No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Um
baitasar
Memórias
02 – a servidão natural
até que papá chorou desesperado, o ar doído saia dos seus pulmões, o sangue enlutado escorria de los ojos, quadrilheiros subiram la Montaña e entraram na roça no anoitecer com seus fuzis, espadas e cães adestrados para atacar índios e mestiços, Índios vagabundos!
homens truculentos dispostos a matar, torturar e trucidar a
mestiçagem daquelas terras, Isso aqui tem dono!
tudo mentira, minha querida, nada havia sido roubado, viven
en la Montaña desde siempre
à noite, outros desceram até o pequeno povoado esparramando la
muerte
mataram la madre de Blanca e o menininho
jamais encontraram os quadrilheiros
procurei recortes de jornais da época, quase nada, somos
invisíveis
apenas, o La Prensa Mestiza, um periódico que acabou
por falta de leitores e minguados lugares dispostos em distribuir o recorrente
mestiço, ousou desafiar o silêncio
o periódico saia publicado nas vilas uma vez por semana,
esparramados nos botecos, barbearias, farmácias, na porta das igrejas, na roça
e nas quermesses
naquela semana, La Prensa Mestiza saiu duas vezes, a
tiragem da edição normal informando seus parcos leitores do crime bárbaro ocorrido no
povoado foi esgotada em dois dias, No povoado da roça Montaña, uma índia
grávida foi violentada até à morte, amarrada e amordaçada ainda teve seu ventre
cortado ao meio!
na segunda edição, uma publicação extra – e rara por ser uma edição extra – trazia um depoimento do indigenista Bruno, muitos e muitas já ergueram sua voz e perderam suas vidas, nestes mais de quinhentos anos de mortes como forma de extermínio da nossa civilização, mas escute as palavras do Bruno, Essas atrocidades e brutalidades tanto servem para denunciar crimes de cinquenta anos atrás como para os dias de hoje. Com que direito vocês desencadeiam uma guerra de extermínio atroz contra essas gentes que vivem pacificamente na roça e nas matas? O direito da avareza pelo oro de maíz? Por que os deixam em semelhante estado de extenuação? Vocês já os matam ao exigir ouro dos seus rios de pesca. Acaso não são eles , homens, e elas, mulheres? Não é vossa obrigação cuidar da vida? Ah, esqueci que vocês adoram el metal oro y amarillo maíz. Não importa, estarei aqui para denunciar e impedi-los!
pouco ou nada adiantou para os índios a sermonaria de
quinhentos ou cinquenta anos, os quadrilheiros foram até la Montaña para
assustar e mostrar que a força e a morte estavam do seu lado contra índios e
mestiços, ninguém iria se meter
na escuridão que anuncia mortes, entraram no povoado. montavam veados sem chifres,
pareciam da altura dos tetos, assim não viam exatamente a quem e como suas
balas derrubavam nem quem suas espadas e cães abriam ao meio
papá y los hombres de maíz com suas mãos endurecidas pelo trabalho e ingenuidade
de quinhentos anos foram cercados no milharal e avisados da chegada dos
soldados quadrilheiros com a missão de prender os suspeitos da revolta
olhavam entre si atônitos, não havia rebelião en la Montaña sempre
existiu resignação depois da conversão dos homens de preto que prometeram o que ninguém mais
podia oferecer, o paraíso
bastava acreditar nos desígnios dos deus branco
seguem esperando romanticamente em servidão natural
____________________Leia também:
Memórias - 01 a lua cheia
Memórias - 02 a servidão natural
Memórias - 03 um negócio inesgotável
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