domingo, 29 de maio de 2022

histórias davóinha: Josino (II6jB - a roupa da viuvez)

Josino: II - as contas da lua

a roupa da viuvez
Ensaio 6jB – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



Uma boa carta de recomendação para uma boa morte, a sinhá Casta não concorda?

usiô gostava de cutucá na onça de tocaia qui espreitava cada canto, cada sombra da casa grande, num lhe importava o tamanho da vara, gostava daquela beleza roliça cuas saliência da cobiça, uma onça religiosa, bondosa e humanitária com seus babado e fitas no vestido

levantô duseu lugá dono de tudo na casa – oiá da cabedêra à mesa lhe importava mais quias conversa com dona casta – e caminhô volta e volta da mesa, as mão pra tráis, uma agarrada notra

siá casta num respondeu, num fez gosto da carta, Isso é um pecado, mais num tinha pra dizê, nada pra fazê contra, só tinha autoridade pra rezá e pedí absolvição, num tinha alegação forte pra tanto desapreço cua retidão das história do acontecido, chamô Gabriela pra limpeza dos sabores da cafeteria

Ocê já pode providenciar a limpeza da mesa.

Sim, siá...

passo de bota pra cá e passo das espora pra lá – as bota subia inté as dobradura das perna, cano de vara longa –, usiô clementi parecia num sabê nem querê sabê dos gosto ou desgosto da siá, relanceô as vista pra Gabriela, a blusa dum branco desbotado sobre a pele negra angustiada e desejada à força, Negra é negra, fez cara de riso pra continuá o ranço das intenção suja, tem muita serventia deitada ou em pé, essa deve chorar, implorar e querer não ter nascido. É preciso agarrar e maltratar, algemada quem sabe... quanto mais assustada melhor... mais tarde, quem sabe... quem sabe...

reclamô a morte bonançosa do Sebastião, parô os passo e deu grito na direção da cozinha

E chega desse queixume! Isso não é velório de gente!

continuava useu divertimento, um brutamente zombetêro, uma autoridade criminosa, dono nos mando e desmando dos costume na casa grande e na senzala, Negra é negra, jogava nos canto ou deitava em cima cua sua perversão, a coação da podridão mal digerida, zombava dos sofrimento fúnebre e das chorumela meio rezada, meio cantada

Mas que aviso mais sem cabimento, sinhô Clemente.

usiô da casa estancô, fincô uspé no chão, num tava costumado se contrariado nem sê desaprovado, falava pra sê escutado, ordenava pra sê atendido, Manda quem pode, obedece quem precisa, e na suas conta isso num ia mudá nem agora nem nunca

O criolo teve uma boa morte... com certeza, mais do que merecia, parô as palavra pra examiná a limpeza da cafeteria, e o guri de parede?

a siá casta num tinha dado na falta do muriquinhu encostado na parede da sala esperando sê chamado pra alcançá copo d’água, descalçá as bota, descarregá pinico – só sai do encosto d parede pra se descarregá, comê e durumí –, um muriquinhu qui num tinha otro muriquinhu afeiçoado nem aliado, num brincava, o dia parado, encostado na parede

Deve estar na comitiva fúnebre...

Depois de encontrado deve ser castigado... não faça essa cara de santa, é desde pequeno que se desentorta o pepino.

O sinhô Clemente ordenou está mandado ser feito, mas na sua bondade e sabedoria não acha um pouco demasiado o negrinho ser castigado? Parece que ele e o Sebastião eram muito chegados.

Já lhe avisei para não se deixar incomodar, negro é negro, nada além disso. A sinhá precisa de pulso forte na medida, sem descuido... e o viúvo... não vem ajudar no tal sofrimento fúnebre?

a siá fez a cruiz do credo e mais num disse, no bem ou no mal ia sê prejudicada, num tinha da audácia qui acompanha os agoniado, agitados pelo desassossego das injustiça, num sentia afetação nem sentia enjoo, só pensava nos bolo, doce e nas próprias cria, tinha e num tinha queixume, é assim quié, foi criada no propósito disê esposa, uma serventia qui exigia lealdade, docilidade e obediência pra toda vida, virá a cara pra otra bofetada, o troco é tê regalia no sustento, mão escravizada prus trabáio sujo e pesado na casa grande, calma e descanso pra rezá as ave-maria prum bão fim dudia, fazê caridade, sem esquecê do amparo do casarão tanto pra friura como pru ardume das quentura, o regalo das vestidura fina, bonita e catita, Rebeldia é mais para perder do que ganhar.

dependia dusiô clementi creditá nela, querê ela na casa, a tocaia das palavra espreitava em cada canto, custava mais falá qui ficá calada, useu destino era num se metê nas afetação e intenção do marido, É assim que é o casamento: uma cancha reta, e nada disse nem duma ou duas qui otra palavra

Fale, sinhá Casta... o padre não lhe parece um viúvo vestido todo de preto?

num ia aceitá provocação, achô quié meió o caso hoje disê mais bondosa qui já era, muntu cautelosa, encostada no sol da manhã, usô da comiseração nas palavra

E se por acaso, que Deus acima de tudo e dono de tudo na terra não me ouça, o sinhô ficar viúvo com o meu finamento? O sinhô Clemente vai usar a roupa da viuvez?

num tinha certeza se pra fugí duma armadilha num tinha caído notra



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é bão lê tumbém se quisé...

histórias davóinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias davóinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias davóinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias davóinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias davóinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias davóinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias davóinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias davóinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias davóinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)
histórias davóinha: Josino (I11j - o balanço da rede)
histórias davóinha: Josino (I12j - a lua se rindo)
histórias davóinha: Josino (I13j - Oxum chora)
histórias davóinha: Josino (I14j - uma fugição sem fim)

histórias davóinha: Josino (II1jB - um mundo encardido)
histórias davóinha: Josino (II2jB - obrigações fúnebres)
histórias davóinha: Josino (II3jB - um acaso ou descuido)
histórias davóinha: Josino (II4jB - do demônio...)
histórias davóinha: Josino (II5jB - a carta da alforria)
histórias davóinha: Josino (II6jB - a roupa da viuvez)
histórias davóinha: Josino (II7jB - uma deliciosa maldição)

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