suja nos canto, apertada feito uma destripada com dô na barriga e lodo nos pé, a ideia de durumí sem o jantá pareceu sê um castigo sangrento e brutal, o dia caminhava pru fim e ela num tava com vontade de rí
Olhe, na volta da praça, Chiquinha... só tristeza e feiura. Observe bem, lá mais perto da curva do rio temos o nosso Largo da Forca e as suas árvores de porte para suportar um ou dois negros pendurados. Mas não é só isso que temos para admirar, não. Ali, na frente da igreja cheia de dores do sinhô Padre, que parece não se terminar nunca de ser feita, está o pelourinho. Dependendo da sorte e da capacidade dos administradores da justiça e da fé poderemos ter os três eventos em uma manhã de domingo: a missa domingueira do sinhô Padre, o castigo do pelourinho para educar o juízo da negrada e o enforcamento, caso o juízo não possa mais ser esperado.
Ai! Que horror... paizinho...
achá exagerado e repulsivo num é o mesmo qui ficá enfurecida, os caridoso oferece ajuda pra carregá o corpo, mais num lutô pela vida do morto, na maioria das veiz, os caridoso tem dinhêro e bom gosto qui jura qui alcançô pelo próprio merecimento e dote
Presta atenção, mocinha, a muriquinha num sabia mais como aumentá as cautela e o silêncio, para pedir perdão ou admirar a desgraça alheia essa vagabundagem sempre encontra tempo e disposição. Isso tudo junto só faz ajuntamento de vagabundo e louco.
Dá uma pena...
num é qui ela num tava com dó, sim, ela tava com lástima e tristeza, num sabia muntu ou quase nada do acorrentado, mais sabia quase tudo da vontade das pessoa querê depreciá e desprezá o alvo na mira do ódio, pelo menos, achava qui sabia
Minha filha, minha filha... chega, saia da janela. Querida, toque um pouco para mim e sua mãe.
a instrumentista da música obedeceu com os pensamento colado nos movimento da praça, num sabia como ajudá se nem tamanho tinha pra se ajudá, Como lutar contra a injustiça quando a justiça é a própria injustiça, num sabia se respondê, amarrô e desamarrô os passo sem fome de chegá no piano, Alguém tem que ter a resposta, avançô pelas tábua do chão carregada pelo cacoete da culpa qui se desculpa com dô de barriga, os pé sem lodo nas tábua reluzindo do cerume
depois de chegada, sentô
Toque, minha filha.
histórias de avoinha: praça pública é lugar de vagabundo!
Ensaio 127B – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: praça pública é lugar de vagabundo!!
Ensaio 127Bb – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: praça pública é lugar de vagabundo!!!
Ensaio 127Bc – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: praça pública é lugar de assombração!
Ensaio 127Bd – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: dono de gente
Ensaio 127Be – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: ele abre as portas do céu
Ensaio 127Bf – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: rainha silenciosa do lar
histórias de avoinha: um novo refúgio
Ensaio 127Bh – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: a dô dotro pode sê esquecida?
Ensaio 127Bi – 2ª edição 1ª reimpressão
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
Ensaio 127Bk – 2ª edição 1ª reimpressão
Toque, minha filha.
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baitasar
ninguém se importava com a dô do acorrentado, meió seria dizê qui as gente na praça se interessava em oferecê mais sofrimento, parecia qui o inferno bíblico descia como anúncio do fim de tudo pru pretu, cadum gritava das parte qui mais gostava do livrão as parte qui mais interessava ameaçá, mais num sabia respondê se o livrão mandava matá
Escute sua mãe, minha filha. Lá fora, não tem nada além dos becos e suas ruas com calhas imundas, pãinho e mãinha tava junto naquela mesma falação, águas fétidas da borra das casas. Nenhuma das cadeirinhas dos ricos descem até aqui. E por que haveriam de descer? Elas não se rebaixam nem vazias, eles sabem bem dos riscos que rondam a praça e essa gente.
a muriquinha se assustô-se com o desilêncio da mãinha, a língua dela tava ajustada e encostada nas vontade do painho, devia tê imaginado qui a desobediência num aparece num rompante, ela se inventa nas luta de todo dia, pensô no seu estômago, Será que o painho vai me mandar para o quarto sem o jantar? Um jantar de frutas ou só pão e água? E se não mandar nem o pão nem a água? A rebeldia cobra um preço muito alto, pra tudo tem medida, já num sabia se resistia pra aprendê tê fortaleza de relutância ou se era só curiosidade pra sabê inté onde podia desobedecê sem ficá suja nos canto, apertada feito uma destripada com dô na barriga e lodo nos pé, a ideia de durumí sem o jantá pareceu sê um castigo sangrento e brutal, o dia caminhava pru fim e ela num tava com vontade de rí
Olhe, na volta da praça, Chiquinha... só tristeza e feiura. Observe bem, lá mais perto da curva do rio temos o nosso Largo da Forca e as suas árvores de porte para suportar um ou dois negros pendurados. Mas não é só isso que temos para admirar, não. Ali, na frente da igreja cheia de dores do sinhô Padre, que parece não se terminar nunca de ser feita, está o pelourinho. Dependendo da sorte e da capacidade dos administradores da justiça e da fé poderemos ter os três eventos em uma manhã de domingo: a missa domingueira do sinhô Padre, o castigo do pelourinho para educar o juízo da negrada e o enforcamento, caso o juízo não possa mais ser esperado.
Ai! Que horror... paizinho...
achá exagerado e repulsivo num é o mesmo qui ficá enfurecida, os caridoso oferece ajuda pra carregá o corpo, mais num lutô pela vida do morto, na maioria das veiz, os caridoso tem dinhêro e bom gosto qui jura qui alcançô pelo próprio merecimento e dote
Presta atenção, mocinha, a muriquinha num sabia mais como aumentá as cautela e o silêncio, para pedir perdão ou admirar a desgraça alheia essa vagabundagem sempre encontra tempo e disposição. Isso tudo junto só faz ajuntamento de vagabundo e louco.
Dá uma pena...
num é qui ela num tava com dó, sim, ela tava com lástima e tristeza, num sabia muntu ou quase nada do acorrentado, mais sabia quase tudo da vontade das pessoa querê depreciá e desprezá o alvo na mira do ódio, pelo menos, achava qui sabia
Minha filha, minha filha... chega, saia da janela. Querida, toque um pouco para mim e sua mãe.
a instrumentista da música obedeceu com os pensamento colado nos movimento da praça, num sabia como ajudá se nem tamanho tinha pra se ajudá, Como lutar contra a injustiça quando a justiça é a própria injustiça, num sabia se respondê, amarrô e desamarrô os passo sem fome de chegá no piano, Alguém tem que ter a resposta, avançô pelas tábua do chão carregada pelo cacoete da culpa qui se desculpa com dô de barriga, os pé sem lodo nas tábua reluzindo do cerume
depois de chegada, sentô
Toque, minha filha.
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