um acaso ou descuio
Ensaio 3jB – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
E o café do sinhô Clemente, gabriela?
a muié nova, perfilada atráis da siá casta, vestido do linho branco num tão grosso, os cabelo dentro do turbante tumbém branco, as mão colocada nada facêra, sem balanceá, nos lado do corpo todo retesado, a nervura esfregando os dedo, Milagres já colocô fervura no leite.
um suspiro de impaciência anunciô entrada dusiô clemente na conversa
Espero que não seja o mesmo leite que as mãos do morto apertou, a preta ficô mais retesada cuas palavra dusiô clementi, num tava costumada recebê tenção dusiô patrão
Responda para o sinhô Clemente, gabriela... num conseguia soltá as palavra, precisô pertá mais as mão – como se fosse dá soco – espremeu uqui pode o gargalo do pescoço, Não siô, o Sebastião não chegô começá lida. O balde tava vazio... e vazio ficô na posição da ordenha. Depois do acontecido, Josino separô otra leiteira, ele mesmo fez ordenha.
usiô clementi soltô uma exclamação da sua estranheza
Ué, o josino já está de volta?
o punho cada veiz mais agarrado, dedo e mão fechado, Sim, siô.
usiô clementi desviô usóio pra siá casta
Essa negra benguela foi uma boa troca, num teve tenção pra fingí nem intento otro qui ensoberbá os próprio tino pra comprá e vendê, a sinhá casta não concorda?
siá casta num respondeu logo, achô meió dispensá osovido da Gabriela da prosa dusdois, quando desapertô as palavra num conseguiu impedí a soltura encimesmada na voz, quiria dizê, mais num disse qui num gostô dusóio do marido emborcado na preta, iqui num deixô divê quias virilha dele parece qui saia nas vista
Por que estás parada feito um pau queimado, gabriela?
a muié duspé descalço respondeu cua voz controlada, Esperando permissão pra saí...
Pois saia... e nos traga o café.
saiu sem fazê ruído espalhafatoso, soltô usdois no silêncio da espera, só dava pra escutá o ringido das tábua
usiô clementi soltô as palavra, falô do assunto sem falá das vontade, num gostava daquele silêncio provocativo, foi logo dizendo uqui a siá já tinha oiado, o assunto tava decorado pra dizê e pra num provocá interesse da siá
Gosto desta criolinha, aprendeu logo nossa língua. A gente entende o que diz. Leva a vida pelo trabalho, sabe quem é e quem não é. Uma coisa importante na vida é saber o seu lugar e aproveitar sem oportunismos. Pena que nem se esforçando vai ficar branca, tinha sombra e frescô na voz dusiô clementi, parecia tá decidindo se botava pra funcioná a metade ruim do desafogo qui trazia nas cabeça, sabia qui tava amarrado nelas mesmo, nas suas meia verdade pras mentira toda, tenho-me por um homem justo. Acredito que 1:300$ pela carta da criola foi um bom preço. A falência do Travassos veio a calhar. Um compra e venda de oportunidades. Desgraça de uns, sorte de outros.
siá casta num tava interessada na repetição da mesma conversa do leilão público e liquidação da casa do travassos, amigo do peito do marido
A luz do sol ainda não chegou, espero que o sinhô providencie tudo o mais ligeiro que possa. Detesto lembrar que temos um morto na fazenda, usdois num parecia querê consertá alguma coisa do casório qui enfraquecia e desavolumava, eles só quiria resistí pra parecê um par de jarro emplumado, alindamento de cristal encasulado nas encenação de finura
Eu sei, sinhá. Na verdade, não é o criolo morto que interessa...
E o que mais interessa mais o sinhô meu marido, siá casta num sabe pruqui teve alento pra espioná as vontade do marido, pode sê qui cobiçô escutá um desabafo de cuidado, uma delicadeza cuseu desassossego
O interessante, sinhá Casta, é a continuação da espécie na fazenda, agora siá casta sabia uqui já sabia, num tinha otra intenção nas palavra, usdois só dormia junto pru gosto do marido cuseu apetite dolorido, minguado, sem gosto e incerto, num sabe lembrá quanto tempo faz quius dois num dormi junto pru gosto dela, o trabalho não pode parar. A vida ou a morte de qualquer negro é só despesa. Não adianta reclamar. É assim, paciência. É imposto, imposto, imposto para tudo! No embarque já tem imposto, quando desce, depois de arrematado, tem mais imposto. O transporte do negro do desembarque até a fazenda paga imposto e se não me agradar do negro e quiser vender pago mais imposto. Eu não entendo, a mercadoria é a mesma. E para coroar toda essa indecência de imposto para isso, imposto para aquilo, depois de morto o negro... aparecem as despesas fúnebres. Hijos de puta! Como posso ser dono do negro morto? Como ter lucro assim? De qualquer maneira, é isso ou fazer o trabalho sujo da negrada. E quem haveria de querer, não é?
siá rosinha tava mais preocupada do morto num cruzá useu caminho mais o batuque no mato e na senzala
As notícias passam de boca em boca com influência nos negros da casa, vou ter um dia cheio com rezas e choros, usiô sacudiu usdois ombro
Eu sei, mas não tem o que fazer. Pelo menos, esse esticou as canelas sozinho. Não se viu diante da face segura e convicta da morte com seu chicote de 5 pontas, parece que teve uma boa morte. Um acaso ou descuido, vai saber...
Essa movimentação me trás preocupação, parece fazer nascer vontade onde não tem.
Não se preocupe à-toa, sinhá Casta. A criolada não tem quer ou não querer. Vida que segue.
O sinhô está seguro disso?
O trabalho perdura e o tempo cura. Logo, faço a necessária reposição.
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é bão lê tumbém se quisé...
histórias davóinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias davóinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias davóinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias davóinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias davóinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias davóinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias davóinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias davóinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias davóinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)
histórias davóinha: Josino (I11j - o balanço da rede)
histórias davóinha: Josino (I12j - a lua se rindo)
histórias davóinha: Josino (I13j - Oxum chora)
histórias davóinha: Josino (I14j - uma fugição sem fim)
histórias davóinha: Josino (II2jB - obrigações fúnebres)
histórias davóinha: Josino (II3jB - um acaso ou descuido)
histórias davóinha: Josino (II4jB - do demônio...)
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