sexta-feira, 7 de setembro de 2018

histórias de avoinha: posso não vencer, mas preciso lutar

mulheres descalças

posso não vencer, mas devo lutar 
Ensaio 126B – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar




o barão chegô abrí a boca pra dizê à baronesa ayomide qui a realidade é mais arriscada e embaraçada qui as vontade dela, num disse, pensô meió nas palavra quia dizê, ninguém meió qui a sua muié sabia os risco da realidade da vida com tanta míngua e penúria, num era ele quia ensiná sobre favorecimento e pagamento, instruí sobre dô e perdão, muntu menó era a chance de domesticá sobre obedecê e mandá 

E se eu não interrogar o caramuru?

longe de tá acalmado, o barão num via otro jeito qui num seja enfrentá as palavra acusatória do moringue no meio dos villêro, oiava pru rumo pra vê a orientação do destino, num tinha onde escondê ele mesmo e a vontade de num tá ali, mais podia escoiê onde e como se aparecê pras purugunta, sabia qui só ia tê o assombro pra uma purugunta, um espanto pra deixá o moringue pensativo e com a voz mansa, coisa qui num ia durá pra uma segunda purugunta

conheceu fiu de gente bem colocada na villa qui puruguntô certo, na hora errada, precisô saí de casa e abandoná a denguice, o requinte, a afetação das villa mimosa, inté vivê mendigo esfarrapado das rua com cão pulguento sem nome e sem vida mansa, saiu de casa pra morrê longe pruqui num fez a purugunta certa no tempo certo

os grito amontoava na volta dele, o barão estremecia pudrentro, aparentava nas feição um fingimento calado qui num tava nele: calma e firmeza

Eu mesma faço a pergunta.

ele num precisava duvidá das intenção da baronesa, aliás, num queria e nem titubeava; num conhecia toda a baronesa, mais as parte qui conhecia num deixava ele duvidá qui ia cumprí o prometido. os dois se encarava como dois galo de rinha, pronto pra lutá; parecia qui a junta de marido e muié tava embriagada pelo desejo de num cedê pruotro a sua vontade de fazê ou num fazê

Vosmecê está louca? Não pode interrogar o caramuru!

a praça enrubesceu junto com o barão, as gritaria parecia qui num ia tê fim, grito obsceno e sem sentido além da vontade de machucá

a tocação do piano estancô

uma muriquinha apareceu na janela

as cabeça despenteada oiava pru ajuntamento qui subia na ladêra da praça, uma qui otra boca aberta e silenciosa, a maioria gritava maldição e mais qui pedia, desatava o ódio qui se escondia na educação das reza: Mata!

o desalento do medo provoca a vida qui precisa da morte dos desafeto, os uivo das cabeça bem-intencionada nas reza já num dominava a vontade de vê o pretu sofrê em nome de todo pretu metido, qui num sabe a sua esquina de ficá; uma guerra sem fim entre os dono de tudo, usqui qué sê dono de tudo, usqui acha qui pode sê dono de tudo, contra os pretu escravizado, Desta vez, mata!

Por quê, os dois parô de frente, ele fez qui num entendeu, ela repetiu a purugunta otra veiz, e mais veiz se ele continuava se fazê de surdo, por que eu sou preta?

ah, se esse marido e as pessoa gritando pudesse tá prudentro dela, sentí as lembrança qui ela tem e nunca viveu, o presente amarrado no passado de tanta alegria e amô qui ela num teve, mais qui fica seca e vazia de tanto imaginá e tanto querê, Como eu quero ter tido o colo da mãinha suprema, semente da minha vida com os espíritos do passado, o ventre da estrada das águas, Ìyá Mesan Òrun, mãe dos nove céus, as vestimentas coloridas, os panos de cabeça, o chão de terra, a enxada de ferro, o cheiro do mato, mais uqui lembra de tê tumbém, ajuntada com tudo qui é pretu: o chão batido, o céu de páia, sem parede, os pretu atado pela dô das corrente, esperando o tumbêro; a mãinha carregada dieu na barriga caminhando solta prudentro dos barracão; a sopa fervida com a cabeça, o sangue, as tripa e o couro dos boi, às veiz, um tanto de sal, feijão, milho e peixe; os banho salgado pra lavá os óio e a boca, na bêrada da estrada das água; junto e meió guardado ficava o arroz, as pele, o marfim, a cera, a pimenta, as pena de pássaro, o óleo de palma e o ouro, tudo aprisionado pela nuvem da cobiça dos escravizadô

Sim, porque vosmecê é negra e mulher.

Acabô, pensô a baronesa, preciso de outro lugar para ficar, a cara suada num abaixava, os óio bem aberto desafiava todos qui tava na praça, tinha o corpo cansado, nervoso, mais usóio lampejava, queria chamá pra brigá os inquilino da vida, a villa toda, as feição delicada num ia repousá, ela tava toda alterada, tava em guerra, não, ele não vai se livrar tão fácil assim.

Então, se vosmecê não aguenta uma mulher fazendo o seu serviço, faça vosmecê o serviço de homem!

o barão tava abafando, encharcado com o suô da praça, alguma coisa na volta se apodrecia, Acho que não sou eu, mas bem que pode ser, pensô, esse fedor da morte chegando eu conheço bem. Tudo na volta fica embriagado de ódio, a intolerância cresce até que a morte toma o seu lugar de volta e a vida cede.

Mas... por que isso agora, Maria Clara?

a baronesa num respondeu logo, tava parada, muda, num oiava ninguém, num odiava ninguém, mais num tava brincando, o barão sabe qui ela tá uma brasa pronta pra incendiá tudo, as narina tremia, os lábio se apertava; ele sabe qui ela tá na razão e ele desacertado, isso aumenta o seu desconforto, mais num faz ele se mexê, É tanta a vontade estar bem longe daqui, tomando o meu vinho tinto, comendo canapés e saboreando minha negra fervendo, pensava uma coisa qui num falava, nem mesmo depois de provocado pela baronesa

Por quê? Porque esse rapaz não existe para ninguém! Mas existe para mim. Posso não vencer tanta maldade, mas posso lutar!


E vosmecê está disposta a ir até onde?

O que o Barão acha?






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