domingo, 24 de abril de 2022

histórias davóinha: Josino (II2jB - obrigações fúnebres)

Josino: II - as contas da lua

obrigações fúnebres
Ensaio 2jB – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



e foi contecendo quia senzala virô terrêro pra resistí, onde espritu pru conforto tem trabáio como sentinela, cuida da semeadura da esperança na luta, espritu num luta corpo a corpo, mais fortalece as vontade e a firmeza pra voadora, pra pernada, pra catimba

a brilhatura num é vencê a covardia, é preciso atrevimento, desaforo e descaramento pra num murchá a cara prudentro enquanto a cara prufora sofre, esse é trabáio pruspritu: fortalecê prudentru

é preciso resistí prudentro pra existí prufora

O viúvo da vestimenta farrusquenta e o fiscalizador lamentoso estão sempre procurando fio de cabelo em ovo, só olham com os olhos da cara, o feitô da obra santa pra siá das dô acordô reclamando, bem antes do café sê formado 

no modo divê dusiô clemente, usdois é intriguento, o siô padre e o fiscalizadô da obra igrejística, A pimenta é sempre melhor quando fica nos olhos dos outros.

gosta ditacá antes disê tacado, provocá antes disê provocado, A melhor defesa sempre foi e será um ataque arrasador.

num ia pará a choradêra reclamatória inté o café tá tomado e uspé na prontidão da saída

o chefe das doação da madêra, usiô padre, o fiscalizadô e o feitô da obra santa num tava no gosto um e dotro, quatro qui parecia num tê entendimento, a cisma é uma trama qui começa nas vaidade e desatenção, as pessoa com corpo é assim, mais nas hora apertada e riscosa fazia ajuntamento um dotro sem munta cerimônia, a mentira dita e repetida um, duas, muntas veiz, encontra ouvido quiqué escutá, ouvido qui gosta despiá no buraco das fechadura, num qué trabalhêra pra pensá, Ouvido penetrado é ouvido convencido, nega a própria vida sofrida, repete – muito ou nada convencido, não importa – que tudo é benção e alegria, mesmo a tristeza.

O urubu preto também não é nenhum inocente... a sinhá Casta sabe o que ele quer?

a siá da casa sentô na frente do marido – notro lado da mesa do café, qui num tava servido –, oiô nôio e pruguntô firme, devota e ressentida

Por que o sinhô meu marido tem tanta implicância com o sinhô padre? Essa impertinência não lhe fica bem, siá casta falava duseu lugá de esposa cismada com a falação desmedida do marido, parecendo querê dizê qui sabia mais duqui tava dizendo ou podia comentá

A sinhá Casta não respondeu...

ficô alvoroçada, o siô da casa parecia pronto pra corcoveá, berrá como um potro véio e brabo – qui já num era mais potro e nem brabo

Não sei, me diga o sinhô.

o escravista torceu o nariz, pareceu ressentido e molestado, As suas palavras mais se parecem com as palavras ressentidas de algum aristocrata pelotense de pomadas, pronto, o desaforo tava fincado no siô clemente qui reagiu aos grito, cuspindo as palavra

Veja bem como me fala!, parô na respiração cortada antes da retomada, Ele quer nos fazer caminhar em direção à morte como cordeirinhos... sem lutar, sem vacilar, gran hijo de puta! Dá mais importância à vida da morte que a vida de cada um.

Ainda bem que o café não está servido... a mesa ficou toda cuspida, siá casta parô a conversa, chamô gabriela

Por que o café do sinhô da casa ainda não foi servido? Não é preciso lembrar que o sinhô Clemente tem os compromissos do dia esperando, o sino da igreja tocava as seis badalada da manhã, a siá casta parô uqui tava dizendo e fez a cruz na testa, na boca e no peito enquanto resmungava as palavra qui num esquecia e ninguém entendia

gabriela, parada na porta qui vem da cozinha do casario, fez as mesma cruz qui foi ensinada fazê, desceu usóio inté uspé descalço, a voz toda atrapaiada pra avisá quia ordenha atrasô

E por que atrasou, quis sabê siá casta

o tamanho da voz da siá num permite dúvida, a escapatória num iasê à-toa, o motivo ia precisá sê bão e afiado, O pretu Sebastião qui fazia ordenha das leiteira...

Já sei, interrompeu o siô clemente, batendo com a mão fechada sobre a mesa, o criolo fugiu para um desses lugares que vocês que chamam de quilombo, a terra prometida. Eu sabia que mais dia, menos dia, esse evento chegaria até aqui. Hijo de puta!

gabriela ficô muda, assim ia ficá inté sê provocada pra falá

Fala, Gabriela! Diga o que aconteceu!

Na verdade, siá Casta, o Sebastião num fugiu...

Meu Deus, Gabriela, fala tudo de uma vez!

... ele morreu durumindo encostado na leitêra... agarrado na teta.

aquilo era tudo, menos uma boa notícia qui qualqué dono de escravizado gostava disabê no começo do amanhecimento

E o que foi feito do negro, usiô clemente tava imaginando uma selvageria, pretu bamboleando em andamento frenético, cuspindo fogo, engolindo cachaça, vozes candongada, tambô estridente, o farfaiá dos gemido penetrante e longo, ai ai ai, diminuindo, ai ai ai, inté virá lamento soluçado e triste, as voz alterada na senzala assustada, o batuque apertava a barriga dusiô clemente, Desgraça desgraça desgraça, a dô, as lombriga, a senzala enjoada, fedorenta, nausabunda, o banzo, as lembrança misturada no desacato das tristeza braba, esse descontentamento não vai sumir tão logo.

gabriela continuava cusóio nuspé descalço enquanto respondia, O Sebastião foi colocado na senzala pra modo da limpeza sê feita.

usiô clemente bateu otra veiz a mão na mesa, mais com força mais branda, levantô a mão pra otra batida e recuô

Limpeza? Por quê? O bicho não morreu dormindo? É preocupação demasiada, a terra vai devorar tudo!

talveiz fosse a natureza disê muié, as terra e as água da vida, ajudava siá casta entendê a saliência das preocupação cua morte

Deixe estar, marido. É bom cuidar do morto.

O criolo morreu sem saber que ia morrer... mamando e agarrado em uma teta, isso é ter sorte!

siá casta levô usóio inté pra cima, pareceu balançá o corpo e os pensamento

Nada é para sempre...

usiô clemente andô pensativo, pra lá e cá, saiu e voltô sem saí

Acho que ainda da tempo de fazer o papel da alforria...

E para quê, marido?

oiava pra longe, quando respondeu

Assim me livro das obrigações fúnebres.




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é bão lê tumbém se quisé...

histórias davóinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias davóinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias davóinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias davóinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias davóinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias davóinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias davóinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias davóinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias davóinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)
histórias davóinha: Josino (I11j - o balanço da rede)
histórias davóinha: Josino (I12j - a lua se rindo)
histórias davóinha: Josino (I13j - Oxum chora)
histórias davóinha: Josino (I14j - uma fugição sem fim)

histórias davóinha: Josino (II1jB - um mundo encardido)
histórias davóinha: Josino (II2jB - obrigações fúnebres)
histórias davóinha: Josino (II3jB - um acaso ou descuido)


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