mulheres descalças
a lua na escuridão
Ensaio 127Bu – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
como o siô augusto num conseguia fechá a boca, cobriu ela com a mão do anel de dono de tudo na casa – qui vai da porta da fachada inté a cerca do fundo do quintal e mais tudo qui tem dentro, gente e coisa –, inventô uma e duas e trêis tossida, ia continuá na crise da tosse inventada inté tê uqui dizê daquela diabrura da muié, mais num tinha clareza duqui dizê, as palavra aparecia e desaparecia
dona rosinha achô meió dá um jeito de ajudá, Esse daí, já tá de um jeito que só não sente dor pra arrancar os dentes, eles caem sozinhos, tumbém cobriu a boca com a mão do anel de primêra dama da casa, tem veiz qui num tem como escondê as palavra qui num sai, deu uma e duas tossida bem piquinina
os pensamento embrabeceu e o siô augusto pensô descê a mão, mais as palavra num saia, sumiu tudo qui é palavra, Vai vai vai! Esmurra a atrevida... ela tá querendo... tira esse risinho da cara dela... eu tô avisando... ela tá querendo apanhar... uma boa surra corta o mal pela raiz... em outros tempos, por muito menos, já tinha descido a mão... marido indolente vira corno dos pensamentos da mulher... a natureza Divina criou a mulher para adocicar a vida... e o homem inventou o casamento pra fazer ela obedecer... a obediência é tudo...
os pensamento atordoava o siô augusto, inté qui desviô as vista pra tentá escondê a raiva qui só fazia crescê as tossida seca
Cuidado!... o Paizinho engasgou-se com o ar?
ele fechô a mão qui tava escondida e quase afugentô aquele deboche da dona rosinha com um soco na cara, achô meió enfiá a mão no bolso e guardá a força prum otro momento mais grave, ainda num tinha uqui dizê, queria tempo pra pensá, aquele silêncio qui tava obrigado ardia mais qui as ferida dos verme nas sepultura, muntu mais qui os morto podia contá e qui dava pra imaginá
Por acaso... a Mãezinha está brincando com o meu sofrimento?
pensá uquê, dizê uquê daquela cerimônia, ela num se moveu do lugá qui tava sentada deprimida, ficá triste já ficô e num teve jeito, ficá calada sempre ficô e num adiantô, tava na hora de ficá revoltada – e com muntu atraso – de fazê ele escutá os próprio pensamento entreguista da fia, um fio-da-puta desalmado e desanimado, mais ela num sabia muntu uqui dizê pra fazê sentido, naquela vida dusdois nada parecia fazê sentido hoje – nem fazia antes e nem vai fazê depois – eles num tinha motivo pra ficá junto além do costume de tá junto – pra bem da verdade, ela nunca teve –, mais tudo ia continuá igual, uma vida desprezada e sem colorido
as gente de bem da villa num gosta dos pensamento qui prugunta a respeito das vontade das muié, inda menos, se é muié preta, cruz e credo! elas é diminuída mais qui os pé descalço, só assim as gente de bem senti qui dentro de si é meió e merece o meió, quanto mais os pretu fica separado da vida mais eles é empurrado pra morrê escravizado em nome do bem-ficá das gente de bem
e isso virô verdade eterna qui passa dupainho pru fio, da mãinha pra fia, é defeito da criação misturada com as confusão da religião, é gente qui num qué aprendê qui nada é pra sempre nem a morte, ela tumbém é uma modesta solução pra vida, depois qui num tem mais ninguém qui lembra da sua morte, a morte acabô
o sentido da vida é vivê, depois da morte o único sentido de tê vivido é as lembrança da vida qui ficô na vida, mais chega o tempo qui inté a morte da vida num é mais lembrança pra ninguém, nada dura pra sempre nem a morte
e dona rosinha num sabia muntu uqui dizê pra fazê sentido pru esposo, sabe qui ele se aproxima das tempestade, ele gosta das coisa qui faz a tristeza dela sê infeliz, ele acredita qui o seu destino é maió duqui é, acredita qui o curação dele é o curação do mundo bão, os dois é junto pruqui ele é decente e bão, ele é o mundo e o mundo é ele, assim, ele acredita sabê as vontade de tudo, num precisa pruguntá pra dona rosinha da suas vontade pruqui as vontade dele é as vontade dela
ele num tinha muntu uqui discursá além do seu palavreado estúpido qui diz, Basta saber da vida como eu sei para ser feliz, mesmo qui tenha o mais insignificante dos conhecimento ele se ergue acima de tudo e de todos na villa
