Ada Limón
Mundo Dos Poemas
Eu não tenho nenhuma tatuagem, elas não fazem parte da minha história, e sim da história
de minha mãe. Certa vez, caminhando pela Bedford Avenue quando tinha vinte e poucos anos,
e como ela é uma artista, eu queria que ela fizesse a arte, um símbolo —
um peixe com o qual eu sonhava todas as noites. Um amuleto aquático, um presente
de mãe em meu corpo. Para ser honesta, pensei que ela ficaria honrada. Mas nós
realmente conhecemos uns aos outros completamente? Um silêncio como num quarto de hospital; ela
estava em lágrimas. Eu jurei que não faria uma. Que não permitiria que uma agulha
tocasse a minha pele, meu braço, meu torso. Eu permaneceria eu mesma, com a pele
com a qual ela me acolheu no mundo. Só mais tarde eu soube que
o problema não era tanto a tatuagem, mas a marca, a ideia
de cicatrizes. O que você não sabe (e é por isso que esta não é a minha história)
é que minha mãe tem cicatrizes de queimadura em grande parte do corpo.
A maioria de uma explosão, que levou o primeiro filho que ela carregava
na barriga; outras, dos enxertos de pele com a pele que eles levaram para cobrir
o que era necessário. Ela tinha vinte e poucos anos quando isso aconteceu.
Na frente do seu estúdio, no centro da cidade. Você tem que entender,
minha mãe é linda. Alta e elegante, magra e forte. Eu nunca a
conheci de outra maneira, sua pele que mapeei com meus dedos
juvenis, a estranha dureza em alguns lugares, os padrões como retalhos aqui,
leitos de rios ali. Ela é assombrosa, sobrenatural, sobreviveu ao fogo,
ao fim do filho por nascer. O calor e a chama e a morte, tudo isso a tornou
algo quase mágico, uma fênix. O que sei
agora é que ela queria outra coisa para mim. Para que eu acordasse todas
as manhãs e reconhecesse minha própria carne, para que essa coisa que ela fez —
eu — permanecesse como ela planejou, para que uma de nós
saísse ilesa.
Trad.: Nelson Santander
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