parábolas de uma professora
a luta nunca acaba
Ensaio 019B – 3ª.ed
baitasar e paulus e marko e kamilá
Não sou uma grande entendida em Rui Barbosa, mas, se me permitem, sabemos que ele era uma grande defensor das liberdades individuais e como advogado defendeu e libertou, junto ao STF, os presos políticos opositores ao governo de Floriano Peixoto, segundo Presidente do Brasil, um militar – assim como o primeiro, Mal. Deodoro da Fonseca –, como políticos são ótimos candidatos a ditadores, formatados para dar-obedecer ordens e com muita dificuldade para ouvirem o contraditório. Rui Barbosa fez oposição ao governo de Floriano Peixoto e precisou ficar exilado por dois anos, entre 1893 e 1895, lembram do lema, “Ame o Brasil do nosso jeito, ou deixe-o!”, pois o grande Rui Barbosa, citado pelo professor Rodolfo, foi exilado, graças a essa oposição ao governo de mais um militar. Mas nem por isso seria unanimidade esse abolicionista, liberal e defensor das liberdades individuais, que experimentou as próprias contradições no seu tempo histórico.
a sala do pânico escutava em silêncio
Colegas, a altíssima pediu a palavra, parecia incomodada, talvez, quem sabe, com o rumo que a reunião tomou e a falta de tempo para os recados administrativos, media o falar, vocês sabem que gosto muito das aulas de História e das histórias que escuto aqui, bem como, dos debates e das conversas, e tudo que estamos escutando e ouvindo hoje não me permite interromper, mas por uma questão de ordem vou pedir que quem quiser fazer uso da palavra se inscreva com a Antônia, certo? Não estamos em uma conversa informal, precisamos estar organizadas minimamente ou poderemos experimentar o pressentimento da falta de sentido deste momento, muito bem, muito bem, enganei-me com a altíssima, a conversação vai continuar
E o que faço com o assunto que queria prosseguir, mas não cabe mais na sequência dos inscritos com a Antônia?
Por favor, Fernando, né? É só retomar a pauta...
quem consegue compreender que exista tanto ódio e preconceito entre tanta gente do bem, muitos e muitas se comportam como se os outros fossem ruins, o ódio e os preconceitos estão no outro, nunca em mim, adoram complicar
E aproveitando que estou fazendo uso da palavra, a altíssima prosseguindo e a sala do pânico em silêncio, gostaria de dizer ao professor Rodolfo que estou muito triste e chocada com suas palavras à nossa comunidade escolar. Professor, essa comunidade precisa do seu trabalho, mas vou entender se o senhor deseja estar num outro lugar, bem longe daqui, um outro sabor pedagógico, quem sabe, mais calmo, tranquilo e sossegado. Na mantenedora, por exemplo. Não vou julgá-lo por suas palavras, seria uma estupidez intelectual e emocional da minha parte, se é preto não presta, se mora na vila não presta, se é mãe solteira não presta, se não gosta das minhas aulas não presta, se não gosta da escola não presta, se não gosta de dar aulas não presta, todos e todas se vigiam e ninguém é feliz nesse teatro de horror que montamos. E vergonha, medo, culpa e agressão não são as melhores parcerias para caminharmos pela vida.
uau, uma solicitação de remanejo ao vivo e a cores, isso jamais havia presenciado
Ora, ora, o pau que não querem que bata em Francisco pode bater no Chico! A senhora diretora da escola está me mandando embora? Hum... Ame do nosso jeito, ou deixe-a!
por mim, se é por falta de adeus já deveria ter ido, menos um idiota preconceituoso e cagão! não temos tempo para educá-lo, não tenho a sua paciência Anton Makarenko, minha escolha é estar entre as crianças, adolescentes, adultas e velhas pessoas abandonadas, os mais necessitados e menos atendidos pelos poderes públicos e privados
Não, não é isso. O colega escutou, mas não ouviu, se ouviu não entendeu. Acredito que a vida é complexa e alegre, e também triste, claro, mas é nossa obrigação, neste poema pedagógico – uau! estamos em sintonia altíssima –, desfrutar dela sem menosprezar as outras vidas. O nosso trabalho precisa ser feito com competência e com resultados, sim... e com muita amorosidade. Entendo que ninguém sabe tudo, e mais importante, ninguém sabe nada. Sair ou ficar é sua escolha, mas ficar sem amorosidade não é opção. Ficar por desabafo ou ressentimento só demonstra quão tolos podemos ser.
a fórmica verde que se erguera dois metros do chão afundava os pés, o ajudante bélico com seus argumentos grosseiros e ofensas para justificar um bem-estar falso e estéril estava calado, não para sempre, nunca se calam ideias de dominação para sempre, elas retornam revestidas com outras ignorâncias, mas sempre sob o mesmo desejo da subjugação
essa luta nunca acaba
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Leia também:
parábolas: ensaio 001A / Camarada, Ofélia!
parábolas: ensaio 002A / o coração livre para voar
parábolas: ensaio 003A / macho, branco e dono de tudo
parábolas: ensaio 004A / uma carreta de bois
parábolas: ensaio 005A / amar para se deliciar junto
parábolas: ensaio 006A / civismo cínico
parábolas: ensaio 007A / o compromisso
parábolas: ensaio 008A / minicontos de natal
parábolas: ensaio 009A / a fome que nunca passa
parábolas: ensaio 010A / o medo no cardápio pedagógico
parábolas: ensaio 011A / o futuro não é eterno
parábolas: ensaio 012A / o bufê das comidas invisíveis
parábolas: ensaio 013B / o sorriso cínico da desesperança maliciosa
parábolas: ensaio 014B / a esperança mobiliza a realidade
parábolas: ensaio 015B / silenciar o outro não é educar
parábolas: ensaio 016B / Eva e a uva
parábolas: ensaio 017B / acertou, ele mesmo...
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parábolas: ensaio 019B / a luta nunca acaba
parábolas: ensaio 020B / o patriotismo de fachada
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