e assim, foi desde sempre qui o siô augusto tomô posse da dona rosinha, as entranha dos dois tava nos aperto qui se embaraça sozinha, é meió longe e apartada duqui junto, mais é quando a vida dos dois se confunde entre as ideia do morto nos vivo qui a tolice da família perfeita vira pesadelo
as mão do siô augusto suava sozinha junto com as canela – o suó saia pelas mão e nas canela, achava um desespero apertá as mão de alguém quando tava de nervosismo – sentia o medo de acordá num lugá estranho, ninguém pra chamá ou lhe escutá, ninguém pra falá do tempo lá fora, nem comentá da vida aqui dentro, um morto-vivo
sozinho, perdido com ele mesmo
ele e o eco do seu clarão feio e desdentado, a intuição lhe avisando qui a morte tá se chegando gulosa e sem arrependimento, mais disso tudo – das força acabando, as dô nas costa, o espeto de pau mole –, uqui lhe dá mais tristeza é perdê a memória dele mesmo quando morrê, Não sei se quero lhe deixar livre depois que eu morrer, Mas que sonho mais descabido, Outro homem lhe agarrando! Outro homem, nesta casa! Acho que não vou aguentar isso, Acorda, homem! No caso mencionado, vosmecê já vai tá morto, Acho que lhe mato antes!
essas lembrança daquela casa sem ele fez tudo estremecê, os arrepiu veio, passô e voltô, oiava pra dona rosinha com usóio do mercadô, Paguei um bom preço. E um dia tudo vai se acabar. E se essa se acaba antes... eu terei que cuidar... tenha dó, meu Senhor... uma velha enrugada, torta e seca, sem fogo, sem as umidade que dá gosto beber, mijando na cama, oiava com vontade de arregaçá os dente, teve qui se controlá pra num uivá, depois sorriu, tava excitado: a cobiça se mexeu, os intestino se torceu, oiô prus pé descalço da dona rosinha, sentiu munta vontade de agarrá os dedo com os dente, lambê o solado e oferecê sua espada pra ela agarrá, fazê ela saí das costura do linho dobrado qui escondia sua sem-vergonhice
já faz tempo demais qui tá acabrunhado com dona rosinha, a saudade tumbém inventava a vontade, fechô usóio e a dona rosinha apareceu toda luminosa, colorida e oferecida, arreganhada, pronta pra sê usada – depois de muntu sem uso, as vontade num se envergonha dos pensamento sujo, Isso acontece se vamos deixando ficar além do ponto. Acabam as pernas, as bundas, só ficam as dores e um corpo desabado na cama – os delírios e as cisma dava pru siô augusto as resposta da confusão, Acabo morando com as putas... eu sei, eu sei, elas também não querem ressaca de velho... mas inventam um contentamento delicioso pelo dinheiro da guaiaca... o que não se pode é faltar com o prometido das moedas. E que não se tente a esperteza de não cumprir o combinado depois do serviço usado... elas arrebentam sua cabeça e vomitam no trapaceiro estirado na cama... já soube de caso que o tratante sem-vergonha acordou todo molhado da cabeça aos pés...
o siô augusto apostava, Assim me salvo... com as putas!
O sofrimento do Paizinho é coisa pouca se comparado com a angústia e a resignação da Chiquinha.
ela tava diferente, isso ele num duvidava mais, sentiu vontade de saí sem rumo, mais batê em retirada num era um gosto pra sê apurado
O que foi, Mãezinha?
pruguntô ele de volta, a quexada erguida, a voz dura do macho sem curação, sem pensamento e sem sentimento, profundo em ressentimento, desamparado da sua força, é só nessa força qui ele acredita
aquela conversa estranha com dona rosinha num lhe tava fazendo bem, mais quis mostrá qui tava disposto continuá com a acenação qui faz qui num entende uqui escuta, só pra dizê depois qui num sabia tê escutado
num assunto ele tava acertado: a dona rosinha tava diferente e isso precisava sê medido e consertado, ela tinha destravado a caixa de ferramenta das palavra, e, pelo qui parece, de uma veiz por todas
o siô augusto tava com receio de pruguntá donde tinha aparecido tanta palavra, onde andava metido o diabo daquelas palavra, se pruguntô sem tê conclusão
dona rosinha avançava sobre o cambaleante com o atrevimento da muié quiqué sê livre, quiqué respeito, quiqué pará de sorrí o tempo todo
Isso mesmo que o Paizinho escutou. Logo, e esse logo, é bem logo, vosmecê vai trazer para essa casa os moços com quem mais simpatiza e faz gosto, parô uma frestinha do tempo pra saboreá aquele morto sem rumo, num tinha motivo pra continuá, mais continuô, e vai oferecer a Chiquinha em casamento, principalmente, pelos favores que poderá receber.
