sábado, 2 de março de 2019

histórias de avoinha: ele abre as portas do céu

mulheres descalças



ele abre as portas do céu
ensaio 127Bf – 2ª edição 1ª reimpressão





baitasar




continuando...





É uma trama que se espalha, minha filha, sempre foi assim, e assim sempre vai ser: a beleza, a ignorância e a mudez têm mais valor para uma jovem que as leituras, isso é um fato. E tampouco esse seu comportamento, diria que essa sua mania com os negros, a pianística inté tentô um retruqui, É preocupação e cuidado, qui num mudô nada a continuação daquele costume de falá sem escutá, Como vosmecê quiser chamar, não importa. Essa sua ideia fixa com os negros não vai atrair ou entusiasmar algum jovem. Ao contrário, essa bobagem toda vai dificultar tudo, vai lhe trazer o desprezo das pessoas de bem da Villa, a muriquinha moça quase falô qui num queria tê marido; pra ela, ficá sozinha fazia mais sentido qui tê um marido idiota pra serví como escrava em troca da casa, roupa, comida e o nome de um gentio contrariado, num queria deitá desconfiada e intimidada com um dono de muié, escolhia vivê da solidão, mais num disse, controlô a vontade das palavra se soltá, apertô a boca e segurô uqui pode um bando delas

a coisa mais ruim, seguiu no qui pensô a moça muriquinha pianística enquanto o painho  falava falava falava, Eu não tenho um lugar para elas irem, não tenho onde colocar minha conversa mundo afora, esse é um dos preço da solidão, ali, parada, escutando em silêncio mais um sermão de capim alto, fugia pra dentro da cova qui fez no cemitério abandonado dos pensamento, carregava uma fenda escondida, deitô e puxô a terra pra cima dos pé, da fenda, inté depois do umbigo tava toda vestida, só num cobriu o rosto pruqui queria oiá praquela estrada das estrela

A música não vai lhe trazer a admiração dos jovens casadouros da Villa, eu já lhe disse isso, Sim, já disse, Mas parece que vosmecê não deu importância. Escute com toda sua atenção, Estou escutando, papai, escutá num é o mesmo qui querê escutá, Eles querem uma mulher para esposa que reine na casa e saiba fazer do lar aquela ilha mágica para fugir e esquecer a multidão recalcada da Villa. Uma esposa que saiba criar um outro mundo possível da porta para dentro.

como se pode mostrá pra quem só vê uqui qué vê e reclama qui usotro num vê uqui ele vê, a mocinha pianística num sabia respondê pru qui os abismado arrogante num sabia escutá o ranço das própria palavra, talvez a insensatez adoecida inté o ponto de num conseguí pensá, mais num sabia dizê se o painho era um recatado ou corrompido, crendêro ou manhoso, E esse seu imprevidente interesse pelos negros vai espalhar o boato que vosmecê é uma moça excêntrica, uma mulher dos prazeres inesperados, a muriquinha se pruguntô sobre uqui seria esse impensado contentamento, seria o ressuscitamento da própria carne, o sumiço da criancice sem as regra da obediência, seria a fuga dos passarinho da natureza pra segurança das gaiola, quanta purugunta sem revide, será ela o passarinho qui qué voá, mais vai voá muntu menos qui a vontade de avoá pra tê garantida a casa, comida e água, quanto tempo ela aceita cantá da gaiola

Nenhum homem quer uma mulher intrigante e doentia que não se controla. Nem o chão da terra segura a água da natureza descontrolada, as palavra do painho parecia vento com cisco e vidro nas vista da muriquinha; ela já reclamô, resmungô, desescutô, inté qui cansô, e fica assim, parada, achando qui o mundo termina na villa, onde ela mora, na casa qui ela vive com o painho apontando e dizendo pra tê menó preocupação com a música pianística e muntu maió capricho com os cuidado da casa; pelas palavra do painho, ela precisava decidí entre o piano e a vassôra; o painho era o muro, num queria escutá qui ela cansô de conversa com a vassôra, aprendeu a confabulá com o piano, num sabia e num fazia gosto pra aprendê como falá com a vassôra, achô qui a beleza da sua música podia fazê ela ficá encantada, a vassôra continuava uma vassôra e ela exausta dos mandamento do sapo

Minha filha, deixe de ser agressiva, arrogante e mandona. Ninguém com bom senso e no seu juízo perfeito vai se interessar por uma mocinha que faz perguntas demais, mesmo quando não fala. Não sei, sinceramente, não sei com quem vosmecê se parece. Foi a música que lhe ensinou a ser controladora, chata e raivosa? Se continuar nesta toada vai ficar solteirona.

otras veiz, atucanava a pianística dizendo qui num carecia querê estudá do mesmo jeito qui o seu irmão, Ainda porque eu e sua mãe já sabemos em que tudo isso vai dar: uma casa grande, um enorme quintal e muitas crianças, se Deus quiser. Logo, Deus assim querendo, a mocinha casa e vai ter perdido o seu tempo com o estudo dos livros. Terá melhor uso saber usar os unguentos que é destinação de Deus, quando o painho puxava deus pru seu lado da conversa, como se a conversa dos dois era pra sê só dos dois, ela só tinha qui obedecê, Ele é quem sabe e compreende tudo. Um bom marido conhece as palavras de Deus para ensinar sua mulher que precisa seguir tudo à risca. Ele procura para cada homem de bem uma boa mãe, uma mulher recatada, prendada nas tarefas domésticas, respeitosa, calada, caseira. Os livros não iluminam a casa, minha filha amada. eles são muito úteis para juntar poeira, mas o sorriso de boas-vindas da rainha da casa é um convite com mil motivos para o dono da casa sorrir, mesmo que tenha outros mil motivos para chorar. É só isso que um homem quer: esquecer tudo quando chega em casa. Deslembrar esses dias mais truculentos com as pessoas enlouquecendo, parô pra um ou dois suspiro, A família faz um homem querer respirar de dentro para fora, sem pressa ou ranço. A nossa família tem uma frase antiga, a minha frase preferida, diga-se a bem da verdade, essa eu escutava do meu pai que escutou do vovô: adoecemos na rua e nos curamos em casa. E verdade, seja dita, só fui dar o devido valor para minha casa quando vosmecê nasceu. Tudo ficou mais bonito e mais forte. Aprendemos que na rua tudo tem dono; lá, estamos desamparados. É preciso coragem para sairmos da cama, em casa somos os donos de tudo. Um bom marido é certeza de futuro sem preocupação com o provimento da casa.

ele pareceu cansado depois de tanta palavra solta a esmo, sentô na sua poltrona azul dotro lado do piano, as duas continuava em fila de silêcio, as duas esperava a última frase, Ele abre as portas do céu.




____________________

Leia também:

Ensaio 123B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 124B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 125B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 126B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127B – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bb – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bc – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Bd – 2ª edição 1ª reimpressão

Ensaio 127Be – 2ª edição 1ª reimpressão

histórias de avoinha: rainha silenciosa do lar
Ensaio 127Bg – 2ª edição 1ª reimpressão


Nenhum comentário:

Postar um comentário