sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Florbela Espanca - A Mensageira das Violetas 11

Florbela Espanca



11 - A Mensageira das Violetas





SEM PALAVRAS



Brancas, suaves mãos de irmã 
Que são mais doces que as das rainhas,
Hão de pousar em tuas mãos, as minhas
Numa carícia transcendente e vã.

E a tua boca a divinal manhã
Que diz as frases com que me acarinhas,
Há de pousar nas dolorosas linhas
Da minha boca purpurina e sã.

Meus olhos hão de olhar teus olhos tristes;
Só eles te dirão que tu existes
Dentro de mim num riso d’alvorada! 

E nunca se amará ninguém melhor;
Tu calando de mim o teu amor,
Sem que eu nunca do meu te diga nada!...






QUE IMPORTA?...



Eu era a desdenhosa, a indiferente. 
Nunca sentira em mim o coração 
Bater em violências de paixão, 
Como bate no peito à outra gente.

Agora, olhas-me tu altivamente, 
Sem sombra de desejo ou de emoção, 
Enquanto as asas louras da ilusão 
Abrem dentro de mim ao sol nascente.

Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte; 
Como nascida em carinhoso monte, 
Toda ela é riso, e é frescura e graça!

Nela refresca a boca um só instante... 
Que importa?... Se o cansado viandante 
Bebe em todas as fontes... quando passa?...





O MEU ORGULHO



Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera 
Não lembrar! Em tardes dolorosas 
Lembro-me que fui a primavera 
Que em muros velhos faz nascer as rosas!

As minhas mãos outrora carinhosas 
Pairavam como pombas... Quem soubera
Por que tudo passou e foi quimera, 
E por que os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem... 
Mas digo para mim: "Não me merecem..." 
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha: 
Que também é orgulho ser sozinha 
E também é nobreza não ter nada




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A Mensageira das Violetas, de Florbela Espanca

Fonte: ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket). 

Texto proveniente de: 
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. 

Texto-base digitalizado por: 


Luciana Peixoto Silva – Divinópolis/MG
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Florbela Espanca - A Mensageira das Violetas 12

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