No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Um
baitasar
Memórias
04 – a sina de papá
papá conheceu mi madre em uma das suas idas à beira do rio-grande com suas águas nervosas e barulhentas, Gente diferente essa do litoral, siempre dispostas para a lida da pesca, de qualquer maneira ele precisava de una mujer para acalmar sus carnes y una madre para Blanca, Creo que va a ser mejor que embriagado por la bebida, por sorte, papá era mais mujerero que borracho
no meio dessa reunião de vontades e necessidades, eu nasci
não lembro de mamá – cómo hablava Blanca de su madre – , mas me vagueiam lembranças de canções que acredito ouvir de su voz
mamá murió do nascimento de un hijo que não nasceu
sina de papá em não ter un varón, apenas hijas
en ningún tiempo fez comentário de gosto ou desgosto
nossas vidas e mortes era apenas mais uma mancha vermelha de sangue nessa história de brancos na latinoamérica: médicos brancos e hospitais para brancos, mamá morreu sozinha com ayuda nenhuma para ela y su hijo, mi hermano uterino
mais adubo
nada se pierde en la Montaña
na roça todos repetiam el destino de papá es não experimentar el nacimiento de un hijo, destino cruel esse de mestiços reduzidos pela Montaña à dita da servidão, sina de injustiças e resignação
foi então que o cuerpo de papá cedeu e desistiu, não tinha mais as forças para lutar contra aquele destino hambriento, a boca emudeceu aberta, decidiu que a ferida ficaria para siempre uma rachadura exposta enfeitiçando la Montaña
un cuerpo sin voz, umedecido pela dor, pelo anoitecer sem gozo para engravidar la tierra, un cuerpo con la enfermedad del anhelo, uma condenação sem culpa, a aceitação da resignação como utilidade de sobrevivência
la Montaña não queria lhe devolver à vida, Traes de vuelta a mis hijos y sus madres, iria seguir seu alento até seu desmanchar em passos lentos feitos de tierra y arcilla, uma estrada que precisava caminhar sozinho, deixou de escutar la Montaña y mirar su sombra, todas as noites ele deita por lugares onde nunca andou con sus hijos, sonha com a morte para desviver de este cuerpo sin enfermadad y lleno de dolor
por aqueles dias, sabia que a mesma sina nos aguardava, não havia o que fazer, Blanca se tornou para mim... mi madre, uma menininha de pernas fininhas e cabelos negros até a cintura
adorava me aninhar aos seus aconchegos, como você em meu colo sua danadinha, nada melhor para una niña que ouvir as histórias de la Luna en la Montaña en un regazo seguro
ela até tentou encontrar e se oferecer para um outro destino quando o cabo Carbonel apareceu na vila, perdido da tropa militar, pensei em gritar
¡Hijo de puta! El demonio, señora! El demonio!
o exército – a pedido do senhor Moravia, agora dono de la Montaña, del maíz y de nuestras vidas – subia regularmente até a vila, e caso fosse necessário, até a roça para acalmar os exaltados e inconformados com a resignação do destino de adubo, um exército de mestizos comandados por brancos para deter los mestizos
nunca vi necessidades, mas eles, vez ou outra, apareciam e usavam da persuasão que lhes ocorria ser necessária, à servidão natural restava esperar, rezar y seguir viviendo
não lembro nada contra esse deus branco, só acho que ele não deveria se omitir diante de tanta matança
___________________
Leia também:
Memórias - 01 a lua cheia
Memórias - 02 a servidão natural
Memórias - 03 um negócio inesgotável
Memórias - 04 la sina de papá
nossas vidas e mortes era apenas mais uma mancha vermelha de sangue nessa história de brancos na latinoamérica: médicos brancos e hospitais para brancos, mamá morreu sozinha com ayuda nenhuma para ela y su hijo, mi hermano uterino
mais adubo
nada se pierde en la Montaña
na roça todos repetiam el destino de papá es não experimentar el nacimiento de un hijo, destino cruel esse de mestiços reduzidos pela Montaña à dita da servidão, sina de injustiças e resignação
foi então que o cuerpo de papá cedeu e desistiu, não tinha mais as forças para lutar contra aquele destino hambriento, a boca emudeceu aberta, decidiu que a ferida ficaria para siempre uma rachadura exposta enfeitiçando la Montaña
un cuerpo sin voz, umedecido pela dor, pelo anoitecer sem gozo para engravidar la tierra, un cuerpo con la enfermedad del anhelo, uma condenação sem culpa, a aceitação da resignação como utilidade de sobrevivência
la Montaña não queria lhe devolver à vida, Traes de vuelta a mis hijos y sus madres, iria seguir seu alento até seu desmanchar em passos lentos feitos de tierra y arcilla, uma estrada que precisava caminhar sozinho, deixou de escutar la Montaña y mirar su sombra, todas as noites ele deita por lugares onde nunca andou con sus hijos, sonha com a morte para desviver de este cuerpo sin enfermadad y lleno de dolor
por aqueles dias, sabia que a mesma sina nos aguardava, não havia o que fazer, Blanca se tornou para mim... mi madre, uma menininha de pernas fininhas e cabelos negros até a cintura
adorava me aninhar aos seus aconchegos, como você em meu colo sua danadinha, nada melhor para una niña que ouvir as histórias de la Luna en la Montaña en un regazo seguro
ela até tentou encontrar e se oferecer para um outro destino quando o cabo Carbonel apareceu na vila, perdido da tropa militar, pensei em gritar
¡Hijo de puta! El demonio, señora! El demonio!
o exército – a pedido do senhor Moravia, agora dono de la Montaña, del maíz y de nuestras vidas – subia regularmente até a vila, e caso fosse necessário, até a roça para acalmar os exaltados e inconformados com a resignação do destino de adubo, um exército de mestizos comandados por brancos para deter los mestizos
nunca vi necessidades, mas eles, vez ou outra, apareciam e usavam da persuasão que lhes ocorria ser necessária, à servidão natural restava esperar, rezar y seguir viviendo
não lembro nada contra esse deus branco, só acho que ele não deveria se omitir diante de tanta matança
___________________
Leia também:
Memórias - 01 a lua cheia
Memórias - 02 a servidão natural
Memórias - 03 um negócio inesgotável
Memórias - 04 la sina de papá
Nenhum comentário:
Postar um comentário