sábado, 8 de abril de 2023

Memórias - 06 el regazo de Blanca

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

06 – el regazo de Blanca



minha querida, ainda acordada ou apenas fingindo estar com os olhos abertos?

não importa, isso mesmo, me bastam seus olhos abertos

um instante, minha querida, preciso parar e tomar água, um copo me basta

estou agradecida por sua paciência, preciso desta conversa longa para libertar meus segredos, uma conversação estirada para destristecer o coração de esa niña acunada en el regazo de su hermana y aliviar a esta anciana

vou beber minha água e buscar alguma coisa para nós, já volto

pronto, não demorei

esse é para mim – me encanta bollo de maíz, las galletas são para você

onde eu parei mesmo? ... ah, lembrei

longe das lidas militares, o cabo Carbonel se mostrou amável desde a primeira madrugada com seu amanhecer amarelento, un hombre atarracado com um sorriso estranho

como em tantas outras madrugadas dormia enroscado nas pernas da mestiça, não parecia ter medo em seus olhos fechados, aquele rosto estranho parecia esperar uma vida nova

mi hermana contava que ele enxergava-se con los ojos cerrados

antes do galo cantar e a cachorrada gemer assustada ou antes de olhar para o dia rasgando a escuridão, até mesmo, antes de fazer sair o sono de qualquer pedacinho de si mesmo, ainda enfiado en las peirnas del mestizaje, sentia as dores do mundo

ansiava reunir suas carnes com as carnes amorosas de Blanca, misturar suas águas, bebidas da vontade generosa

quando o sono chegava de maneira veemente fazia suas raízes rasgarem a esteira, e assim, enfiado no chão, plantava o soldado cabo en la Montaña, só então ele enxergava de si o que não via de olhos abertos

entregava seus segredos

os cabelos longos da sua cabeça entravam en la Montaña enquanto os pelos do seu corpo sumiam, lo hombre ficava lisinho nas virilhas, no rasgo entre las nalgas, nos braços e peito, e assim, noite após noite, com o couro da cabeça cabeluda ao exagero – enfiado en la Montaña –, o soldado perdia o posto militar, posto do avesso, único jeito de seguir enfiado nas virilhas de Blanca, ser gente de todas as gentes, cuidando todas as vidas, maíz de la Montaña

desaparecia o soldado cabo-guerreiro, hombre enseñado a matar indios y mestizos

el hombre renació en el regazo de Blanca, no sono, em seu ventre, com outros olhos de enxergar o mundo, olhos de cuidado con la vida

toda vida importa

veio e não se foi, não sabia o que viria, apenas queria viver nesse passado ainda não acontecido, enroscado, acordado todas as manhãs naquele feitiço encantado en la Montaña

a vida simples é boa

carregava siempre na cintura, como se fosse uma adaga de fino corte, sua tesoura de alinhamento, seu símbolo de utilidade na tropa, cortar el pelo en la cabeza

o capricho na feitura do aparamento dos cabelos no estilo aguerrido e macho fazia dele elemento de muita necessidade e elegância única na tropa, só descarregava sua arma de serventia quando nu em pelo, Gosto de andar nos braços de minha gente, No somos tu gente, nosostros crecemos hacia abajo, dentro de la tierra.

Blanca tinha razão, éramos feito um povo oculto, invisível

gente obrigada no serviço natural de servir, desenterrados en la natividad e acostumados desde la natividad serem adubo para el maíz: a terra, a água e a semente

não existiam viejos en la Montaña

as crianças viravam jovens, mas não viravam viejos, os raros avelhuscados, as poucas avelhuscadas, ficavam mudos, sem dentes, enrugados e cegos, estrelas decadentes de um tempo desfigurado de humanidade, esvaziado de amorosidade, desocupado de pássaros, lírios vermelhos e madressilvas cheirosas

mas repleto de víboras e seus venenos



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