O Festival de Besteira
O Maior Festival de Besteira que já Assolou e voltou Assolar o País
O homem é atropelado na rua ou cai fulminado por um ataque cardíaco. Pode morrer de indigestão ou pode morrer de fome, não importa. Depois da morte todos são iguais e lá fica aquele corpo estirado no asfalto, logo cercado por duas velas acesas, que mãos piedosas e incógnitas providenciam com impressionante presteza.
O Maior Festival de Besteira que já Assolou e voltou Assolar o País
Por trás do biombo
O homem é atropelado na rua ou cai fulminado por um ataque cardíaco. Pode morrer de indigestão ou pode morrer de fome, não importa. Depois da morte todos são iguais e lá fica aquele corpo estirado no asfalto, logo cercado por duas velas acesas, que mãos piedosas e incógnitas providenciam com impressionante presteza.
O homem está morto e os curiosos o rodeiam, dividindo-se entre retardatários curiosos e prestativos informantes.
— Como é que foi, hem?
— Ele sentiu-se mal, coitado. Nós sentamos ele no meio-fio, mas ele acabou morrendo.
— Pobrezinho!
A nossa imperturbável e deficiente polícia se incumbe de amainar o espírito do próximo; o seu sentimento de solidariedade. O falecido pode morrer à hora que for que ficará estirado na calçada, exposto à curiosidade pública, porque as autoridades policiais só vão aparecer depois que o caso já caminhou para o perigoso terreno da galhofa e o falecido já goza da intimidade dos que passam. Já não há mais aquele amontoado de gente à sua volta; apenas um ou outro curioso se detém por um instante, espia e parte. Já queimaram as velas que iluminaram sua alma na subida aos céus; enfim, o defunto virou vaca. Um cara que tinha ido pra lá, pouco depois do momento fatal, e que estava voltando pra cá algumas horas mais tarde, vê o corpo espichado no chão e berra:
— Puxa… Ainda não fizeram o carreto desse boneco!
Os que ouvem acham graça. A presença da morte já é da intimidade de todos e todos aceitam o desrespeito com o sorriso desanuviador. No dia seguinte os jornais comentam o fato e terminam a notícia com as palavras de sempre: “O corpo do extinto ficou durante horas exposto à curiosidade pública, porque a perícia demorou a chegar”.
Agora aparece o projeto do deputado Fioravante Fraga. Vejam que beleza! O projeto obriga as delegacias distritais a contarem permanentemente com um biombo, para esconder os que morrem nas vias públicas. Como se isso adiantasse. Se a polícia é que chega atrasada, tá na cara que se ela trouxer o biombo, este também chega atrasado, pombas! De qualquer maneira, o noticiário policial vai variar o final da notícia: “O corpo do extinto ficou durante horas exposto à curiosidade pública, porque a polícia demorou a chegar com o biombo”.
Continua... o festival de besteiras
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Leia também:
Stanislaw PP - FeBeAPá: O Festival de Besteira (1)
Stanislaw PP - FeBeAPá: O Festival de Besteira (2)
Stanislaw PP - FeBeAPá: O Festival de Besteira (3)
Stanislaw PP - FeBeAPá: O Festival de Besteira (4)
Stanislaw PP - FeBeAPá: O puxa-saquismo desvairado
Stanislaw PP - FeBeAPá: Meio a meio
Stanislaw PP - FeBeAPá: O informe secreto
Stanislaw PP - FeBeAPá: Nas tuberosidades isquiáticas
Stanislaw PP - FeBeAPá: A conspiração
Stanislaw PP - FeBeAPá: Desrespeito à região glútea
Stanislaw PP - FeBeAPá: Garotinho corrupto
Stanislaw PP - FeBeAPá: Depósito bancário
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SÉRGIO PORTO nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu na mesma cidade em 1968. Foi cronista, radialista, homem de teatro e TV, compositor. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros.
SÉRGIO PORTO nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu na mesma cidade em 1968. Foi cronista, radialista, homem de teatro e TV, compositor. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros.
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