a lua num sonha pruqui se vê lua, o sonho tá nas vista qui óia pra lua pendurada no silêncio da escuridão
E o que tem de errado nisso? Por acaso, vosmecê está pronta para perder as regalias desta casa? Como vai viver de fora para dentro? Vai escolher ser puta? Eu lhe mato antes! Já não tem mais a virgindade para oferecer como garantia. A Villa não é lugar de gente boazinha, ela usa mas despreza as mulheres que usa. Vosmecê vai jogar fora esse jeito de vida? Vai perder seus privilégios? Vai querer ser dona da própria vida? Falar e fazer é bem diferente. Pense bem...
no feitio de vê da dona rosinha a lua é um lugá longe, vazio e inútil, qui num deve tê formiga ou cigarra, um chão sem rio... A Mãezinha escutou?
O que tem eu, Paizinho?
A Mãezinha está ensinando a menina ser menos mandona, metida e dura com os meninos?
dona rosinha num tem dureza pra sê a lua ou num sabe, ou num qué sê a lua, ou num sabe qui pode sê a lua, o sol e as estrela
Meu Deus, Paizinho. Onde o sinhô busca esses pensamentos? É claro que estou ensinando a menina se comportar. A Chiquinha é para casar. Ela vai para o matrimônio virgem santinha, pronta para ser mãe e esposa, tudo ao mesmo tempo. Pode confiar.
pra dona rosinha num tê sonho é meió num lembrá qui pode sonhá, ela é a lua qui se esconde na escuridão, pendurada nos pensamento do siô augusto
____________________
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: chegô no piano
a lua na escuridão
Ensaio 127Bu – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
como o siô augusto num conseguia fechá a boca, cobriu ela com a mão do anel de dono de tudo na casa – qui vai da porta da fachada inté a cerca do fundo do quintal e mais tudo qui tem dentro, gente e coisa –, inventô uma e duas e trêis tossida, ia continuá na crise da tosse inventada inté tê uqui dizê daquela diabrura da muié, mais num tinha clareza duqui dizê, as palavra aparecia e desaparecia
dona rosinha achô meió dá um jeito de ajudá, Esse daí, já tá de um jeito que só não sente dor pra arrancar os dentes, eles caem sozinhos, tumbém cobriu a boca com a mão do anel de primêra dama da casa, tem veiz qui num tem como escondê as palavra qui num sai, deu uma e duas tossida bem piquinina
os pensamento embrabeceu e o siô augusto pensô descê a mão, mais as palavra num saia, sumiu tudo qui é palavra, Vai vai vai! Esmurra a atrevida... ela tá querendo... tira esse risinho da cara dela... eu tô avisando... ela tá querendo apanhar... uma boa surra corta o mal pela raiz... em outros tempos, por muito menos, já tinha descido a mão... marido indolente vira corno dos pensamentos da mulher... a natureza Divina criou a mulher para adocicar a vida... e o homem inventou o casamento pra fazer ela obedecer... a obediência é tudo...
os pensamento atordoava o siô augusto, inté qui desviô as vista pra tentá escondê a raiva qui só fazia crescê as tossida seca
Cuidado!... o Paizinho engasgou-se com o ar?
ele fechô a mão qui tava escondida e quase afugentô aquele deboche da dona rosinha com um soco na cara, achô meió enfiá a mão no bolso e guardá a força prum otro momento mais grave, ainda num tinha uqui dizê, queria tempo pra pensá, aquele silêncio qui tava obrigado ardia mais qui as ferida dos verme nas sepultura, muntu mais qui os morto podia contá e qui dava pra imaginá
Por acaso... a Mãezinha está brincando com o meu sofrimento?
