segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Poesia Africana: Agnello Regalla (Guiné Bissau)

Poesia Africana - 14






Poema de um Assimilado

Fui levado
a conhecer a nona Sinfonia
Bethoven e Mozart
Na música
Dante, Petrarca e Bocácio
Na literatura.
Fui levado a conhecer
A sua cultura...
Mas de ti. Mãe Africa?
Que conheço eu de ti?
Que conheço eu de ti?
A não ser o que me impingiram?
0 tribalismo, o subdesenvolvimento,
E a fome e a miséria
Como complementos...
Não me falaram de ti
E dos teus filhos, Mãe Africa.
Esqueceram-se
De Samory e Abdelkader,
Cabral e Mondlane,
Lumumba e Henda
Lutuli e Ben Barka
Não me falaram da revolução
De Canhe Na N'Tuguê e Domingos Ramos
De Areolino Cruz e Pansau
De Guerra Mendes e Ludjero
Mas falaram-me dos Bandas e Honóraios.
Dos que te esqueceram
E faugiram à doce melodia
Dos corás.*




*corá – instrumento de cordas






O Eco do Pranto


Não me digas
Que essa é a voz de uma criança
Não...
A voz da criança
É suave e mansa
É uma voz que dança...
Não me digas
Que essa é a voz de uma criança
Parece mais
Um grito sem esperança
Um eco
Partindo de fundo de um beco
Não me digas
Que essa é a voz de uma criança,
Essa é doce e mansa
É uma voz que dança...
Esta parece mais
Um grito sufocado sob um manto
- O Eco do Pranto.






Amar


Amar
É o mesmo que escrever
Docemente,
Amargo,
Mas incompleto.



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AGNELLO REGALLA

Campeane, Guiné Bissau, 1952. Jornalista.



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