segunda-feira, 30 de novembro de 2020

mulheres descalças: caridade é uma brisa morna

mulheres descalças


caridade é uma brisa morna
Ensaio 127Bzp – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



a villa grita qui num precisa das cigarra, É tudo puta!, e repete os grito, Não é preciso cantar a alegria de estar viva a vida!, e grita otra veiz, A formiga não canta e a abelha só faz zumbir!, se cala pra oiá na sua volta antes de continuá a lição de bem-vivê, queria tê mais jeito de falá, sê escutado e sê visto, mais por enquanto basta os ouvido da dona rosinha, Os dois bichinho trabalham e não cantam, sabem que é preciso fazerem a sua parte. A alegria dos dois é ter trabalho, ter o que fazer, já teve tempo qui dona rosinha pensava sê uma cigarra, mais achô meió desacostumá os pensamento de cantoria, Dona Rosinha, precisamos de mais trabalho porque sem trabalho não tem comida. Alegria não enche a barriga, o siô augusto fez com a clareza das palavra o ditado pra sê copiado e decorado, Vivendo ou morrendo estamos aqui de passagem para trabalhar. O trabalho é a nossa redenção!

pra sê bem-vista na villa é preciso sê abelha, formiga ou larva, as gente de bem da villa diz qui num precisa das cantoria das poesia pra tê encantamento com a vida, Ninguém foge do destino no barranco, dona Rosinha. Mas uma caridade – aqui, ali e lá – pode aliviar o peso das costas.

caridade é uma brisa morna qui num faz tempestade pra mudá a luta dusqui tem contra usqui num tem; essa briga num tem conciliamento, lá uma veiz qui otra pode tê apaziguamento, mais nunca vi tê juntação pruqui os caridoso precisa tê sobrando pra fazê a esmola da misericórdia

é um embaraço complicado sem fundo o abismo do cobiçoso lucrativo: quem num tem quando tem qué acumulá uqui passô tê, qué fazê sobrá pra guardá tudo amontoado, é isso, pra tê sobra o caridoso precisa acumulá na sua volta o abandono, desamparo e desproteção com munta indiferença e uma dose controlada de hostilidade pra desmanchá qualqué vontade ou agitação descontrolada

o caridoso se alimenta da servidão e da obediência, num se revolta contra a chibata nem arranca das mão do carrasco as tira do açoite, num consegue vê o mundo além do seu mundo, reza com o livro decorado nas mão enquanto usóio fica cravado nas cara qui num é branca sendo atormentada e castigada, Só com um bom corretivo vão se livrar das coisas ruins, e num faz nada pra impedimento daquele sofrimento, Coisa boa é que não fez, e reza muntu pra tê paz pru seu curação desalmado, tirano e covarde, reza pras coisa na villa risonha ficá como sempre foi e jura quié pra meió

o caridoso num pisca, mais chora muntu

depois do castigo ofertado, ele desce o corpo do tronco e alivia as tira recortada com unguento caridoso, oferece a cura depois de permití o castigo, Assim não vai adoecer dos cortes, vai cicatrizar melhor e mais rápido, logo vai estar pronto para o trabalho!

num pega na chibata, mais tumbém num segura firme a mão qui se assanha com uso do castigo




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é bão lê tumbém:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio



quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Maradona

Eduardo Galeano



Maradona


Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.

Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco minutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou.

Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.

Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.

Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.

A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.

Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.

Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.


um gol normal pq humano





um gol genial pq derrotou a guerra




rindo sozinho,,,





02 abril, maio e junho de 1982...

SBT Repórter - Malvinas - Parte 1





SBT Repórter - Malvinas - Parte 2





SBT Repórter - Malvinas - Parte 3





SBT Repórter - Malvinas - Parte 4







Marco Leite


"Bom vamos lá, Maradona era sim um dependente químico, e daí?

Eu também sou, tem gente que se entope de remédios legalizados e vai tomar uísque junto. 

A tá, mas é legal, né?

Eu sou um alcoólico cruzado em recuperação, você sabe o que é isso?

A grande maioria não vai saber responder, pois não viveu a tragédia da dependência química. 

Maradona, além de um grande futebolista, foi um lutador contra a dependência. Não julgue o que você não conhece. E é bom que não conheça, você não sabe o quanto é doloroso. 

É fácil condenar um dependente, mas entender e estender a mão é muito mais difícil. 

Mais empatia, respeitem a morte de alguém, não maldiga um dependente, pois de repente ele pode ser uma pessoa amada sua, ou até você mesmo. Pois, a dependência é consequência de abandono e desamor."



quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Cinema: Un homme et une femme (1966)

 Um homem e uma mulher



Um Homem e Uma Mulher 
 - Trailer Original





SINOPSE: O piloto de corridas Jean-Louis Duroc e Anne Gauthier, dois viúvos recentes, encontram-se por acaso quando visitam seus respectivos filhos num colégio interno, e isso se repete todos os finais de semana. Um dia, Anne perde o trem e Jean-Louis oferece-lhe uma carona de volta a Paris e eles acabam tornando-se amigos chegados e, finalmente, apaixonados, mas percebem que as lembranças dos cônjuges falecidos ainda são muito fortes. 

