domingo, 8 de maio de 2022

histórias davóinha: Josino (II4jB - ... do demônio...)

Josino: II - as contas da lua

do demônio...
Ensaio 4jB – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



siá casta levantô pra vê uqui passava cua fervura qui num era aprontada, logo o marido ia lembrá o café qui num chegava, ia gritá pelo quebra-fome, num gostava diusá nem escutá grito, Grito é recurso para usar como a noite usa a lua: se usar demais perde importância, não resolve esmorecimento nem a falta de vontade da negrada, no modo divê da siá, a gritaria diminuí a força de quem grita e faz avolumar o desalento, deu dois passo junto cuos pensamento, lembrô didizê pruqui tava saindo

Vou ver a razão para tanta demora, depois dudois passo dado estancô pra pruguntá, E como... e quando... sinhô marido...

E como e quando o quê, sinhá?

A reposição do negro...

usiô clementi subiu a quêxada e desviô usóio pra siá, num respondeu já, num dava importância logo pra siá, dêxava a fervura subí devagá, num tava desmoderado nem desenfreado, oiô oiô e oiô, a quentura demorava levanta a fervura, Por que eu tenho essa vontade da Casta quando a sinhá está assim, balanceava aquele pensamento desarranjado, desaprumado da hora e do lugá, a vida não é para amador. É um tabuleiro de xadrez, pertô e desapertô as mão

Logo... logo... a sinhá nunca mostrou interesse pelos negros que não são da casa. Isso é novidade, abriu a boca pra continuá, mais achô meió embuchá as palavra, mudô o assunto, não esqueça a carta da alforria do sebastião.

a siá fez jeito de negação, tentô refutá a tarefa recebida, num quiria dizê do desconforto qui tava sentindo cua incumbência, num achava justeza nesta alforria

Mas... Clemente...

usiô clementi levantô a mão aberta, baixô a quêxada e fechô usóio, parecia medí as palavra enquanto balanceava a cabeça, A obediência pelo medo é uma covardia que precisa ser plantada dia-a-dia, sinhá Casta, às vezes aos gritos, outras vezes com a suavidade do convencimento. O segredo está em saber dosar entre um grito, um castigo mais forte ou duas ou três ameaças. Não é uma tarefa cem por cento segura. Não é raro, e chega a ser um desafio interessante, quando algum criolo indeciso e arrogante precisa sofrer na carne as consequências da sua desobediência. É preciso mostrar quem manda, é preciso dar exemplos, a voz sisuda e forte saiu como um soco pra ajudá no convencimento, num foi pra derrubá, foi pra empurrá pru canto escuro qui só faz aumentá as dúvida e o medo do patrão

Chega! Isso é assunto decidido. Não vamos perder tempo. Vou resumir para a sinhá entender: economizando nas obrigações fúnebres recupero parte dos impostos pagos pelo negro morto, assim, juntando daqui e dali, a sinhá tem mais para fazer uso na casa, na sinhá mesma, nas crianças... satisfeita?

É tanto assim?

usiô clementi viu quia siá casta tava mesmo aturdida, num sabia as miudeza da comodidade na vida qui tinha

Não é só pela quantia usada para comprar ou colocar o criolo no buraco, é também o prazer de enganar essa gente governista e indecente! Sanguessugas! Não trabalham! Vivem do meu trabalho! Só aparecem quando têm algum interesse em vista!

as cara qui fazia era toda inchada, a garganta desembuchava, a boca cuspia os grito qui tinha sangue, só faltava a cachaça, usiô lembrô qui era hora do café, mais foi siá qui gritô

E o café, gabriela! Negrada do demônio, a casa estremeceu 

ninguém lembrava quanto tempo fez da siá soltá grito e palavra injuriosa

Isso, sinhá... muito bem! A casa é sua preocupação, o café é o seu dever. A família acima de todos e Deus acima de tudo! O restante das preocupações deixe comigo. A sinhá cuida dos enfeites da casa e eu cuido dos patacões e cruzados de prata, os pensamento vibrava nusiô clementi, sentia vontade de levantá o relho e batê as ponta nas carne preta, não tem criolo que vale mais que um tostão dos seus pensamentos de preocupação.

usdois oiava um notro, fazia tempo qui num oiava assim um notro, com tolerância e vontade e bondade

Acho que vou ter que ir até a cozinha...

E aproveite para providenciar papel e tinta, depois do café quero a carta da alforria do defunto fresco. Pense coisa boa, o sebastião vai para o buraco como um criolo livre e feliz, a risada qui deu num era pra brincá, faça com data de trasanteontem que me encarrego do resto com o tabelião Ozório.

uma selvageria inocente e necessária prus costume dusiô clementi, Com decência não se acumula riqueza, o sol começa invadí o avarandado e o alpendre, as sombra da mata inda tava espichada, a luz fraca brincava prudentro da casa, se viu no pesadelo ditê qui fechá usóio do Sebastião, esburacá a terra no mesmo tempo quia senzala cantava e dançava e batucava, Sebastião se chega mais perto, os passo miúdo, arrastado, usóio quase fechado, a carapinha branca como neve emboladinha, as batida duspé arrastando, a cantoria na senzala, uspé nas corrente, os requebro, as língua dusespritu gemendo, a música desembestada, usiô clementi agitado, ele senti fedô no gosto, Enxofre! Não quero nenhum enterramento de criolo dentro da fazenda, sonho e pesadelo, as batida continua desembestada, nenhum corpo presente, nenhuma consideração, sem os cuidados e respeito, matem os criolos, ninguém parece querê ajuntá Sebastião, Alguém leve esse criolo! No cemitério da família só desce à terra carne branca, quem tem alma, honra, importância e os dobermann, só então, ele sivê na cova rasa, Tirem-me daqui! Buraco errado! Esse é o lugar do sebastião, tirem-me daqui! Não é hora e lugar! Estou avisando! Aqui quem manda sou eu!

Pronto, aqui está o papel, pena e tinta... o que foi sinhô Clemente? Parece que viu um fantasma...

uspé dusiô clementi tava ensopado, ele num suava nas mão, mijava nuspé, oiô siá casta, a muié carregava um rosário entre os dedo, atráis a preta descalça, tinha chegado hora da extremunção

siá casta sentiu um calfrio quando oiô pra tráis

O que foi, gabriela?

Posso serví o café?

Sim. Chega de atrasos.

usiô clementi continua sem dizê e sem escutá, moiando uspé, murmurando pelos dentí, Negrada do demônio... criolo metido...




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é bão lê tumbém se quisé...

histórias davóinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias davóinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias davóinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias davóinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias davóinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias davóinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias davóinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias davóinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias davóinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)
histórias davóinha: Josino (I11j - o balanço da rede)
histórias davóinha: Josino (I12j - a lua se rindo)
histórias davóinha: Josino (I13j - Oxum chora)
histórias davóinha: Josino (I14j - uma fugição sem fim)

histórias davóinha: Josino (II1jB - um mundo encardido)
histórias davóinha: Josino (II2jB - obrigações fúnebres)
histórias davóinha: Josino (II3jB - um acaso ou descuido)
histórias davóinha: Josino (II4jB - do demônio...)
histórias davóinha: Josino (II5jB - a carta da alforria)

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