sábado, 20 de maio de 2023

Memórias - 11 a caverna dos espíritos amorosos

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

11 – a caverna dos espíritos amorosos

cuando el hombre se despertó, Blanca passava pelo seu corpo um pano úmido com as lágrimas que desciam dos olhos negros amendoados, O que te passa?

La tristeza de la alegría que se há ido, ele continuou deitado, as costas na esteira, el cuerpo adormecido pelas águas derramadas sendo lavado aos pedaços, ojos cerrados, sabia porque Blanca chorava

o sol já subia la Montaña, ele, por sua vez, teria que descer, os sonhos e la Montaña andam juntos, para o bem ou para o mal, Conheci montanhas que chupam cadáveres, desmancham suas carnes e mostram como são, qualquer coisa que apodrece e fede, qualquer coisa sem vida, qualquer coisa que se acabou para os olhos e ouvidos estranhos, deixando de ser alguma coisa com vida. Não sei por que continuam subindo a montanha, minha irmã olhava-o em silêncio, escutava os seus mistérios, encontrei mulheres e homens ingênuos enfrentando inimigos brutais e infames, mariposas e abelhas voando, enquanto os vermes seguem bebendo as águas doces do arroio manso dos olhos do povo. Assisti com meus olhos e ouvidos os enredos e tramas sobre montanhas de milho, gente que viveu e morreu – antes mesmo de nascer  escrava do senhorio de la Montaña.

Para nostros hombres y mujeres el maizal es sagrado, incluso después de que nuestros cadáveres se deshagan en raíces y maíz, os seus ritos são sempre consagrados aos deuses de la Montaña, falam com os ventos, com os espíritos dos que já partiram e os chamam para a cerimônia da colheita

Mas a permissão para semear vem de fora de Piedras Altas!

a dureza daquelas palavras aquietou os dois, Blanca devia saber que tirar a tampa da mente do Carbonel seria trabalhoso e improvável, assim como ensinar observar as coisas maravilhosas dos labirintos de milho sem entrar no milharal

velhos e moços sentam a volta do fogo e chamam os espíritos antigos, rezam para aliviarem as dificuldades, cantam para festejar a vida, conversam, entendem seus sinais e humores, mas não sabem decifrar os cheiros podres da ganância no falatório de homens e mulheres que mentem, pela mesma razão que não se vê o sol à noite, é da sua natureza

olho para você, minha querida testemunha, e sim, a resposta continua a mesma, não confiaria em mais ninguém esses relatos da memória

preciso de uma energia muito forte para perceber meu espírito, voltar a ter gosto pela vida simples e aprofundar minha sensibilidade, semear flores pelo prazer dos perfumes e dos coloridos, cultivar plantas pelo contentamento da vida, contar as histórias que vi e vivi é a única maneira de conciliar-me com as memórias invisíveis daqueles e daquelas que existiram sem terem existido no panteão dos heróis, suas vidas e vozes soam como breves sussurros, espirros do acaso, gente descartável, vidas facilmente esquecidas

jamais tiveram uma trégua de solidariedade da humanidade colonizadora – chupadora de cadáveres , apenas sacrifício e desassombro

minha querida, desculpe a agitação desta velha, já sabes que odeio palavras soltas e sem destino, pareço esnobe, eu sei, mas não é o caso, preciso da tua atenção profunda e desmedida para entrarmos na caverna dos espíritos amorosos


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