segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Massa e Poder - A Massa (As Massas Invisíveis)

Elias Canetti


AS MASSAS INVISÍVEIS


Por toda a terra, onde quer que haja seres humanos, encontra-se presente a concepção dos mortos invisíveis. Poder-se-ia designá-la a mais antiga concepção da humanidade. Certamente inexiste uma horda, tribo ou povo que não tenha refletido fartamente sobre os seus mortos. O homem esteve sempre possuído por eles; sua importância era enorme e sua influência sobre os vivos foi sempre um componente essencial desta vida.

Imaginavam-se os mortos todos juntos, assim como os homens vivem juntos, e tendia-se a supor a existência de muitos deles. “Os antigos bechuanas, tanto quanto os demais nativos da África do Sul, acreditavam que a totalidade do espaço encontrava-se repleta dos espíritos de seus antepassados. A terra, o ar e o céu apresentavam-se repletos de espíritos capazes, a seu bel-prazer, de exercer uma influência maléfica sobre os vivos".

Os bolokis do Congo acreditam-se rodeados de espíritos que procuram, em todas as ocasiões, fazer-lhes mal, prejudicá-los a qualquer hora do dia ou da noite. Os rios e regatos encontram-se cheios dos espíritos de seus antepassados. Mesmo a floresta e a mata estão apinhadas de espíritos que podem tornar-se perigosos para os que viajam por terra ou pela água, deixando-se surpreender pela noite. Ninguém é suficientemente corajoso para, durante a noite, andar pela floresta que separa uma aldeia da outra; mesmo a perspectiva de uma grande recompensa é incapaz de seduzir alguém a fazê-lo. A resposta para tais ofertas é sempre: “Há espíritos demais na floresta".

Acredita-se geralmente que os mortos moram juntos num país distante, embaixo da terra, numa ilha ou numa morada celeste. Uma canção dos pigmeus do Gabão diz: “Os portões da caverna estão fechados. As almas dos mortos amontoam-se lá, aos bandos, qual uma nuvem de mosquitos a dançar à noite. Uma nuvem de mosquitos a dançar à noite, quando já escureceu e o sol se foi, uma nuvem de mosquitos: o esvoaçar de folhas mortas em meio à tempestade uivante”. Mas não é o bastante que os mortos se tornem cada vez mais numerosos e que o sentimento de sua densidade faça-se predominante. Eles estão também em movimento, e atrás de empreitadas comuns. Às pessoas comuns, eles permanecem invisíveis, mas há homens com dons especiais — os xamãs —, entendidos em conjurações e capazes de subjugar os espíritos, que se tornam seus servos. Entre os tchutches, na Sibéria, “um bom xamã dispõe de legiões inteiras de espíritos auxiliares e, quando os convoca a todos, eles vêm em quantidades tamanhas que, qual uma parede, circundam completamente a pequena tenda onde tem lugar a conjuração”.

Os xamãs dizem o que veem.

Com uma voz trêmula de emoção, o xamã grita do iglu: 
“O espaço celeste está repleto de seres nus que vagam pelo ar. Seres humanos, homens nus, mulheres nuas que voam, atiçando a tempestade e a nevasca.
“Ouvis o zunido? O vento lá em cima zune feito o bater de asas de pássaros enormes. Esse é o medo dos seres humanos nus, a fuga dos seres nus! Os espíritos do ar sopram a tempestade; os espíritos do ar cobrem a terra de neve esvoaçante."

Provém dos esquimós essa grandiosa visão de espíritos nus em fuga. 

Muitos povos imaginam seus mortos, ou uma certa parcela deles, como exércitos em combate. Entre os celtas das montanhas escocesas, o exército dos mortos é designado por uma palavra específica: sluagh. Em inglês, pode-se traduzir por “spirit-multitude”, “multiplicidade de espíritos”. O exército de espíritos voa em grandes nuvens de um lado para o outro, feito os estorninhos sobre a face da terra. E os espíritos sempre retornam aos locais de seus pecados terrenos. Com suas infalíveis flechas venenosas, matam gatos, cachorros, ovelhas e o gado dos homens. Travam batalhas no ar como os homens o fazem na terra. Nas noites claras e geladas, podem-se ver e ouvir seus exércitos avançando e recuando, recuando e novamente avançando uns contra os outros. Depois de uma batalha, seu sangue tinge rochas e pedras de vermelho. A palavra gairm significa "grito-chamado", e sluagh-ghairm era o grito de guerra dos mortos. Desta última originou-se, posteriormente, a palavra slogan: a designação para a convocação à luta de nossas massas modernas provém dos exércitos dos mortos das montanhas escocesas.

Dois povos setentrionais que vivem assaz distantes um do outro — os lapões, na Europa, e os índios tlinkits, no Alasca — possuem a mesma concepção da aurora boreal como uma batalha. 

Os lapões-kolta acreditam ver na aurora boreal os tombados na guerra que, na condição de espíritos, seguem lutando uns contra os outros no ar. Os lapões russos veem nela os espíritos dos que foram mortos. Eles moram numa casa onde às vezes se reúnem; matam-se, então, uns aos outros, e o chão se enche de sangue. A aurora boreal anuncia o início da batalha entre as almas dos que foram assassinados. Para os tlinkits do Alasca, todos os que morrem não na guerra, mas por doença, vão tão somente para o mundo subterrâneo.
No céu ficam apenas os valentes guerreiros mortos em combate. Vez por outra, o céu se abre para acolher novos espíritos. Ao xamã, estes se mostram sempre como guerreiros plenamente armados. As almas dos que tombaram na guerra com frequência aparecem sob a forma da aurora boreal, particularmente daquelas suas labaredas que se parecem com flechas ou feixes, movendo-se de um lado para o outro, às vezes ultrapassando-se umas às outras ou trocando de lugar, o que lembra muito a maneira como os tlinkits combatem. Uma aurora boreal intensa anuncia — acredita-se — um grande derramamento de sangue, significando que os guerreiros mortos desejam para si novos camaradas. 
  
Segundo creem os germanos, um número enorme de guerreiros encontra-se reunido no Valhala. Ali chegam todos os homens que, desde o princípio do mundo, morreram em combate. Seu número cresce cada vez mais, pois as guerras não têm fim. Fartam-se de comer e beber; a comida e a bebida renovam-se eternamente. Toda manhã, pegam suas armas e partem para a batalha. Matam-se de brincadeira e põem-se novamente de pé: não se trata de uma morte verdadeira. E retornam, então, ao Valhala por seus 640 portões, em fileiras de oitocentos homens cada.

Mas não são apenas os espíritos dos mortos que se imaginam sob a forma dessas multidões invisíveis aos homens comuns. Num antigo texto judaico lê-se: “Depende do ser humano saber, e ele deve lembrar-se disso, que não há nenhum espaço vazio entre o céu e a terra, mas tudo se encontra repleto de bandos e multidões. Uma parte destas é pura, cheia de misericórdia e clemência; uma parte, porém, constitui-se de criaturas impuras, de malfeitores e verdugos. Todos eles voam pelo ar: alguns desejam a paz, outros buscam a guerra; alguns promovem o bem, outros fazem o mal; alguns trazem vida, mas outros a morte".

 Na religião dos antigos persas, os demônios compõem um exército particular, sujeito a um comando próprio. Em seu livro sagrado, o Zend Avesta, encontra-se a seguinte fórmula para expressar a inumerabilidade desses demônios: “Milhares e milhares de demônios, dezenas e dezenas de milhares, miríades inumeráveis deles".

A Idade Média cristã refletiu seriamente sobre o número de diabos. No Diálogo dos milagres de Caesarius de Heisterbach conta-se que, certa vez, eles lotaram tão densamente o coro de uma igreja que perturbaram o canto dos monges. Estes haviam começado a entoar o terceiro salmo: “Senhor, quão numerosos são os que me atormentam”. Os diabos puseram-se a voar de um lado a outro do coro, misturando-se aos monges, que já nem sabiam o que estavam cantando; confusos, uma parte buscava encobrir com sua voz a voz da outra. Se tantos diabos reúnem-se num local para perturbar uma única missa, quantos haverão, então, de existir por toda a terra! Já o Evangelho — crê Caesarius — atesta que uma legião deles penetrou num único homem

Um padre mau, em seu leito de morte, disse a um parente sentado a seu lado: “Vês aquele grande celeiro ali em frente? Sob seu teto há tanta palha quanto o número de diabos agora reunidos à minha volta”. Os diabos espreitam-lhe a alma, a fim de conduzi-la a seu castigo. Mas tentam a sorte também junto ao leito de morte dos pios. No enterro de uma bondosa abadessa havia mais diabos reunidos à sua volta do que folhas nas árvores de uma grande floresta. Circundando um abade moribundo, seu número era maior do que o de grãos de areia à beira do mar. Esses dados devem-se a um diabo, ali presente em pessoa, e a um cavaleiro com quem veio a conversar, justificando-se. O diabo não ocultou sua decepção ante os vãos esforços e confessou ter estado presente à morte de Cristo, sentado num braço da cruz.

Vê-se, pois, que a impertinência desses diabos é tão gigantesca quanto o seu número. Quando fechava os olhos, o abade cisterciense Richalm via-os densamente feito poeira em torno de si. Fizeram-se estimativas mais exatas de seu número. Destas, conheço duas, as quais, no entanto, diferem bastante uma da outra. Uma informa serem 44 635 569 os diabos; a outra, 11 bilhões.