Premiação: 
OSCAR: Melhor filme estrangeiro e Melhor roteiro original, 
BAFTA (Reino Unido): Melhor atriz estrangeira Anouk Aimée, 
Festival de Cannes (França): Ganhou a Palma de Ouro 
e o Prêmio OCIC, GLOBO DE OURO (EUA): Melhor filme estrangeiro e melhor atriz de cinema - drama: Anouk Aimée.


WARNER BROS.PICTURES 

Ano 1966 
Titulo original: Un Homme et une Femme - "Um Homem e Uma Mulher" 
Diretor Claude Lelouch 
País: França 
Elenco: Anouk Aimée&Jean-Louis Trintignant 
Música: Francis Lai 
Edição: Carolina de Holanda



Um homem e uma mulher




Un homme et une femme (1966) 
- Francis Lai



[00:00] 01. Un Homme Et Une Femme (Orchestre)
[02:43] 02. Samba Saravah
[07:14] 03. Aujourd’hui c'est Toi (Vocal)
[09:25] 04. Un homme et une Femme (Vocal)
[12:05] 05. Plus fort que nous (Orchestre)
[15:24] 06. Aujourd'hui c'est toi (Orchestre)
[17:58] 07. A l'ombre de nous (Vocal)
[22:56] 08. Plus fort que nous (Vocal)
[26:42] 09. A 200 à l'heure (Orchestre)



Un homme et une femme
Samba Saravah 





Un Homme et Une Femme
Joe Hisaishi & New Japan Philharmonic World Dream Orchestra




Un homme et une femme





Un homme et une femme (Remastered) · Fausto Papetti 

Un homme et une femme ℗ 1967 Durium Ld A 7502 

Released on: 2017-05-01 
Composer: F. Lai Lyricist: F. Lai 
Music Publisher: Copyright Control



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

histórias davóinha: Josino (I10j - mel de Oxum)

Josino: I - a aparição da vida

mel de Oxum
Ensaio 10j – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



josino abriu as vista cansada, parecia inté qui num tinha aparição qui pudesse lhe tirá daquele seu quebranto das mão desocupada, duspé descalço, dusóio pesado e durumindo, da boca fechada e língua sossegada, agradado e saciado com o aroma do amô, Num prometo, minha preta... mais num vô adormecê todo, num vô deixá o formigamento duspé subí na cabeça nem o amolecimento das mão tomá conta ditudo. Ocê é linda. A mais bela. A mais bunita das muié. 

a boca mole e adocicada soltava as palavra qui a língua amansada falava, Vô lhe fazê todas vontade.

milagres oiô Oxum com as vista qui só uma muié pode oiá otra, depois se voltô pru seu hôme, as vista enfezada querendo avivá as vontade acomodando, dançava e aproximava uspé descalço com sua dança e o perfume arrebatadô do amô, Ocê num vai se atrevê, meu pretu...

a muié usava cinco lenço transparente preso na cintura, sua saia feita de nada esvoaçava, as trança da cabeça raspada balançava, uspé descalço dançava o vento qui espaiava mais e mais aquele perfume arrebatadô, brincava e cantava, aparecia e desaparecia, os lenço flutuava da cintura, mostrava as carne irresistível da Oxum, Num vô fechá usóio, Acho bão ocê num durumí, pois vô lhe sová com as vista aberta ou fechada. E ocê decide se vai fazê o acompanhamento da alegria divê e lembrá uqui viu ou a tristeza qui num viu a vida lhe fazê festejo.

a dança do amô qui salva num ia mais pará, josino lhe oiava com um sorriso sarabunda, pediu mais dança, mais mel, mais sedução, os dois enlouquecia lambuzados no mel de Oxum enquanto as água alisava as pedra



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é bão lê tumbém...

histórias de avoinha: Josino (I01j - o beijo da terra)
histórias de avoinha: Josino (I02j - a belezura na escuridão estrelada)
histórias de avoinha: Josino (I03j - fada ruim)
histórias de avoinha: Josino (I04j - quando vai mudá?)
histórias de avoinha: Josino (I05j - o fogo nas gota do choro)
histórias de avoinha: Josino (I06j - vai chegá das muié preta)
histórias de avoinha: Josino (I07j - assopra a lua)
histórias de avoinha: Josino (I08j - assopre as estrela, tumbém)
histórias de avoinha: Josino (I09j - juro qui lhe mordo)
histórias de avoinha: Josino (I10j - mel de Oxum)


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

“MUJERES, DISIDENCIAS Y MILITANCIAS, AYER Y HOY”

RAÍCES AFROARGENTINAS
PARTE DE NUESTRA HISTORIA Y NUESTRO PRESENTE



as mulheres descalças na Argentina em defesa dos direitos da cultura africana, mulheres pretas celebrando umas às outras e a vida, sempre a vida em irmandade, respeitando a ancestralidade, tudo com muita alegria, protagonistas da suas identidades culturais e do seu cotidiano

A DERROTA DO SILENCIAMENTO E OCULTAÇÃO DA COMUNIDADE NEGRA TAMBÉM FAZ PARTE DA HISTÓRIA ARGENTINA.



memoria - en casa



El Ente Público Espacio Memoria y Derechos Humanos (ex ESMA) abre una serie de muestras que reflejarán las luchas individuales y colectivas inspiradas en esta temática.

