sexta-feira, 17 de maio de 2019

histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha

mulheres descalças


Deus te abençoe, minha filha
Ensaio 127Bl – 2ª edição 1ª reimpressão




baitasar





Minha filha, vosmecê já pode se retirar para o seu quarto.

Ainda é cedo, paizinho...

Vá para o seu quarto, meu dentinho.

Não gosto que me chame de dentinho... por que do nada o sinhô começou a me chamar de dentinho?

Está bem, minha filha. Não precisa ficar triste. O papai exagerou?

Cada coisa tem o seu limite. O sinhô iria gostar se o chamassem de coxinha?

Caso as pessoas resolvam fazer troça comigo, não vou aceitar, parô um tanto antes de continuá, desde que seja brincadeira. Eu também brinco, e caso as pessoas fiquem brabas comigo, eu paro. No meu caso, por exemplo, se eu não estou gostando, eu falo, Ó meu sinhô, não estou gostando. Para ou vai dar briga, se ele para eu também paro.

a muriquinha mocinha resolveu assuntá otra coisa, desvelá se eles desconfiô da sua desafinação

Não quer que eu toque, paizinho?

Por hoje, chega. O piano parece um emaranhado de espinhos rasgando seus dedos e gemendo em nossos ouvidos.

a pianística sentia sem mostrá qui queria tá no quarto, antes de lembrá do venuto tava paciente pra voltá, o engaiolado despertô na muriquinha o gosto das memória de sê dona, eles qui tivesse paciência pra esperá inté amanhã prus assunto da música 

agora precisava voltá pra calmaria do seu quarto, o lugá da casa mais parecido com as água do poço, o lugá de sê dona de tudo, Onde o tempo passa e ninguém culpa nem exige o resto que sobra de mim.

o siô augusto num era um estranho nos assunto da música pianística, assistia, todo dia, quase sem se mostrá ou faltá, os estudo da sua fia chiquinha, Essa Gonzaquinha vai ser muito famosa na Villa, mas antes vai ter que casar, não vai se tornar uma atração à disposição de qualquer um.

a pianística queria corrê pra sua caverna, um lugá seu com o canto do venuto, e mais nada, O Venuto na sua gaiola é mais feliz que eu, um quarto e uma cova de mágoas, o emaranhado pra saí da jaula pianística sem autorização podia lhe provocá perseguição, desencadeá a frieza do painho e os grito da mãinha, mais num era o caso

Não se preocupe, paizinho.

Vosmecê é quem sabe... mas acho melhor que vosmecê se retire para o seu quarto... não vejo problemas...

a muriquinha miúda desceu a tampa do piano com cuidado e consideração, sabia dos aperto do painho e mãinha pra suportá os custo do pianístico

Paizinho, não se preocupe.

Com o quê, minha filha?

Eu, o Venuto e a mãezinha não iremos embora nem ficaremos distantes.

levantô do banco e, ainda com os passo frôxo, foi inté mãinha tomá a bença, Deus te abençoe, minha filha, depois de tocá com as bêrada da boca na mão de mãinha, virô-se pra painho, foi inté ele, recebeu um roça-roça demorado na testa, Deus te abençoe e guarde, minha filha amada.

sabê qui tava abençoada praquela noite, ajudava a muriquinha creditá qui as alma penada e os fantasma - mesmo num pé só - qui ficava solto pra assustá as moça sem marido pra se protegê, ia tê qui ficá longe e se contentá com os pesadelo da muriquinha, mais as ameaça rondava, expiava, Podia estar embaixo da cama

ela escutava da mâinha - desde muntu tempo - qui mesmo sem querê ia tê qui se aliá ao hôme mais acertado, derramá o mel pra ele se lambuzá, mais o pote precisava ficá com a muriquinha qui num podia deixá se quebrá, O pote é mais precioso que o mel, minha filha.

escutava cusóio cravado nos pé





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