Em grande e natural contraste com isso encontra-se a noção que se tem dos anjos e dos bem-aventurados. Junto destes, tudo é paz; nada mais há que se deseje conseguir — a meta já foi alcançada. Também eles, contudo, encontram-se reunidos; são exércitos celestiais, “um sem-número de anjos, patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, confessores, virgens e outros justos”. Dispostos em grandes círculos, circundam o trono de seu senhor, qual os súditos de uma corte voltados para seu rei. Suas cabeças estão bem juntas umas das outras; em sua proximidade do senhor assenta-se a sua bem-aventurança. Ele os acolheu para sempre, e, assim como jamais o abandonarão, tampouco abandonarão uns aos outros. Encontram-se mergulhados na sua contemplação e o louvam. É só o que ainda fazem, e o fazem em conjunto. 

A mente dos crentes apresenta-se povoada dessas noções de massas invisíveis. Sejam elas de mortos, de diabos ou de santos, são imaginadas como grandes bandos concentrados. Poder-se-ia dizer que as religiões principiam com essas massas invisíveis. Sua estratificação varia; em cada crença desenvolve-se um equilíbrio específico para elas. Uma classificação das religiões segundo a maneira pela qual elas manipulam suas massas é possível, e seria mesmo bastante desejável. As religiões superiores — entendendo-se por estas as que alcançaram validade universal — demonstram nesse aspecto uma segurança e clareza soberanas. Às massas invisíveis que mantêm vivas através de sua pregação encontram-se atrelados os medos e os desejos dos homens. Esses seres invisíveis são o sangue da fé. Tão logo perdem a cor, a crença se enfraquece, e, enquanto esta vai aos poucos definhando, outros bandos substituem os que empalideceram.

De uma dessas massas invisíveis — talvez a mais importante de todas — ainda não se falou aqui. Ela é a única que, a despeito de sua invisibilidade, parece natural a nós, homens de hoje: trata-se da massa dos descendentes. Até duas, talvez três gerações, o homem logra ainda abarcá-la com os olhos; depois disso, porém, ela pertence ao futuro. Precisamente em sua inumerabilidade, a descendência não é visível a pessoa alguma. Sabe-se que ela vai aumentar — primeiro, paulatinamente; depois, com velocidade crescente. Tribos e povos inteiros remontam sua origem a um antepassado; pelas promessas que lhe são feitas percebe-se que descendentes magníficos, mas, acima de tudo, que número de descendentes ele deseja: numerosos como as estrelas no céu e a areia no mar. No Shi-King, o clássico cancioneiro dos chineses, encontra-se um poema no qual a descendência é comparada a uma nuvem de gafanhotos:

As asas dos gafanhotos dizem: Aperta, aperta!
Oh, que teus filhos e netos
Formem um exército inumerável!

As asas dos gafanhotos dizem: Ata, ata!
Oh, que teus filhos e netos
Sucedam-se numa linha infinda! 
 
As asas dos gafanhotos dizem: Una, una!
Oh, que teus filhos e netos
sejam para sempre um!

Os três desejos relativos à descendência aqui expressos são o grande número, a não interrupção — e, portanto, uma espécie de densidade ao longo do tempo — e a unidade. A nuvem de gafanhotos, como símbolo para a massa dos descendentes, é particularmente impressionante porque os insetos não são vistos aí como bichos daninhos, mas como algo exemplar, e justamente em função da força de sua multiplicação.

O sentimento da descendência encontra-se hoje tão vivo quanto sempre esteve. O caráter de massa, porém, desvinculou-se da descendência própria, transferindo-se para a humanidade futura como um todo. Para a maioria de nós, os exércitos de mortos transformaram-se em superstição vazia. Mas tem-se por um empenho nobre e nada ocioso pensar na massa dos que ainda não nasceram, querer-lhe bem e preparar-lhe uma vida melhor e mais justa. Esse sentimento em relação aos que ainda não nasceram é de grande importância no medo de todos quanto ao futuro da terra. É possível que o repúdio a sua mutilação, que a preocupação quanto a que aspecto terão, se hoje deflagrarmos nossas guerras modernas, contribuam mais para a abolição dessas guerras, e da guerra em si, do que todos os nossos medos individuais.

