sábado, 9 de março de 2019

histórias de avoinha: rainha silenciosa do lar

mulheres descalças



rainha silenciosa do lar
ensaio 127Bg – 2ª edição 1ª reimpressão




baitasar




só ele falante, uqui falava e fala como falastrão das frase vazia e sem alegria, dono das palavra, um fogão sem fogo com a chapa fria onde dá inté pra colocá a bunda nela, uma língua sem boca ou uma boca sem céu, ou um céu sem língua, tanto faz, um falastrão é como gengiva sem os dente: num morde, só baba ódio e cospe tristeza e fede aborrecimento quando esvazia a goela

o sol naquele fim de tardinha já num tinha mais o mesmo calô do sufoco do meio do dia; na praça, continuava as reprimenda e as intolerância, dava pra vê os dois fidalgo confabulando: um aturava pelo qui foi puruguntado, e tumbém pelo qui num foi; o otro, parecia mais assustado qui o pretu encurralado, aparentava tá obrigado na praça, um lugá onde só o rancô era respeitado e a clemência era uma idiotice; pra tá no coro da praça era preciso tê a vocação e o ardô pelo ódio ou sê muntu confuso, mole e vazio com os próprio costume sobre decência, virtude, descaramento e desvergonha: reza nas missa dominguêra e gritá de ódio nas praça

a muriquinha tava decidida da decisão tomada, Jamais irei à praça gritar em nome da maldade, nóis os abicu num tem sentimento do mesmo feitio qui os nascido, mais sentí munta vontade de batê palma e gritá pru encorajamento da pianística, pruqui se num ia lá ajudá o pretu... tumbém num ia pela vontade de vê mais perto a dô do atormentado, A muriquinha tá certa! Num tem qui gritá em nome da gaiola ou pelo costume de erguê fortaleza em nome dos príncipe qui a villa batiza intocável e dono de gente, só queria dizê pra ela qui quase sempre o painho tava injusto na sua certeza, mais num disse nem pra ela nem pra mais ninguém, tem gente qui só credita vendo

ela sabia qui num nasceu pra sê a rainha da casa, sê essa rainha ou qualqué otra num faz sentido nela: ano depois de ano fazendo reinação inté qui a casa vai lhe reconhecê como a rainha da escravidão, Não! Eu não quero isso, não quero esse vazio sem mistérios e sem intimidade, para mim, não. Um lugar de refazer o desfeito e fazer outra vez o feito, limpando, lavando, cozinhando e sorrindo. Todo dia a sinistra herança que faz as mulheres rainhas do lar. Eu não quero assim! Será que sou uma vagabunda?

achava qui devia ficá na janela inté aquela reinação de ódio e medo passá, num pruqui era engraçado ou divertido, ou pruqui gostava de vê a desgracêra dusotro, mais assim desviava da fofura duseu painho; a distância qui separa a janela da praça dá boa vista pra abarcá o cenário todo e a pianística num precisa dizê nada nem se metê, só ficá parada oiando do seu mezanino privado, arredada da vida lá fora, num sabe e num qué sabê como desabusá ou desarrumá tanta gritaria enfurecida e horrorosa; no modo de vê dela, num tem esperança praquela criatura julgada e condenada na praça pública, muntu tempo precisava passá inté isso mudá

os dia e as noite vai e volta, mais o visto vai ficá inté a cortina cinza do tempo descolorí as lembrança da praça na cabeça e no curação das pessoa; a villa num começa nem termina na praça qui num tem esquina nem pedaço, a bagunça na praça é a vista qui a villa num qué vê de muntu perto, mais concorda em deixá como tá, aquele pretu – e qualqué otro pretu atrevido qui num sabe useu lugá de ficá –, cercado das cara branca, qui num é só cara branca, mesmo qui toda gente na praça jura qui é da cara branca, vai amassá o pão pru diabo qui a villa vai comê

a única cara de gente na praça é a cara do pretu

atrás da janela, o painho, com a voz mais mansa qui sabia inventá, continuô revelando os seus plano pra fia; ela continuava oiando sem vê e ouvindo sem escutá, ele num se importava em sabê uqui ela queria, num achava necessidade investigá; ela, qui tava paralisada como se o assunto num fosse do seu interesse, desistiu de se explicá

Minha filha amada, faz mal para qualquer mocinha correr e brincar como os meninos, vocês são muito emotivas e excitáveis, tudo tem suas consequências. Tenho certeza que os estudos do piano foram muito bons, encheram o tempo da minha filhotinha. A música tem a beleza e a serenidade da contemplação, é uma boa companhia para os pensamentos imaginativos dos sonhos. Mas chegou o tempo que vosmecê precisa observar e escutar como sua mãe organiza nossa casa, mantém tudo em ordem e limpinho. A limpeza é estimulante. Ela não faz tudo sozinha, mas já fez. Tenho certeza que, caso fosse preciso, apesar da sua idade e gestos mais lentos, ela faria tudo, novamente, sem reclamações ou queixumes. Sabe por quê?

Não.

Sua mãe sabe que essa é a obrigação de toda mulher: cuidar da casa e dos filhos. O seu pai precisa estar fora para trazer o sustento desta casa. Essa é a minha obrigação. Não é fácil organizar a chegada e partida dos negros na Villa. E para melhorar desempenhar o meu trabalho de escriturário preciso ter certeza que tudo vai bem aqui em casa.

desviô um dusóio pra mãe da sua fia, no oiá a exibição do amô qui dizia num sabê mostrá, Os príncipes é que sabem falar bonito, conhecem o sorriso que ilumina as palavras, se pensô o painho, eu só conheço a fúria que me purgou da pobreza. A miséria para os ricos não passa de uma brincadeira, sequer é triste, muito menos se lembram. Eu não posso esquecer e não quero esquecer.

num era dono de terra, mais sabia organizá os pretu prus dono de gente




____________________

Leia também:


Ensaio 125B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 126B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bb – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bc – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bd – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Be – 2ª edição 1ª reimpressão

histórias de avoinha: ele abre as portas do céu
Ensaio 127Bf – 2ª edição 1ª reimpressão

histórias de avoinha: um novo refúgio
Ensaio 127Bh – 2ª edição 1ª reimpressão


Nenhum comentário:

Postar um comentário