No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Um
baitasar
Memórias
comigo não funcionava essa história das meninas com suas bonecas de milho e banana, fazendo comidinha, esmagando baratas, arrancando os ratões de suas tocas, eu queria estar entre os meninos com minha espada, desafiando o guardamento imposto as meninas e meninos, um lugar onde meninas não podem ser guerreiras e meninos não podem brincar de bonecas
com minha espada era Blanca, La Leporina
mi hermana Blanca, La Leporina, não era um afrouxamento desta clausura, ela era uma alvorotada, aprumada na própria vontade de ser o que quisesse
ela recusava a se encaixar nesse molde apertado que la Montaña tentava nos impor, enquanto las chicas brincavam de bonecas e comidinha, los chicos de espada e esconderijos, Blanca desafiava o sagrado consagrado, reivindicando o espaço no terreno dos sonhos desprovido de cadeados entre niños y niñas
a espada em minhas mãos não era apenas um membro, era uma comparação e inconformismo, uma desenho do nosso desejo amaldiçoado montaña arriba de quebrar essas correntes que tentam nos aprisionar em amostras grátis
quando saíamos para os tiroteios riscava com carvão um corte no lábio superior até las ventanas e esperava los niños decidirem quem seria Qualquer Um, não me importava o escolhido, bastava-me empunhar a espada
carregava meus companheiros por caminhos desconhecidos para eles, estradas misteriosas imaginadas por mim, alguns desistiam e se entregavam assustados, esses não mereciam a confiança da La Leporina
até que Juanito teve sua oportunidade como Qualquer Um, o guri já chegou com a sua espada na mão, pronto para as escaramuças, olhou todos, um a um, até me encontrar, e disse, Me siga!
respondi que era La Leporina, una mujer que hace su próprio camino, ele deveria me seguir, não pareceu escutar, ordenou que os demais ficassem deitados de barriga no chão, Los ojos cerrados, las orejas tapadas com las manos, e contassem até cem ou até onde conseguissem
depois, com um olhar selvagem e desconfiado, voltou a ordenar que o seguisse, quase lhe respondi que fosse se esconder no fim do mundo, mas já estávamos no fim do mundo
ficamos nos mirando
Um... dois... três... quatro... cinco...
corri na frente, a cada avanço aquela contagem se perdia no alvoroço e ruídos dos milhos, no início do carreiro lhe era conhecido, não demorou muito para parecer perdido
não lembrava onde – naquela confusão de idas e vindas – deixou de cuidar o caminho e desatentou, passou a seguir minhas ordens, sabia que voltar seria penoso e exigia muito jeito para entender os mistérios de la Montaña
depois de horas fugindo, já quase desaparecidos, Juanito fez sinal para caminhar, estava cansado de tanta correria, foi quando ouvimos gritos abafados, gemidos desesperados
primeiro, meu corpo se retesou, Juanito se jogou no chão, quis fugir ficando parado, um galho caído no chão, não conhecia o caminho de volta, depois de uma nanica hesitação ordenei nosso avanço precavido
seguíamos os gritos abafados, berros que nunca foram escutados além da mestiçagem, então nunca existiram
aqueles que não existem não têm voz, si caminas te alcanza y si corres se te pega
a trilha dos milhos estava para trás, continuamos mata adentro e acima, um território desconhecido para nosotros, a curiosidade empunhava nossos pés, a clareza dos gritos indicava o único caminho a seguir
Juanito empunhava su espada de madera, yo llevaba la cicatriz de La Leporina
o cheiro de la muerte invadia nossos pequeños cuerpos y almas
súbito, Juanito tapou minha boca com sua mão, o inesperado do seu ataque me assustou, ele fez sinal para que eu ficasse calada, quando meus olhos aprenderam para onde olhar me cobri em silêncio
o meu paraíso estava para ser destruído
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mi hermana Blanca, La Leporina, não era um afrouxamento desta clausura, ela era uma alvorotada, aprumada na própria vontade de ser o que quisesse
ela recusava a se encaixar nesse molde apertado que la Montaña tentava nos impor, enquanto las chicas brincavam de bonecas e comidinha, los chicos de espada e esconderijos, Blanca desafiava o sagrado consagrado, reivindicando o espaço no terreno dos sonhos desprovido de cadeados entre niños y niñas
a espada em minhas mãos não era apenas um membro, era uma comparação e inconformismo, uma desenho do nosso desejo amaldiçoado montaña arriba de quebrar essas correntes que tentam nos aprisionar em amostras grátis
quando saíamos para os tiroteios riscava com carvão um corte no lábio superior até las ventanas e esperava los niños decidirem quem seria Qualquer Um, não me importava o escolhido, bastava-me empunhar a espada
carregava meus companheiros por caminhos desconhecidos para eles, estradas misteriosas imaginadas por mim, alguns desistiam e se entregavam assustados, esses não mereciam a confiança da La Leporina
até que Juanito teve sua oportunidade como Qualquer Um, o guri já chegou com a sua espada na mão, pronto para as escaramuças, olhou todos, um a um, até me encontrar, e disse, Me siga!
respondi que era La Leporina, una mujer que hace su próprio camino, ele deveria me seguir, não pareceu escutar, ordenou que os demais ficassem deitados de barriga no chão, Los ojos cerrados, las orejas tapadas com las manos, e contassem até cem ou até onde conseguissem
depois, com um olhar selvagem e desconfiado, voltou a ordenar que o seguisse, quase lhe respondi que fosse se esconder no fim do mundo, mas já estávamos no fim do mundo
ficamos nos mirando
Um... dois... três... quatro... cinco...
corri na frente, a cada avanço aquela contagem se perdia no alvoroço e ruídos dos milhos, no início do carreiro lhe era conhecido, não demorou muito para parecer perdido
não lembrava onde – naquela confusão de idas e vindas – deixou de cuidar o caminho e desatentou, passou a seguir minhas ordens, sabia que voltar seria penoso e exigia muito jeito para entender os mistérios de la Montaña
depois de horas fugindo, já quase desaparecidos, Juanito fez sinal para caminhar, estava cansado de tanta correria, foi quando ouvimos gritos abafados, gemidos desesperados
primeiro, meu corpo se retesou, Juanito se jogou no chão, quis fugir ficando parado, um galho caído no chão, não conhecia o caminho de volta, depois de uma nanica hesitação ordenei nosso avanço precavido
seguíamos os gritos abafados, berros que nunca foram escutados além da mestiçagem, então nunca existiram
aqueles que não existem não têm voz, si caminas te alcanza y si corres se te pega
a trilha dos milhos estava para trás, continuamos mata adentro e acima, um território desconhecido para nosotros, a curiosidade empunhava nossos pés, a clareza dos gritos indicava o único caminho a seguir
Juanito empunhava su espada de madera, yo llevaba la cicatriz de La Leporina
o cheiro de la muerte invadia nossos pequeños cuerpos y almas
súbito, Juanito tapou minha boca com sua mão, o inesperado do seu ataque me assustou, ele fez sinal para que eu ficasse calada, quando meus olhos aprenderam para onde olhar me cobri em silêncio
o meu paraíso estava para ser destruído
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Leia também:
Livro Um:
Memórias - 01: a lua cheia
Memórias - 02: a servidão natural
Memórias - 03: um negócio inesgotável
Memórias - 04: la sina de papá
Memórias - 05: ervas e flores do campo
Memórias - 06: el regazo de Blanca
Memórias - 07: lleno de deseo
Memórias - 08: mi ojos fingidos de dormidos
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Memórias - 09: ¡vaya hombre, no me dejes!
Memórias - 12: as memórias nos empurram
Memórias - 13: a Virgem do Rosário
Memórias - 14: palpites
Memórias - 15: ordeña
Memórias - 16: o leite espumante
Memórias - 17: Cuando llueve, diluvia...
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Memórias - 19: ¿Emparejar con quien?
Memórias - 20: la vaca, el toro
Memórias - 21: a solidão
Memórias - 22: ¿el fin ya está en camino?
Memórias - 23: en la naturalidad de la vejez
Memórias - 24: los perros insatisfeitos
Memórias - 25: um lugar de trabalho e mortes
Memórias - 26: no hay maldición, no hay brujas
Memórias - 27: soy una anciana
Memórias - 28: um Zé qualquer
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Memórias - 31: niños y niñas
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