pensá uquê, dizê uquê daquela cerimônia, ela num se moveu do lugá qui tava sentada deprimida, ficá triste já ficô e num teve jeito, ficá calada sempre ficô e num adiantô, tava na hora de ficá revoltada – e com muntu atraso – de fazê ele escutá os próprio pensamento entreguista da fia, um fio-da-puta desalmado e desanimado, mais ela num sabia muntu uqui dizê pra fazê sentido, naquela vida dusdois nada parecia fazê sentido hoje – nem fazia antes e nem vai fazê depois – eles num tinha motivo pra ficá junto além do costume de tá junto – pra bem da verdade, ela nunca teve –, mais tudo ia continuá igual, uma vida desprezada e sem colorido
as gente de bem da villa num gosta dos pensamento qui prugunta a respeito das vontade das muié, inda menos, se é muié preta, cruz e credo! elas é diminuída mais qui os pé descalço, só assim as gente de bem senti qui dentro de si é meió e merece o meió, quanto mais os pretu fica separado da vida mais eles é empurrado pra morrê escravizado em nome do bem-ficá das gente de bem
e isso virô verdade eterna qui passa dupainho pru fio, da mãinha pra fia, é defeito da criação misturada com as confusão da religião, é gente qui num qué aprendê qui nada é pra sempre nem a morte, ela tumbém é uma modesta solução pra vida, depois qui num tem mais ninguém qui lembra da sua morte, a morte acabô
o sentido da vida é vivê, depois da morte o único sentido de tê vivido é as lembrança da vida qui ficô na vida, mais chega o tempo qui inté a morte da vida num é mais lembrança pra ninguém, nada dura pra sempre nem a morte
e dona rosinha num sabia muntu uqui dizê pra fazê sentido pru esposo, sabe qui ele se aproxima das tempestade, ele gosta das coisa qui faz a tristeza dela sê infeliz, ele acredita qui o seu destino é maió duqui é, acredita qui o curação dele é o curação do mundo bão, os dois é junto pruqui ele é decente e bão, ele é o mundo e o mundo é ele, assim, ele acredita sabê as vontade de tudo, num precisa pruguntá pra dona rosinha da suas vontade pruqui as vontade dele é as vontade dela
ele num tinha muntu uqui discursá além do seu palavreado estúpido qui diz, Basta saber da vida como eu sei para ser feliz, mesmo qui tenha o mais insignificante dos conhecimento ele se ergue acima de tudo e de todos na villa
e assim, foi desde sempre qui o siô augusto tomô posse da dona rosinha, as entranha dos dois tava nos aperto qui se embaraça sozinha, é meió longe e apartada duqui junto, mais é quando a vida dos dois se confunde entre as ideia do morto nos vivo qui a tolice da família perfeita vira pesadelo
as mão do siô augusto suava sozinha junto com as canela – o suó saia pelas mão e nas canela, achava um desespero apertá as mão de alguém quando tava de nervosismo – sentia o medo de acordá num lugá estranho, ninguém pra chamá ou lhe escutá, ninguém pra falá do tempo lá fora, nem comentá da vida aqui dentro, um morto-vivo
sozinho, perdido com ele mesmo
ele e o eco do seu clarão feio e desdentado, a intuição lhe avisando qui a morte tá se chegando gulosa e sem arrependimento, mais disso tudo – das força acabando, as dô nas costa, o espeto de pau mole –, uqui lhe dá mais tristeza é perdê a memória dele mesmo quando morrê, Não sei se quero lhe deixar livre depois que eu morrer, Mas que sonho mais descabido, Outro homem lhe agarrando! Outro homem, nesta casa! Acho que não vou aguentar isso, Acorda, homem! No caso mencionado, vosmecê já vai tá morto, Acho que lhe mato antes!
