sexta-feira, 16 de novembro de 2018

histórias de avoinha: praça pública é lugar de assombração!

mulheres descalças

praça pública é lugar de assombração!
Ensaio 127Bd – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar


continuando...




Saia da janela, minha filha!

o chamado foi seco e direto, mais ela fez qui num tinha chegado nos dois lugá de escutá os chamado de deus, ela escutava e usava do fingimento pra dizê qui num escutava – o mesmo fingimento qui o painho e a mãinha faz nas missa dominguêra, eles escuta escuta escuta e faz qui não escutô inté voltá na dominguêra seguinte pra pedí os perdão tudo, Não vou na missa, meu pai, Por que, minha filha, Deixe-me em casa, só não quero ir, Mas por que, filhinha, Não suporto mais tanto fingimento e tanta absolvição, É o perdão pelo arrependimento, Eu não vou, não tenho do que me arrepender –, essa e otras rebeldia disfarçada colocava na conta do painho e do navio qui ela nunca pode subí, um desaforo qui num conseguia engolí das memória

sabia qui tava desajudada nesse seu feitio de num obedecê, desacompanhada da sua mãinha qui nunca tem desatenção com o painho – se teve num disse –, ela parecia e desaparecia pela casa, indo e voltando na ponta dos pé, obedecendo quando queria sê ausente, ignorada quando queria sê vista, uma muié de todo uso passando pela vida da casa como uma sombra, Não quero essa vida, não quero ser outra mulher ensombrecida. Não quero um homem só para mim – como se isso fosse possível –, nem quero ser de nenhum homem como uma sentença de morte. Não sou roupa para ser usada, lavada e guardada no armário, tava decidida casá com ela mesma, tê como amante a música pianística e dêxá as teia da aranha crescê prudrentu, como fala seu painho quando qué fazê piada das soltêrona

A polícia pública prendeu o negrinho, papai!

ela num tava de fingimento, viu qui a vida pulava mais forte no pretu acorrentado qui no abafamento seguro daquela casa

Saia da janela!

e, na primêra veiz qui tirô as vista da praça pru painho, viu qui ele tava com arrepiu, daqueles arrepiu qui num larga o amedontrado sozinho, trava ele no mesmo lugá inté o medo se cansá de brincá com o bicho-papão

Venha ver, papai! Venha ver... Coitado, não tem nenhuma chance.

o painho tava retirado de si mesmo, dentro dum pesadelo inventado e cultivado pelas rachadura do espritu e a ganância, pra num sentí a dô da injustiça o espritu se desprendeu da alma e a alma se desapegô do espritu, foi quando o painho enfiô na cabeça o chapéu de tê as coisa e a cabeça desapiedô o curação pra fazê o mau parecê o bão, passô a lavá a língua com sabão antes da comunhão do vinho e do corpo

Meu Deus, saia daí! Saia desta janela! Qualquer que seja o motivo tenho certeza que o negro merece...

a muriquinha pianística num se assustô com as palavra do painho falante e juiz julgadô, um hôme salgado e sem munta palavra de afeto pela vida da casa, suspirô pensativa e triste, ele parecia em transe, quase em lágrimas, o corpo balançando além do costume, ela quase choramingando, Ô mãinha cuida de mim, me abraça, me dá seu colo. Ô mãinha, não se solta de mim, me laça, pega meu colo.

Saia daí, minha filha!

lá fora, o tumulto dos embriagado de ódio e o canto melancólico das cabeça descolorida da raiva áspera: a brutalidade e a estupidez qui castiga pra esvaziá a vida da vida

já tinha visto o painho com raiva da mãinha, muntu enfurecido, danado de vontade pra batê em mãinha, mais num lembra divê ele com tanta danação descontrolada, A raiva prudente lhe cai muito bem, escutava da mãinha

depois do descontrole disfarçado em remorso o pãinho saia batendo nas porta, Minha filha, não se preocupe, um homem assim sobe nos cargos de uso e importância na Villa. Um homem sério não pode ser frouxo, os devaneio da mãinha ocupava a muriquinha nos dois lado, o céu e o chão, mais foi a resistência teimosa qui fez ela sussurrá as palavra para salvá a alma duseu espritu

Nossa casa vai ser amaldiçoada de tanto ver maldade e fazer que não vê, pra muriquinha os espritu precisa tê alma, no caso de num tê eles é só maldição assombrada qui num dá importância pru sofrimento dosotro

o juízo anunciado pela fia foi o bastante pru painho despregá os pé fincado no chão madêrado, deu dois ou trêis passo rápido, O castigo tem que ser na hora do crime – lembrava as palavra do painho pra mãinha quando ele lhe chamava pru corretivo devido –, o último passo foi só pra calculá a distância da mão inté chegá na pianística

e a mão chegô

Isso não é maneira da minha filhinha falar. Quem te ensinou isso? Deus vai te castigar!

Ele já castigou, a muriquinha pensô e num disse, tanta coisa sem sê dita, guardada prudrentu, roendo a alma e comendo o espritu

o rosto ardia, o corpo tremia quando ela virô-se pra mãinha escondida com o rosto nas mão, a mais véia sabia qui num adiantava lutá contra a força do esposo amado, mais bem qui tava com vontade de pegá sua fia inté esse desacerto passá – era assim qui ela chamava quando a mão do esposo amado ficava com jeito de dono de tudo: desacerto – e ficá as duas enfiada no silêncio das fresta da casa, esperando a assombração do esposo amado voltá pru fundo dos armário

pras vista da fia dava os consêio qui rezava pra ela mesma, Paciência, minha filha, o tempo ensinô pra mãinha qui tudo passa, as mão qui ficô dura se amolece e se junta pra rezá, pedí perdão e jurá qui num faz uqui fez pruqui gosta, Nunca mais vou fazer. Eu juro.

a dô castiga o curação partido e os suspiro do medo num dá perdão, a vida vai esvaziando, perdendo a ginga das anca, o dorso se curvando e as vontade se perde enfiada nas fresta

é quando as água dusóio seca e para de descê

então, a vida ficô pra sempre estropiada, nem tem carinho qui remenda promessa espancada, pra muié é meió rezá pra ficá apartada disso tudo pruqui o desacerto num para e vira costume, pode sê admirada, preferida, perfeita, mais se tem dono num é dona dela mesma

triste o tempo qui gente tem dono e tem gente qui gosta de sê dona de gente

a mãinha num sabe – se sabe num diz – qui tá com as mesma ideia dos abicu, eles tumbém usa as mesma fresta da casa; todas manhã, os ausente da vida sem sonho de um dia tê vida fica nas fresta pra num sê varrido junto com as terra poerenta qui aparece pra fugí das escuridão da noite

as vassôra preta das manhã qui varre as pegada da escuridão pela casa vai pedindo licença e desculpa pras assombração, a muié-vassôra arregala o miolo branco dusóio qui parece dizê, Nunca vi assombração, mais vai sabê, né? Salva as banda delá. Salva as banda dicá.

essa vida de escondido faz os vivo virá assombração e tê medo das própria assombração

tinha veiz, qui o desacerto fazia a mãinha da pianística tê munta vontade de ficá despegada da própria vida, perdida dos atributo de qualqué belezura ou alegria, virá uma estátua feia e fria na embalagê do cobertô de terra, cansada e enojada qui ficô de sê a criatura pra recebê – veiz qui outra, é bem verdade – as martelada seca, apressada e sem gosto na juntura da cravada do prego no entalhe, Negro e mulher não é gente, pensava oiando com raiva pru teto manchado enquanto o esposo amado procurava embutí o prego no entalhe, a vontade do prego esfriava rápido, mais isso num importava mais, num alisava, num tocava, só esperava, gostava de num dá alívio, nem se importava com o conforto, já num dava mais preocupação tê dúvida, Onde o meu marido amado está procurando alívio, aham, tem purugunta qui fica na cabeça e num sai da garganta pra fora, num ganha vida pra sê escutada e trazê incomodação

faz tempo qui mãinha perdeu a vontade de sê escutada ou tê incomodação

a muriquinha num tava pronta pra se enfiá nas fresta da casa, mais num tinha como passá sem derrubá o cerco raivoso do painho, decidiu avançá, O sinhô quer saber? Eu odeio o sinhô! Odeio seu rosto cansado, sério, sua barba por fazer, seus cabelos desarrumados! Como o sinhô pode me bater?

o rosto dos dois tava triste, parecia tê luto na casa misturado com desolação e atrevimento, a morte covarde do pai pra fia

Aprendi que negro não é gente.

Não entendi, sinhô meu pai...

o painho lhe parecia um bufão descontente, um corpo com espritu sem alma, uma assombração

Minha filha, as maneiras mais importantes se aprende, pouco a pouco, em casa.

uma assombração louca, desmiolada e cruenta

Como, papai? Apanhando?

Se for preciso, sim. Mas também escutando seu pai, observando na Villa gente importante e elegante que tem o respeito e a admiração de todos os mais pobrinhos até os mais ricos.

E os negros, papai?

O que têm os negros?

seu painho num era nem pió nem meió qui os otro, puro tédio

Papai...

Está bem... está bem... eles não são gente.

Como assim eles não são gente?

Eles não têm alma e não têm nada para ensinar.

Eu não entendo, papai.

A minha filha amada não entende o quê?

Eu preciso apanhar para aprender isso?

Se for preciso...

Por que tanto medo dos negros, papai?

Eles são assombração...

o painho admirado dele mesmo, tanta falação quando bastava dizê, Chega! Não se fala mais nisso, abanô a cabeça e continuô educando a fia pianística sobre quem é gente e quem num é gente, É desde pequenininha que se endireita o pepino!






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