domingo, 19 de maio de 2019

Edgar Allan Poe - Contos: Aventuras de Arthur Gordon Pym (Prefácio)

Edgar Allan Poe - Contos



Aventuras de Arthur Gordon Pym
Título original: Narrative of A. G. Pym 
Publicado em 1837





Prefácio





Quando, há alguns meses, regressei aos Estados Unidos, depois da extraordinária série de aventuras nos mares do Sul e noutras regiões, que relato nas páginas seguintes, o acaso fez-me travar conhecimento com várias pessoas de Richmond (Virgínia), as quais, interessando-se profundamente por tudo o que se relaciona com as paragens que visitei, me pressionavam sem cessar para que publicasse as minhas aventuras. Tinha, então, vários motivos para me recusar a fazê-lo: uns de natureza estritamente pessoal, apenas a mim dizendo respeito, e outros, é verdade, um pouco diferentes. Uma consideração que, em especial, me fazia reatar, era o fato de não ter escrito um diário de bordo durante a maior parte da minha ausência, receando não ser capaz de redigir apenas de memória um relato suficientemente minucioso e conexo para ter o aspeto de verdadeiro, ressalvando, porém, os naturais e inevitáveis exageros em que caímos quando relatamos acontecimentos cuja influência foi forte e ativa sobre as faculdades da imaginação. Outro motivo era o facto de os incidentes a narrar serem de uma natureza tão fantástica, não tendo, necessariamente, outro apoio senão eles próprios (só posso contar com o testemunho de um indivíduo, ainda por cima meio índio), que não podia esperar crédito senão da minha família e daqueles amigos que, ao longo da vida, tinham tido ocasião de comprovar a veracidade das minhas palavras; mas, o mais provável, seria que o grande público encarasse as minhas afirmações como impudentes e engenhosas mentiras. Devo dizer também que a falta de confiança nos meus talentos de escritor era uma das causas principais que me impediam de ceder às sugestões dos meus conselheiros. 

Entre as pessoas da Virgínia a quem a minha narrativa tanto interessava, especialmente toda a parte referente ao Oceano Antártico, contava-se o senhor Poe, na altura editor do Southern Literary Messenger, revista mensal publicada em Richmond por M. Thomas W. White. Como tantos outros, insistia para que eu redigisse imediatamente o relato completo de tudo o que tinha visto e vivido, e para que confiasse na sagacidade e senso comum do público, afirmando, não sem uma certa razão, que por mais grosseiro que o livro fosse do ponto de vista literário, a sua extravagância, se a tivesse, seria a sua melhor hipótese de ser aceite como verdadeiro. 

Apesar desta opinião, não estava ainda convencido. Propôs-me a seguir, vendo que não conseguia demover-me dos meus propósitos, que o autorizasse a escrever à sua maneira um relato da primeira parte das minhas aventuras, baseando-se nos factos que eu lhe tinha relatado, e a publicá-lo sob o manto de ficção no Mensageiro do Sul. Não tendo qualquer objeção a fazer consenti, estipulando apenas que o meu verdadeiro nome fosse conservado. Dois excertos da pretensa ficção apareceram no Mensageiro (números de janeiro e fevereiro de 1837) e, com o objetivo de deixar bem claro que se tratava de pura ficção, o nome do senhor Poe figurava no índice da revista, como autor dos artigos. 

A maneira como a «habilidade» foi acolhida levou-me, por fim, a empreender a compilação regular e a publicar as referidas aventuras, pois verifiquei que, apesar do ar de fábula com que engenhosamente tinha sido revestida a parte do meu relato publicada no Mensageiro (onde, aliás, nem sequer um único facto tinha sido alterado ou falseado), o público não estava disposto a aceitá-lo como pura fantasia, tendo sido dirigidas várias cartas ao senhor Poe, que provam o contrário. Concluí que a minha narrativa era de natureza tal que continha em si própria a prova suficiente da sua autenticidade e que, portanto, nada tinha a recear de uma possível incredulidade do público. 

Depois desta explicação, verão aquilo que eu próprio escrevi e compreenderão também que nenhum fato foi falseado nas poucas páginas escritas pelo senhor Poe. Mesmo para os leitores que não viram os números do Mensageiro, é desnecessário indicar onde acaba o seu texto e começa o meu; a diferença de estilo é bem patente.



A. G. Pym Nova Iorque, julho de 1838.





______________________


Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico estadunidense. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.

Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).

Poe mudou seu foco para a prosa e passou os próximos anos trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu próprio estilo de crítica literária. Seu trabalho o obrigou a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose entre outros agentes.

Poe e suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.


____________________



Edgar Allan Poe

CONTOS

Originalmente publicados entre 1831 e 1849 






Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (01)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (02)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (03)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (04)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (05)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (06)

Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (fim)

Edgar Allan Poe - Contos: A Sombra

Edgar Allan Poe - Contos: Aventuras de Arthur Gordon Py: 1 — Aventureiros Precoces(1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário