caridade é uma brisa morna
Ensaio 127Bzp – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
a villa grita qui num precisa das cigarra, É tudo puta!, e repete os grito, Não é preciso cantar a alegria de estar viva a vida!, e grita otra veiz, A formiga não canta e a abelha só faz zumbir!, se cala pra oiá na sua volta antes de continuá a lição de bem-vivê, queria tê mais jeito de falá, sê escutado e sê visto, mais por enquanto basta os ouvido da dona rosinha, Os dois bichinho trabalham e não cantam, sabem que é preciso fazerem a sua parte. A alegria dos dois é ter trabalho, ter o que fazer, já teve tempo qui dona rosinha pensava sê uma cigarra, mais achô meió desacostumá os pensamento de cantoria, Dona Rosinha, precisamos de mais trabalho porque sem trabalho não tem comida. Alegria não enche a barriga, o siô augusto fez com a clareza das palavra o ditado pra sê copiado e decorado, Vivendo ou morrendo estamos aqui de passagem para trabalhar. O trabalho é a nossa redenção!
pra sê bem-vista na villa é preciso sê abelha, formiga ou larva, as gente de bem da villa diz qui num precisa das cantoria das poesia pra tê encantamento com a vida, Ninguém foge do destino no barranco, dona Rosinha. Mas uma caridade – aqui, ali e lá – pode aliviar o peso das costas.
caridade é uma brisa morna qui num faz tempestade pra mudá a luta dusqui tem contra usqui num tem; essa briga num tem conciliamento, lá uma veiz qui otra pode tê apaziguamento, mais nunca vi tê juntação pruqui os caridoso precisa tê sobrando pra fazê a esmola da misericórdia
é um embaraço complicado sem fundo o abismo do cobiçoso lucrativo: quem num tem quando tem qué acumulá uqui passô tê, qué fazê sobrá pra guardá tudo amontoado, é isso, pra tê sobra o caridoso precisa acumulá na sua volta o abandono, desamparo e desproteção com munta indiferença e uma dose controlada de hostilidade pra desmanchá qualqué vontade ou agitação descontrolada
o caridoso se alimenta da servidão e da obediência, num se revolta contra a chibata nem arranca das mão do carrasco as tira do açoite, num consegue vê o mundo além do seu mundo, reza com o livro decorado nas mão enquanto usóio fica cravado nas cara qui num é branca sendo atormentada e castigada, Só com um bom corretivo vão se livrar das coisas ruins, e num faz nada pra impedimento daquele sofrimento, Coisa boa é que não fez, e reza muntu pra tê paz pru seu curação desalmado, tirano e covarde, reza pras coisa na villa risonha ficá como sempre foi e jura quié pra meió
o caridoso num pisca, mais chora muntu
depois do castigo ofertado, ele desce o corpo do tronco e alivia as tira recortada com unguento caridoso, oferece a cura depois de permití o castigo, Assim não vai adoecer dos cortes, vai cicatrizar melhor e mais rápido, logo vai estar pronto para o trabalho!
num pega na chibata, mais tumbém num segura firme a mão qui se assanha com uso do castigo
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é bão lê tumbém:
histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio