quinta-feira, 25 de abril de 2019

Stanislaw PP - FeBeAPá: O informe secreto

O Festival de Besteira

Festival de Besteira que já Assolou e voltou Assolar o País




O informe secreto




Esse negócio de ser funcionário de Serviço Secreto só pega bem mesmo é em filme daquele cocoroca, o tal de James Bond. No Brasil então, onde tem mais gozador que carestia, o cara que se meter a dizer que é do Brazilian Intelligence Service vira perua — fica na roda o tempo todo e a moçada gozando. 

O episódio abaixo, para evitar mau-olhado, vamos logo explicando, caso tenha semelhança com qualquer pessoa viva ou morta, é mera coincidência. Ainda com o devido cuidado, vamos colocá-lo num certo país da América Latina, que eu nem quero saber o nome. 

Diz que era um general, chefe do Serviço Secreto. Isto é, ficava o dia inteiro dentro de uma sala vendo se havia conspiração, manifesto, contrabando, mau-olhado e demais crimes contra a nação. Como sempre, não tinha nada. A coisa era de uma monotonia de fazer inveja ao cotidiano de Brasília. 

Até que um dia aconteceu um troço chato. Correu que o general tinha feito uma excelente descoberta. A notícia se esparramou pela aí. Ligações telefônicas no maior código secreto. Secretárias e agentes cruzando os corredores na maior agitação. Os que trabalhavam no edifício onde se instalava o Serviço Secreto moraram logo que tinha linguiça por debaixo do pirão. 

Foi aí que um curioso resolveu perguntar ao contínuo do gabinete “qual era o pó”. 

— Mas seu fulano, que movimentação! Houve alguma coisa grave? O general descobriu alguma coisa? Vão prender aqueles comunistas de sempre? 

O contínuo, muitos anos a serviço do Serviço Secreto, fez o moita. Ficava balançando a cabeça, que nem amante de plantão, quando quer negar que teve um caso com certa senhora, mas ao mesmo tempo quer que a suspeita fique bem positivada. 

Vanja* vai, Vanja vem, apareceu no Gabinete um jornalista que era um velho amigo do contínuo. Puxou-o pelo braço, levou-o para um cantinho discreto e quis saber: 

— Derrama a verdade, velhinho. Que qui houve? O general descobriu alguma infiltração nas áreas de cúpula, de perigosos agentes vermelhos? 

O contínuo arregalou os olhos e sussurrou: 

— Coisa mais pior. O homem fez um serviço belíssimo. Descobriu um cargo vago de fiscal de renda e nomeou o filho dele. São quinhentos e cinquenta mil por mês e mais as multas. Tá bem?




Continua... o festival de besteiras




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* Vanja Orico (1931-2015), cantora e atriz, célebre por viajar ao exterior com enorme frequência.
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SÉRGIO PORTO nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu na mesma cidade em 1968. Foi cronista, radialista, homem de teatro e TV, compositor. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros.



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