Cruz e Sousa
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos
Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos
OUTROS SONETOS
LIRIAL
Vens com uns tons de searas,
De prados enflorescidos
E trazes os coloridos
Das frescas auroras claras.
E tens as nuances raras
E tens as nuances raras
Dos bons prazeres servidos
Nos rostos enlourecidos
Das parisienses preclaras.
Chapéu das finas elites,
Chapéu das finas elites,
De rosas e clematites,
Chapéu Pierrette – entre o sol
Passando, esbelta e rosada,
Passando, esbelta e rosada,
Pareces uma encantada
Canção azul do Tirol.
TO SLEEP, TO DREAM
Dormir, sonhar – o poeta inglês o disse...
TO SLEEP, TO DREAM
Dormir, sonhar – o poeta inglês o disse...
Ah! Mas se a gente nunca mais sonhasse
Ah! Mas se a gente nunca mais dormisse
E as ilusões não mais acalentasse?
E o que importava que o futuro risse
E o que importava que o futuro risse
De um visionário que tal cousa ideasse;
Se não seria o único que abrisse
Uma exceção da vida humana à face?...
Se os imortais filósofos modernos
Se os imortais filósofos modernos
Que derrubaram todos os infernos,
Que destruíram toda a teogonia,
Orientando a triste humanidade,
Orientando a triste humanidade,
Deixaram, mais e mais, a piedade
Inteiramente desolada e fria?
NO CAMPO
Acordo de manhã cedo
NO CAMPO
Acordo de manhã cedo
Da luz aos doces carinhos:
Que rosas pelos caminhos!
Que rumor pelo arvoredo!
Para o azul radioso e ledo
Para o azul radioso e ledo
Sobe, de dentro dos ninhos,
O canto dos passarinhos
Cheio de amor e segredo.
Dentre moitas de verdura
Dentre moitas de verdura
Voam as pombas nevadas,
Imaculadas de alvura.
Pelas margens das estradas
Pelas margens das estradas
Que penetrante frescura!
Que femininas risadas!
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Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XIX
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XX
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XXI - Ave! Maria
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XXII - Símiles
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XXIII - Decadentes
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XXV - Visão Medieva
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De fato, a inteligência, criatividade e ousadia de Cruz e Sousa eram tão vigorosos que, mesmo vítima do preconceito racial e da sempiterna dificuldade em aceitar o novo, ainda assim o desterrense, filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa, “Cisne Negro” para uns, “Dante Negro” para outros, soube superar todos os obstáculos que o destino lhe reservou, tornando-se o maior poeta simbolista brasileiro, um dos três grandes do mundo, no mesmo pódio onde figuram Stephan Mallarmé e Stefan George. A sociedade recém-liberta da escravidão não conseguia assimilar um negro erudito, multilíngue e, se não bastasse, com manias de dândi. Nem mesmo a chamada intelligentzia estava preparada para sua modernidade e desapego aos cânones da época. Sua postura independente e corajosa era vista como orgulhosa e arrogante. Por ser negro e por ser poeta foi um maldito entre malditos, um Baudelaire ao quadrado. Depois de morrer como indigente, num lugarejo chamado Estação do Sítio, em Barbacena (para onde fora, às pressas, tentar curar-se de tuberculose), seu
corpo foi levado para o Rio de Janeiro graças à intervenção do abolicionista José do Patrocínio, que cuidou para que tivesse um enterro cristão, no cemitério São João Batista.
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