essas lembrança daquela casa sem ele fez tudo estremecê, os arrepiu veio, passô e voltô, oiava pra dona rosinha com usóio do mercadô, Paguei um bom preço. E um dia tudo vai se acabar. E se essa se acaba antes... eu terei que cuidar... tenha dó, meu Senhor... uma velha enrugada, torta e seca, sem fogo, sem as umidade que dá gosto beber, mijando na cama, oiava com vontade de arregaçá os dente, teve qui se controlá pra num uivá, depois sorriu, tava excitado: a cobiça se mexeu, os intestino se torceu, oiô prus pé descalço da dona rosinha, sentiu munta vontade de agarrá os dedo com os dente, lambê o solado e oferecê sua espada pra ela agarrá, fazê ela saí das costura do linho dobrado qui escondia sua sem-vergonhice
já faz tempo demais qui tá acabrunhado com dona rosinha, a saudade tumbém inventava a vontade, fechô usóio e a dona rosinha apareceu toda luminosa, colorida e oferecida, arreganhada, pronta pra sê usada – depois de muntu sem uso, as vontade num se envergonha dos pensamento sujo, Isso acontece se vamos deixando ficar além do ponto. Acabam as pernas, as bundas, só ficam as dores e um corpo desabado na cama – os delírios e as cisma dava pru siô augusto as resposta da confusão, Acabo morando com as putas... eu sei, eu sei, elas também não querem ressaca de velho... mas inventam um contentamento delicioso pelo dinheiro da guaiaca... o que não se pode é faltar com o prometido das moedas. E que não se tente a esperteza de não cumprir o combinado depois do serviço usado... elas arrebentam sua cabeça e vomitam no trapaceiro estirado na cama... já soube de caso que o tratante sem-vergonha acordou todo molhado da cabeça aos pés...
o siô augusto apostava, Assim me salvo... com as putas!
O sofrimento do Paizinho é coisa pouca se comparado com a angústia e a resignação da Chiquinha.
ela tava diferente, isso ele num duvidava mais, sentiu vontade de saí sem rumo, mais batê em retirada num era um gosto pra sê apurado
O que foi, Mãezinha?
pruguntô ele de volta, a quexada erguida, a voz dura do macho sem curação, sem pensamento e sem sentimento, profundo em ressentimento, desamparado da sua força, é só nessa força qui ele acredita
aquela conversa estranha com dona rosinha num lhe tava fazendo bem, mais quis mostrá qui tava disposto continuá com a acenação qui faz qui num entende uqui escuta, só pra dizê depois qui num sabia tê escutado
num assunto ele tava acertado: a dona rosinha tava diferente e isso precisava sê medido e consertado, ela tinha destravado a caixa de ferramenta das palavra, e, pelo qui parece, de uma veiz por todas
o siô augusto tava com receio de pruguntá donde tinha aparecido tanta palavra, onde andava metido o diabo daquelas palavra, se pruguntô sem tê conclusão
dona rosinha avançava sobre o cambaleante com o atrevimento da muié quiqué sê livre, quiqué respeito, quiqué pará de sorrí o tempo todo
Isso mesmo que o Paizinho escutou. Logo, e esse logo, é bem logo, vosmecê vai trazer para essa casa os moços com quem mais simpatiza e faz gosto, parô uma frestinha do tempo pra saboreá aquele morto sem rumo, num tinha motivo pra continuá, mais continuô, e vai oferecer a Chiquinha em casamento, principalmente, pelos favores que poderá receber.
a lua num sonha pruqui se vê lua, o sonho tá nas vista qui óia pra lua pendurada no silêncio da escuridão
E o que tem de errado nisso? Por acaso, vosmecê está pronta para perder as regalias desta casa? Como vai viver de fora para dentro? Vai escolher ser puta? Eu lhe mato antes! Já não tem mais a virgindade para oferecer como garantia. A Villa não é lugar de gente boazinha, ela usa mas despreza as mulheres que usa. Vosmecê vai jogar fora esse jeito de vida? Vai perder seus privilégios? Vai querer ser dona da própria vida? Falar e fazer é bem diferente. Pense bem...
no feitio de vê da dona rosinha a lua é um lugá longe, vazio e inútil, qui num deve tê formiga ou cigarra, um chão sem rio... A Mãezinha escutou?
O que tem eu, Paizinho?
A Mãezinha está ensinando a menina ser menos mandona, metida e dura com os meninos?
dona rosinha num tem dureza pra sê a lua ou num sabe, ou num qué sê a lua, ou num sabe qui pode sê a lua, o sol e as estrela
Meu Deus, Paizinho. Onde o sinhô busca esses pensamentos? É claro que estou ensinando a menina se comportar. A Chiquinha é para casar. Ela vai para o matrimônio virgem santinha, pronta para ser mãe e esposa, tudo ao mesmo tempo. Pode confiar.
pra dona rosinha num tê sonho é meió num lembrá qui pode sonhá, ela é a lua qui se esconde na escuridão, pendurada nos pensamento do siô augusto
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