Ademais, tomando-se em consideração o destino das massas invisíveis das quais se falou aqui, poder-se-á dizer que algumas desapareceram já em grande parte, e outras, completamente. Nestas últimas incluem-se os diabos; em sua forma conhecida, não são mais encontrados em parte alguma, a despeito da grande quantidade em que existiam outrora. Ainda assim, deixaram seus vestígios. De sua pequenez, apresentaram-se muitos testemunhos surpreendentes à época de seu maior florescimento — os de Caesarius de Heisterbach, por exemplo. Desde então, os diabos abandonaram todos os traços que poderiam lembrar a figura humana, tendo se tornado ainda muito menores. Bastante modificados, portanto, e em quantidade ainda maior, eles ressurgiram no século XIX sob a forma de bacilos. Em vez de voltar-se contra a alma, seu ataque volta-se contra o corpo do homem. E, para este, podem representar grande perigo. Pouquíssimos homens já olharam através de um microscópio, podendo, assim, realmente vê-los. Todos, porém, que deles já ouviram falar têm sempre consciência da sua presença, esforçando-se por não entrar em contato com eles — uma empreitada algo vaga, considerando-se-lhes a invisibilidade. Sua periculosidade e concentração em gigantescas quantidades em espaços minúsculos, os bacilos indubitavelmente as herdaram dos demônios.

Uma massa invisível que sempre existiu, mas que somente foi reconhecida como tal a partir do microscópio, é a massa dos espermatozoides. Duzentos milhões desses bichinhos põem-se a um só tempo a caminho. São todos iguais entre si, reunidos em grande densidade. Todos têm uma meta, mas, à exceção de um único, perecem todos no caminho. Poder-se-ia dizer que eles não são seres humanos e que, no seu caso, não se deveria falar propriamente em massa, no sentido em que o termo foi descrito aqui. Tal objeção, porém, não atinge o fulcro da questão. Cada bichinho desses traz consigo tudo quanto se conservará dos antepassados. Cada um contém os antepassados: é, ele próprio, esses antepassados. Trata-se de uma enorme surpresa reencontrá-los aqui, entre uma existência humana e outra, e sob uma forma inteiramente diversa: todos os antepassados numa única e minúscula criatura invisível — e tal criatura, em quantidades tão imensuráveis.

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Leia também:

Massa e Poder - A Massa (Massa Aberta e Massa Fechada)
Massa e Poder - A Massa (As Massas Invisíveis)
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ELIAS CANETTI nasceu em 1905 em Ruschuk, na Bulgária, filho de judeus sefardins. Sua família estabeleceu-se na Inglaterra em 1911 e em Viena em 1913. Aí ele obteve, em 1929, um doutorado em química. Em 1938, fugindo do nazismo, trocou Viena por Londres e Zurique. Recebeu em 1972 o prêmio Büchner, em 1975 o prêmio Nelly-Sachs, em 1977 o prêmio Gottfried-Keller e, em 1981, o prêmio Nobel de literatura. Morreu em Zurique, em 1994. 
Além da trilogia autobiográfica composta por A língua absolvida (em A língua absolvida Elias Canetti, Prêmio Nobel de Literatura de 1981, narra sua infância e adolescência na Bulgária, seu país de origem, e em outros países da Europa para onde foi obrigado a se deslocar, seja por razões familiares, seja pelas vicissitudes da Primeira Guerra Mundial. No entanto, mais do que um simples livro de memórias, A língua absolvida é a descrição do descobrimento do mundo, através da linguagem e da literatura, por um dos maiores escritores contemporâneos), Uma luz em meu ouvido (mas talvez seja na autobiografia que seu gênio se evidencie com maior clareza. Com este segundo volume, Uma luz em meu ouvido, Canetti nos oferece um retrato espantosamente rico de Viena e Berlim nos anos 20, do qual fazem parte não só familiares do escritor, como sua mãe ou sua primeira mulher, Veza, mas também personagens famosos como Karl Kraus, Bertolt Brecht, Geoge Grosz e Isaak Babel, além da multidão de desconhecidos que povoam toda metrópole) O jogo dos olhos (em O jogo dos olhos, Elias Canetti aborda o período de sua vida em que assistiu à ascensão de Hitler e à Guerra Civil espanhola, à fama literária de Musil e Joyce e à gestação de suas próprias obras-primas, Auto de fé e Massa e poder. Terceiro volume de uma autobiografia escrita com vigor literário e rigor intelectual, O jogo dos olhos é também o jogo das vaidades literárias exposto com impiedade, o jogo das descobertas intelectuais narrado com paixão e o confronto decisivo entre mãe e filho traçado com amargo distanciamento), já foram publicados no Brasil, entre outros, seu romance Auto de fé e os relatos As vozes de MarrakechFesta sob as bombas e Sobre a morte.
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Copyright @ 1960 by Claassen Verlag GmbH, Hamburg
Copyright @ 1992 by Claassen Verlag GmbH, Hildescheim
Título original Masse und Macht

"Não há nada que o homem mais tema do que o contato com o desconhecido."

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