Edgar Allan Poe - Contos
Título original: Narrative of A. G. Pym
Publicado em 1837
Quando, há alguns meses, regressei aos Estados Unidos, depois da extraordinária série de aventuras nos mares do Sul e noutras regiões, que relato nas páginas seguintes, o acaso fez-me travar conhecimento com várias pessoas de Richmond (Virgínia), as quais, interessando-se profundamente por tudo o que se relaciona com as paragens que visitei, me pressionavam sem cessar para que publicasse as minhas aventuras. Tinha, então, vários motivos para me recusar a fazê-lo: uns de natureza estritamente pessoal, apenas a mim dizendo respeito, e outros, é verdade, um pouco diferentes. Uma consideração que, em especial, me fazia reatar, era o fato de não ter escrito um diário de bordo durante a maior parte da minha ausência, receando não ser capaz de redigir apenas de memória um relato suficientemente minucioso e conexo para ter o aspeto de verdadeiro, ressalvando, porém, os naturais e inevitáveis exageros em que caímos quando relatamos acontecimentos cuja influência foi forte e ativa sobre as faculdades da imaginação. Outro motivo era o facto de os incidentes a narrar serem de uma natureza tão fantástica, não tendo, necessariamente, outro apoio senão eles próprios (só posso contar com o testemunho de um indivíduo, ainda por cima meio índio), que não podia esperar crédito senão da minha família e daqueles amigos que, ao longo da vida, tinham tido ocasião de comprovar a veracidade das minhas palavras; mas, o mais provável, seria que o grande público encarasse as minhas afirmações como impudentes e engenhosas mentiras. Devo dizer também que a falta de confiança nos meus talentos de escritor era uma das causas principais que me impediam de ceder às sugestões dos meus conselheiros.
Prefácio
Quando, há alguns meses, regressei aos Estados Unidos, depois da extraordinária série de aventuras nos mares do Sul e noutras regiões, que relato nas páginas seguintes, o acaso fez-me travar conhecimento com várias pessoas de Richmond (Virgínia), as quais, interessando-se profundamente por tudo o que se relaciona com as paragens que visitei, me pressionavam sem cessar para que publicasse as minhas aventuras. Tinha, então, vários motivos para me recusar a fazê-lo: uns de natureza estritamente pessoal, apenas a mim dizendo respeito, e outros, é verdade, um pouco diferentes. Uma consideração que, em especial, me fazia reatar, era o fato de não ter escrito um diário de bordo durante a maior parte da minha ausência, receando não ser capaz de redigir apenas de memória um relato suficientemente minucioso e conexo para ter o aspeto de verdadeiro, ressalvando, porém, os naturais e inevitáveis exageros em que caímos quando relatamos acontecimentos cuja influência foi forte e ativa sobre as faculdades da imaginação. Outro motivo era o facto de os incidentes a narrar serem de uma natureza tão fantástica, não tendo, necessariamente, outro apoio senão eles próprios (só posso contar com o testemunho de um indivíduo, ainda por cima meio índio), que não podia esperar crédito senão da minha família e daqueles amigos que, ao longo da vida, tinham tido ocasião de comprovar a veracidade das minhas palavras; mas, o mais provável, seria que o grande público encarasse as minhas afirmações como impudentes e engenhosas mentiras. Devo dizer também que a falta de confiança nos meus talentos de escritor era uma das causas principais que me impediam de ceder às sugestões dos meus conselheiros.
Entre as pessoas da Virgínia a quem a minha narrativa tanto interessava, especialmente toda a parte referente ao Oceano Antártico, contava-se o senhor Poe, na altura editor do Southern Literary Messenger, revista mensal publicada em Richmond por M. Thomas W. White. Como tantos outros, insistia para que eu redigisse imediatamente o relato completo de tudo o que tinha visto e vivido, e para que confiasse na sagacidade e senso comum do público, afirmando, não sem uma certa razão, que por mais grosseiro que o livro fosse do ponto de vista literário, a sua extravagância, se a tivesse, seria a sua melhor hipótese de ser aceite como verdadeiro.
Apesar desta opinião, não estava ainda convencido. Propôs-me a seguir, vendo que não conseguia demover-me dos meus propósitos, que o autorizasse a escrever à sua maneira um relato da primeira parte das minhas aventuras, baseando-se nos factos que eu lhe tinha relatado, e a publicá-lo sob o manto de ficção no Mensageiro do Sul. Não tendo qualquer objeção a fazer consenti, estipulando apenas que o meu verdadeiro nome fosse conservado. Dois excertos da pretensa ficção apareceram no Mensageiro (números de janeiro e fevereiro de 1837) e, com o objetivo de deixar bem claro que se tratava de pura ficção, o nome do senhor Poe figurava no índice da revista, como autor dos artigos.
A maneira como a «habilidade» foi acolhida levou-me, por fim, a empreender a compilação regular e a publicar as referidas aventuras, pois verifiquei que, apesar do ar de fábula com que engenhosamente tinha sido revestida a parte do meu relato publicada no Mensageiro (onde, aliás, nem sequer um único facto tinha sido alterado ou falseado), o público não estava disposto a aceitá-lo como pura fantasia, tendo sido dirigidas várias cartas ao senhor Poe, que provam o contrário. Concluí que a minha narrativa era de natureza tal que continha em si própria a prova suficiente da sua autenticidade e que, portanto, nada tinha a recear de uma possível incredulidade do público.
Depois desta explicação, verão aquilo que eu próprio escrevi e compreenderão também que nenhum fato foi falseado nas poucas páginas escritas pelo senhor Poe. Mesmo para os leitores que não viram os números do Mensageiro, é desnecessário indicar onde acaba o seu texto e começa o meu; a diferença de estilo é bem patente.
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Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (01)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (02)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (03)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (04)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (05)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (06)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (fim)
Edgar Allan Poe - Contos: A Sombra
Edgar Allan Poe - Contos: Aventuras de Arthur Gordon Py: 1 — Aventureiros Precoces(1)
A. G. Pym Nova Iorque, julho de 1838.
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Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico estadunidense. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.
Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).
Poe mudou seu foco para a prosa e passou os próximos anos trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu próprio estilo de crítica literária. Seu trabalho o obrigou a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose entre outros agentes.
Poe e suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.
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Edgar Allan Poe
CONTOS
Originalmente publicados entre 1831 e 1849
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Leia também:
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (02)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (03)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (04)
Edgar Allan Poe - Contos: Um Homem na Lua (05)
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Edgar Allan Poe - Contos: A Sombra
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