En el marco del Día Nacional de lxs Afroargentinxs y con el objetivo de promover la defensa de los derechos humanos, el Espacio Memoria presenta tres muestras que evidencian las luchas de las mujeres, disidencias y militancias de hoy, en relación a la perspectiva de la defensa de los derechos de la cultura africana.




El arte es considerado la revelación del ser. Sin embargo, nunca abjura de su condición histórica, y es en esta arena donde se dirime el arte afro con sus múltiples facetas.

Si toda inserción artística es problemática, cuanto más si se trata de la poética afroamericana. La Muestra que hoy desplegamos nos proporciona uno de los aspectos fundamentales de las manifestaciones artísticas de origen africano en esta parte del “Atlántico Negro”: la interpelación, el cuestionamiento del arte y, por lo tanto, su actualización.

A partir de la conquista y colonización de América y del sometimiento del continente africano a la trata esclavista por parte de Europa, la irrupción de la figura del “otro” en la historia inaugura la modernidad. Esta irrupción supuso, además, la necesidad de la diferenciación por parte del europeo que construyó el mito del “buen salvaje” y, casi simultáneamente, su contracara, el “salvaje caníbal”, para justificar el ejercicio del poder colonial, esclavista, patriarcal y racista, junto con la violenta posesión de nuestros territorios.La construcción del otro, eje central de la modernidad, deviene en conflicto no resuelto. Es decir, en tanto se haga de la diferencia un justificativo de la desigualdad, no se podrá pasar a otra etapa de la historia. Malu, Mutante y Mar apuntan al empoderamiento de las hermanas negras, subvirtiendo los roles a que fueron confinadas, recreando la sabiduría de nuestras ancestras, invocando la presencia de nuestras diosas, apuntalando un feminismo disidente y plurinacional; en fin, restableciendo una condición humana universal que había sido arrebatada por el crimen de la esclavización.Porque de eso se trata: de pugnar por un cambio del estado de las cosas tal como las conocemos, para pasar a otro estadío civilizatorio: las deslumbrantes obras de nuestras artistas impulsan y articulan, en un lenguaje polisémico, ese cambio, un cambio que ya comenzamos a respirar en la interacción dialogante con aquéllas.


Prof. Miriam V. Gomes,
Sociedad Caboverdeana,
agrupación Todos con Mandela, Comisión 8N.




“Topo da Pirâmide”

De la fotógrafa Malu Campello


Reúne registros de mujeres afrodescendientes y africanas que viven en la Argentina con el objetivo de cuestionar el lugar que ocupan las mujeres negras en la producción artística y contribuir a su visibilización en un contexto social donde todavía se sigue insistiendo en la no existencia de esas cuerpas.










Además de un proyecto artístico, “Topo da Pirâmide” es también una provocación y un llamado a la subversión: la subversión del lugar que históricamente fue destinado a las mujeres afrodescendientes, la base de la pirámide social, cargando en las espaldas todo el peso del racismo y del machismo. “Topo, que en portugués significa cumbre, es el lugar a donde aspiramos llegar, y está relacionado principalmente con el protagonismo de nuestras vidas, de nuestros sueños y de nuestros deseos. El camino hacia la cumbre no es individual ni solitario. Al contrario, solo es posible porque es colectivo. Es parte del proceso de empoderamiento que estamos transitando, como mujeres afrodescendientes conscientes de nuestra ancestralidad, mujeres que juntas vamos moviendo las estructuras del mundo”, explica la autora.


“Mujeres negras hermanadas, celebrándose unas a las otras y celebrando la vida, orgullosas de ser quienes son. Sororidad, ancestralidad, goce y belleza, no como conceptos vaciados de sentido o superficiales, sino como aquello que cimienta nuestra diversidad”.


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“Yabás” Proyecto de la mujer afro y afrodescendiente

De la Artista MUTANTE ROBIN (Laura Robin Ávila da Silva)



Este proyecto representa la búsqueda de la actualización y recomposición de la condición humana perdida en medio de la esclavitud, a través de la representación de las figuras espirituales antropomórficas provenientes de la tradición oral de las comunidades afrobrasileñas, en un diálogo entre lo ancestral y la cultura de la diáspora.











Yabás (iabás), significa en yoruba (iorubá) “Mãe Rainha” (Reina Madre). En la cultura afrobrasileña Nagô, proveniente de la nación yoruba, las Yabás son un colectivo de seis orixás (entidades espirituales) femeninas a las que se les adjudica la responsabilidad mancomunada del equilibrio de las cuestiones naturales ligadas a lo terrenal, y además, las cuestiones espirituales contempladas en la dicotomía Vida / Muerte. Cada una de ellas son: Yemanjá (iemanyá), Reina del Mar, y Madre Generosa; Iansã, Bella Guerrera, y Señora de los Relámpagos; Oxúm, Reina de los Ríos, del Amor y la Riqueza; Obá, Valiente Luchadora de las Aldeas; Ewá, Joven Cazadora; y Nanã, la más antigua, Dueña del Barro del Fin y del Reinicio.

Las características de cada una de sus personalidades e historias particulares, transmitidas oralmente, pueden encontrarse y visualizarse en cada uno de los momentos de la vida de las mujeres negras a lo largo de los siglos.



“Soy mujer afrobrasileña proveniente de una familia de ancestros que fueron esclavizados. Esclavizados en todos los sentidos, espirituales y artísticos. Obligados a negar nuestras propias raíces y libertad. A través de los siglos y de la lucha estamos conquistando espacios de visibilización y protagonismo de nuestras identidades culturales, de nuestro cotidiano, pudiendo mostrar aquello que en otros momentos nos ha costado la vida, o que debió ser sincretizado por la marginalidad a la que somos aún subyugados”.





LAURA ROBIN ÁVILA DA SILVA

"Reconstruimos nuestra memoria y nuestra identidad"


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“Una pegatina, múltiples voces”

De la artista visual Mar Diaz


La propuesta es una pegatina visual, que deriva de múltiples voces. Es una serie fotográfica, resultado del encuentro que reúne el Arte y los feminismos, dentro de un escenario político hecho por y para mujeres: El 34º Encuentro Plurinacional de Mujeres en la Argentina.























Éste proyecto reúne la acción performática, el grabado, la pegatina, la pintura, el dibujo, el mural y la fotografía en una nueva obra que pone en el escenario público, artístico y estético los trazos que conectan simbólicamente las voces de las mujeres desde otras latitudes de Latinoamérica. La decisión de documentar la acción pegatina, logra retratar la confianza, la complicidad del acto veloz de la intervención en el muro; acción que visibiliza la trama y las redes de los tejidos feministas en el continente.


“Esta propuesta visual, poética y política tiene como fin enunciar desde un lenguaje simbólico y artístico, aquello que se teje en lo privado; cárceles, colectivos, singularidades y agrupaciones de mujeres, quienes gestaron imágenes gráficas, anónimas, callejeras y en movimiento, para que sean públicas, para hacer de nuestros espacios públicos, nuestros espacios habitados, espacios de seguridad y confianza, acompañadas de mensajes que nos empoderen y que nos unan a la red”.








MAR DÍAZ PACHECO

"El arte es una herramienta de cuestionamiento de un sistema racista colonialista y patriarcal"


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EL DERROTERO DE SILEN­CIAMIENTO Y OCULTACIÓN DE LA COMUNIDAD NEGRA ES TAMBIÉN PARTE DE LA HISTORIA ARGENTINA.


mulheres descalças: buraco do barranco

 mulheres descalças




buraco do barranco
Ensaio 127Bzo – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



ele podia tudo, e mais importante, o siô augusto inté podia se gostá sem desapontamento, tanto podia usá a direita tanto se dava se usava a canhota, ele se ria fácil ditudo – ou quase tudo, sabia qui mandava só da porta pra dentro –, num podia matá, mais podia mandá forte e frio, libertá ou prendê pra sempre, usá ou desusá, abusá ou pouco cuidá, Tudo tem dono e todo dono é correntista, prefere amarrar do que soltar os desgraçados. Fodam-se, desafortunados! Assim como a mulher está destinada ao prazer do homem, o destino da negrada é ser usada até ser jogada fora. Nunca vão ser gente!

maisqueria sê falado e comentado como caridoso e refém da decência, Fazer caridade faz subir o nome do caridoso com as pessoas de bem – gente caridosa e decente da Villa –, mais na solidão da noite num tem saída sabê qui a cama fica vazia sem o calô da vontade qui dá vontade ditá junto, a grandeza disê hôme se desfaz na solidão sem solução

a caridade num tem desejo pra curá ou fazê justiça nem apetece pru caridoso fazê a vida ficá diferente, reclama e pisa na pobreza quié uma invenção dusqui qué mais e mais duqui precisa tê, gente soberba qui precisa das esmola quidá pra se aliviá das morte qui tem nas mão, precisa descarregá a dô na barriga mofando nas gaveta das lembrança qui parece coisa simples

tem veiz qui num dá pra disfarçá tanta gente em ruína qui brota nas ruela da villa, as abelha aumenta o mel e as formiga trabáia dia e noite carregando nas costa as tripa, pedaço à pedaço, enquanto as larva desova nuqui já viveu e foi descartado no lodaçal dos barranco da morte qui num fica limpo ditê gente branca e preta desmanchando, estendida cuspé junto, gente qui já foi gente e num vive mais, tudo enfiado nos barranco do barranco da morte pra sossego e apetite das larva caridosa qui vive das carne de gente branca e preta – carne sem cô, sem soberba, sem calô da vontade, na solidão sem solução, pele e osso qui fede e chêra do mesmo feitio qui gosto podre



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é bão lê tumbém:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Stendhal - O Vermelho e o Negro: Um ataque de Gota (VII)

  Livro II 


Ela não é galante,
não usa ruge algum.

Sainte-Beuve



Capítulo VII

UM ATAQUE DE GOTA




E tive uma promoção, não por meu mérito, mas porque meu patrão sofria da gota.

BERTOLOTTI







O LEITOR TALVEZ SURPREENDA-SE com esse tom livre e quase amistoso; esquecemos de dizer que havia seis semanas o marquês estava retido em sua casa por um ataque de gota.
A srta. de La Mole e sua mãe estavam em Hyères, junto à mãe da marquesa. O conde Norbert via o pai apenas por instantes; davam-se bem um com o outro, mas nada tinham a dizer-se. Reduzido a Julien, o sr. de La Mole ficou espantado de encontrar ideias nele. Fazia-o ler-lhe os jornais. Em breve, o jovem secretário foi capaz de escolher as passagens interessantes. Havia um jornal novo que o marquês abominava; tinha jurado nunca lê-lo, e todo dia falava dele. Julien ria. O marquês, irritado contra o tempo presente, pediu que ele lesse Tito Lívio; a tradução improvisada sobre o texto latino divertia-o.
Um dia, o marquês disse com aquele tom de polidez excessiva que geralmente impacientava Julien:

– Permita, meu caro Sorel, que lhe presenteie com um traje azul: quando quiser vesti-lo e vier a meus aposentos, você será, a meus olhos, o irmão caçula do conde de Chaulnes, isto é, o filho do meu velho amigo duque.

Julien não compreendeu muito bem do que se tratava; na mesma noite, experimentou uma visita com o traje azul. O marquês tratou-o como a um igual. Julien tinha um coração capaz de sentir a verdadeira polidez, mas não fazia ideia das nuanças. Teria jurado, antes desse capricho do marquês, que era impossível ser recebido por ele com mais consideração. Que admirável talento!, pensou Julien; quando levantou-se para sair, o marquês desculpou-se de não poder acompanhá-lo por causa da gota.
Este pensamento singular ocupou Julien: estaria ele zombando de mim?, pensou. Foi pedir conselho ao abade Pirard que, menos polido que o marquês, respondeu-lhe apenas assobiando e falando de outra coisa. Na manhã seguinte, Julien apresentou-se ao marquês de traje preto, com sua pasta e as cartas por assinar. Foi recebido à maneira antiga. À noite, de traje azul, o tom foi completamente diferente e tão polido quanto na véspera.

– Já que não se aborrece demais com as visitas que tem a bondade de fazer a um pobre velho enfermo, disse-lhe o marquês, deveria falar-me de todos os pequenos incidentes de sua vida, mas de maneira franca e sem pensar noutra coisa do que em contar claramente e de forma divertida. Pois é preciso divertir-se, disse o marquês; só isso é real na vida. Um homem não pode salvar-me a vida na guerra todo dia, ou dar-me um presente de um milhão todo dia. Mas se eu tivesse aqui Rivarol, junto à minha espreguiçadeira, todo dia ele me pouparia uma hora de sofrimento e de tédio. Estive muitas vezes com ele em Hamburgo, durante a emigração.

E o marquês contou a Julien as anedotas de Rivarol com os hamburgueses, que se reuniam em quatro para compreender um dito espirituoso.
O sr. de La Mole, reduzido à companhia daquele padrezinho, quis incentivá-lo, atiçando o orgulho de Julien. Já que lhe pediam a verdade, Julien resolveu dizer tudo, mas calando duas coisas: sua admiração fanática por um nome que causava mau humor ao marquês, e a perfeita incredulidade que não combinava muito bem com um futuro padre. Seu pequeno incidente com o cavaleiro de Beauvoisis veio muito a propósito. O marquês riu até as lágrimas da cena no café da rua Saint-Honoré, com o cocheiro que lhe lançava as piores injúrias. Foi uma época de franqueza perfeita nas relações entre o patrão e o protegido.
O sr. de La Mole interessou-se por aquele caráter singular. No começo, acolhia os ridículos de Julien, a fim de divertir-se; logo achou mais interessante corrigir muito suavemente as falsas maneiras de ver do jovem. Os outros provincianos que chegam em Paris admiram tudo, pensava o marquês; este odeia tudo. Os outros têm afetação demais, este não a tem suficientemente, e os tolos acham-no um tolo.
O ataque de gota prolongou-se com os frios do inverno e durou vários meses.
As pessoas afeiçoam-se a um cão de raça, dizia-se o marquês, por que tanta vergonha de afeiçoar-me a esse padrezinho? Ele é original. Trato-o como um filho; pois bem! Onde está o inconveniente? Esse capricho, se durar, custar-me-á um diamante de quinhentos luíses em meu testamento.
Estando o marquês seguro do caráter firme de seu protegido, a cada dia ele o encarregava de algum novo negócio.
Julien observou, com espanto, que sucedia àquele grande senhor dar-lhe ordens contraditórias sobre o mesmo objeto.
Isso podia comprometê-lo gravemente. Julien resolveu não mais trabalhar com ele sem trazer um registro no qual escrevia as ordens, e o marquês as rubricava. Julien tomara um auxiliar que transcrevia as decisões relativas a cada negócio num registro particular. Esse registro continha também a cópia de todas as cartas.
Tal ideia pareceu a princípio o cúmulo do ridículo e do tédio. Mas em menos de dois meses o marquês percebeu-lhe as vantagens. Julien propôs-lhe contratar um empregado que saía da casa de um banqueiro, e que registraria em partidas dobradas todas as receitas e todas as despesas das terras que Julien estava encarregado de administrar.
Essas medidas esclareceram de tal maneira, aos olhos do marquês, seus próprios negócios, que ele pôde dar-se o prazer de empreender duas ou três novas especulações sem a ajuda do testa de ferro que o roubava.

– Pegue três mil francos para você, disse ele um dia ao jovem secretário.

– Senhor, minha conduta pode ser caluniada.

– Que devo fazer então?, retomou o marquês, irritado.

– Escrever de próprio punho no registro a decisão que tomou; essa decisão me dará uma soma de três mil francos. De resto, foi o abade Pirard que teve a ideia dessa contabilidade.

O sr. de La Mole, com a cara aborrecida do mar quês de Moncade ouvindo as contas do sr. Poisson, seu intendente, escreveu a decisão. [1]
À noite, quando Julien aparecia de traje azul, nunca se falava de negócios. As bondades do marquês eram tão lisonjeiras para o amor-próprio sempre sofredor de nosso herói que ele logo sentiu, contra sua vontade, uma espécie de afeição por aquele velho amável. Não que Julien fosse sensível, como o entendem em Paris; mas ele não era um monstro, e ninguém, desde a morte do velho cirurgião-mor, lhe falara com tanta bondade. Ele observava com espanto que o marquês tinha, em relação a seu amor-próprio, atenções de cortesia que ele jamais encontrara no velho cirurgião. Compreendeu, enfim, que o cirurgião tinha mais orgulho de sua medalha que o marquês de sua fita azul. O pai do marquês era um nobre importante.
Certo dia, ao final de uma audiência matinal, com seu traje preto de negócios, Julien divertiu o marquês, que o reteve por duas horas e fez questão de dar-lhe alguns títulos bancários que seu testa de ferro acabava de trazer-lhe da Bolsa.

– Espero, senhor marquês, não me afastar do profundo respeito que lhe devo, suplicando que me permita uma palavra.

– Fale, meu amigo.

– Que o senhor marquês digne-se aceitar minha recusa desse presente. Não é ao homem de traje preto que ele é dirigido, e ele estragaria completamente as maneiras que o senhor tem a bondade de tolerar no homem de traje azul. Fez um cumprimento muito respeitoso e saiu sem olhar.

Essa atitude divertiu o marquês, que a relatou à noite ao abade Pirard.

– Devo confessar-lhe finalmente uma coisa, meu caro abade. Conheço o nascimento de Julien e autorizo-o a não mais guardar segredo comigo sobre essa confidência.

Seu procedimento desta manhã é nobre, pensou o marquês, e eu o enobreço.
Algum tempo depois, o marquês pôde enfim sair.

– Vá passar dois meses em Londres, disse ele a Julien. Os correios extraordinários e os outros levarão até você as cartas que recebo com minhas anotações. Redigirá as respostas e as enviará dentro de suas cartas. Calculei que o atraso será de apenas cinco dias.

Na carruagem a caminho de Calais, Julien surpreendia-se com a futilidade dos pretensos negócios para os quais fora enviado.
Não diremos com que sentimento de ódio e quase de horror ele tocou o solo inglês. Conhecemos sua louca paixão por Bonaparte. Ele via em cada oficial um sir Hudson Lowe, em cada nobre um lorde Bathurst, ordenando as infâmias de Santa Helena e recebendo como recompensa dez anos de ministério.
Em Londres, ele conheceu enfim a alta fatuidade. Ligara-se com jovens da nobreza russa, que o iniciaram.

– Você é predestinado, meu caro Sorel, eles diziam, possui naturalmente uma expressão de rosto fria e a mil léguas da sensação presente que tanto buscamos adquirir.

– Você não compreendeu seu século, dizia-lhe o príncipe Korasoff: faça sempre o contrário do que esperam de você. Eis aí, realmente, a única religião da época. Não seja nem louco nem afetado, pois então esperariam loucuras e afetações de você, e o preceito não seria mais cumprido.

Julien cobriu-se de glória um dia, no salão do duque de Fitz-Folke, que o convidara a jantar juntamente com o príncipe Korasoff. Os convidados esperaram durante uma hora. A maneira como Julien conduziu-se em meio às vinte pessoas que esperavam é ainda citada entre os jovens secretários da embaixada em Londres. Sua cara foi impagável.
Ele quis conhecer, apesar de seus amigos dândis, o célebre Philippe Vane, o único filósofo que a Inglaterra produziu depois de Locke. Encontrou-o terminando seu sétimo ano de prisão. A aristocracia não brinca neste país, pensou Julien; além disso, Vane foi desonrado, vilipendia do etc.
Julien achou-o um tipo bem-humorado; a raiva à aristocracia o desentediava. Aí está, pensou Julien ao sair da prisão, o único homem alegre que vi na Inglaterra.
A ideia mais útil aos tiranos é a de Deus, dissera-lhe Vane...
Suprimimos o resto do sistema como cínico.
Ao regressar, o sr. de La Mole perguntou-lhe:

– Que ideia divertida me traz da Inglaterra?... Ele permanecia calado.

– Que ideia traz, divertida ou não?, insistiu o marquês.

– Primeiro, disse Julien, o inglês mais sábio é louco uma hora por dia; é visitado pelo demônio do suicídio, que é o deus do país. Segundo: o espírito e o gênio perdem vinte e cinco por cento de seu valor ao desembarcarem na Inglaterra. Terceiro: nada no mundo é mais belo, admirável, enternecedor, do que as paisagens inglesas.

– Agora é minha vez, disse o marquês. Primeiro: por que foi dizer, no baile na casa do embaixador da Rússia, que há na França trezentos mil jovens de vinte e cinco anos que desejam apaixonadamente a guerra? Acredita que isso é um prazer para os reis?

– Não se sabe como agir ao falar com nossos grandes diplomatas, disse Julien. Eles têm a mania de iniciar discussões sérias. Se nos limitamos aos lugares-comuns dos jornais, passamos por tolos. Se nos permitimos algo de verdadeiro e de novo, ficam espantados, não sabem o que responder e, no dia seguinte, às sete horas, mandam dizer pelo primeiro secretário da embaixada que fomos inconvenientes.

– Nada mal, disse o marquês, rindo. De resto, aposto que não adivinhou o que foi fazer na Inglaterra, senhor homem profundo.

– Perdoe-me, retomou Julien; fui lá para jantar uma vez por semana na casa do embaixador do rei, que é o mais polido dos homens.

– Você foi buscar esta medalha aqui, disse-lhe o mar quês. Não quero fazê-lo abandonar seu traje preto, e estou acostumado ao tom divertido que adotei com o homem que veste o traje azul. Até segunda ordem, ouça bem isto: quando eu vir essa medalha, você será o filho caçula de meu amigo, o duque de Chaulnes, que, sem que o saiba, está há seis meses na diplomacia. Veja bem, acrescentou o marquês num tom muito sério e cortando os agradecimentos, não quero de modo nenhum tirá-lo de sua condição. Isso é sempre um erro e uma desgraça, tanto para o protetor quanto para o protegido. Quando meus processos o aborrecerem, ou quando não me convier mais, solicitarei para você uma boa paróquia, como a do nosso amigo abade Pirard, e nada mais, acrescentou o marquês de maneira bastante seca.

Essa medalha fez inflar o orgulho de Julien; ele passou a falar muito mais. Acreditou-se menos ofendido e visado por aquelas frases suscetíveis de alguma explicação pouco polida que, numa conversa animada, podem ser ditas por qualquer um.

Essa medalha lhe valeu uma visita singular: foi a do sr. barão de Valenod, que vinha a Paris agradecer ao ministério seu baronato e entender-se com ele. Ia ser nomea do prefeito de Verrières em substituição ao sr. de Rênal.
Julien riu muito, interiormente, quando o sr. de Valenod deu-lhe a entender que fora descoberto que o sr. de Rênal era um jacobino. O fato é que, numa reeleição que se preparava, o novo barão era o candidato do ministério, e no colégio eleitoral do departamento, em verdade muito conservador, o sr. de Rênal tinha o apoio dos liberais.
Em vão Julien tentou saber alguma coisa da sra. de Rênal; o barão pareceu lembrar-se da antiga rivalidade deles e foi impenetrável. Acabou por pedir a Julien o voto de seu pai nas próximas eleições. Julien prometeu escrever.

– O senhor deveria, cavalheiro, apresentar-me ao sr. marquês de La Mole.

De fato, eu deveria, pensou Julien; mas um patife como este!...

– Em verdade, respondeu, sou muito insignificante na mansão de La Mole para encarregarme de apresentações.

Julien contava tudo ao marquês: à noite relatou-lhe a pretensão de Valenod, bem como seus atos e atitudes desde 1814.

– Você não apenas me apresentará amanhã o novo barão, disse-lhe o sr. de La Mole com seriedade, como também o convido a jantar depois de amanhã. Ele será um de nossos novos prefeitos.

– Nesse caso, tornou Julien friamente, peço o cargo de diretor do asilo de mendicidade para meu pai.

– Assim é que se fala, disse o marquês retomando o ar alegre; concedido; achei que viria com lições de moral. Está começando a aprender.

O sr. de Valenod informou a Julien que o titular da loteria de Verrières falecera há pouco: Julien achou divertido dar esse cargo ao sr. de Cholin, aquele velho imbecil cuja petição encontrara outrora no quarto de sr. de La Mole. O marquês riu com muito gosto da petição que Julien recitou, ao fazê-lo assinar a carta que solicitava aquele cargo ao ministro das Finanças.
Logo que o sr. de Cholin foi nomeado, Julien ficou sabendo que o cargo fora solicitado pela câmara do departamento para o sr. Gros, o célebre geômetra: esse homem generoso tinha apenas mil e quatrocentos francos de renda, e todo ano emprestava seiscentos francos ao titular agora falecido, para ajudá-lo a manter a família.
Julien ficou espantado com o que fez. Isto não é nada, pensou, terei de fazer muitas outras injustiças se quiser vencer, e ainda por cima saber ocultá-las sob belas frases sentimentais. Pobre sr. Gros! Ele é que merecia a medalha, eu que a tenho, e devo agir de acordo com o governo que me condecora.

continua página 196...

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[1] Alusão à peça Escola dos burgueses (1728), de Allainval. (N.T.)

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ADVERTÊNCIA DO EDITOR

Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.

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Henri-Marie Beylemais conhecido como Stendhal (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 — Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.
Órfão de mãe desde 1789, criou-se entre seu pai e sua tia. Rejeitou as virtudes monárquicas e religiosas que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção de seu pai. A partir de 1796 foi aluno da Escola central de Grenoble e em 1799 conseguiu o primeiro prêmio de matemática. Viajou a Paris para ingressar na Escola Politécnica, mas adoeceu e não pôde se apresentar à prova de acesso. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protetor, começou a trabalhar no ministério de Guerra.
Enviado pelo exército como ajudante do general Michaud, em 1800 descobriu a Itália, país que tomou como sua pátria de escolha. Desenganado da vida militar, abandonou o exército em 1801. Entre os salões e teatros parisienses, sempre apaixonado de uma mulher diferente, começou (sem sucesso) a cultivar ambições literárias. Em precária situação econômica, Daru lhe conseguiu um novo posto como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu entre 1806 e 1808. Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Em 1814, após queda do corso, se exilou na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana. Publicou seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu Roma, Nápoles e Florença, um ensaio mais original, onde mistura a crítica com recordações pessoais, no que utilizou por primeira vez o pseudônimo de Stendhal. O governo austríaco lhe acusou de apoiar o movimento independentista italiano, pelo que abandonou Milão em 1821, passou por Londres e se instalou de novo em Paris, quando terminou a perseguição aos aliados de Napoleão.
"Dandy" afamado, frequentava os salões de maneira assídua, enquanto sobrevivia com os rendimentos obtidos com as suas colaborações em algumas revistas literárias inglesas. Em 1822 publicou Sobre o amor, ensaio baseado em boa parte nas suas próprias experiências e no qual exprimia ideias bastante avançadas; destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo que o espírito, adaptando a realidade aos seus desejos, cobre de perfeições o objeto do desejo.
Estabeleceu o seu renome de escritor graças à Vida de Rossini e às duas partes de seu Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a atriz Clémentine Curial, que durou até 1826, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e Itália e redigiu a sua primeira novela, Armance. Em 1828, sem dinheiro nem sucesso literário, solicitou um posto na Biblioteca Real, que não lhe foi concedido; afundado numa péssima situação económica, a morte do conde de Daru, no ano seguinte, afetou-o particularmente. Superou este período difícil graças aos cargos de cônsul que obteve primeiro em Trieste e mais tarde em Civitavecchia, enquanto se entregava sem reservas à literatura.
Em 1830 aparece sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo direto e objetivo da narração. Em 1839 publicou A Cartuxa de Parma, muito mais novelesca do que a sua obra anterior, que escreveu em apenas dois meses e que por sua espontaneidade constitui uma confissão poética extraordinariamente sincera, ainda que só tivesse recebido o elogio de Honoré de Balzac.
Ambas são novelas de aprendizagem e partilham rasgos românticos e realistas; nelas aparece um novo tipo de herói, tipicamente moderno, caracterizado pelo seu isolamento da sociedade e o seu confronto com as suas convenções e ideais, no que muito possivelmente se reflete em parte a personalidade do próprio Stendhal.
Outra importante obra de Stendhal é Napoleão, na qual o escritor narra momentos importantes da vida do grande general Bonaparte. Como o próprio Stendhal descreve no início deste livro, havia na época (1837) uma carência de registos referentes ao período da carreira militar de Napoleão, sobretudo a sua atuação nas várias batalhas na Itália. Dessa forma, e também porque Stendhal era um admirador incondicional do corso, a obra prioriza a emergência de Bonaparte no cenário militar, entre os anos de 1796 e 1797 nas batalhas italianas. Declarou, certa vez, que não considerava morrer na rua algo indigno e, curiosamente, faleceu de um ataque de apoplexia, na rua, sem concluir a sua última obra, Lamiel, que foi publicada muito depois da sua morte.
O reconhecimento da obra de Stendhal, como ele mesmo previu, só se iniciou cerca de cinquenta anos após sua morte, ocorrida em 1842, na cidade de Paris.

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